A bancária Ana Carolina de Oliveira, mãe de Isabella Nardoni, relembrou como recebeu a notícia sobre a queda da filha e de como Anna Carolina Jatobá, madrasta condenada pelo assassinato, gritava desesperada. Em entrevista ao podcast “Ticaracaticast”, dos humoristas Marcos Chiesa (Bola) e Carioca, na terça-feira (22), ela também contou que chegou a ver a menina respirando enquanto aguardava pelo socorro (veja no vídeo abaixo).
“Foi ela [Anna Carolina Jatobá] quem me ligou. Ela já estava gritando: ‘Ela caiu, ela caiu, ela caiu. Jogaram...’. Não dava para entender, porque ela gritava, de verdade, ela gritava muito. E aí eu perguntei: ‘Onde vocês estão?’. Assim, foi tudo muito rápido”, lembrou a mãe de Isabela, que pensou que a filha tinha caído na piscina. ”Para você ver como dava para eu entender bem pouco do que ela falava. Então ela disse que estavam na casa dele”.
O caso ocorreu no dia 29 de março de 2008. Como estava em uma comemoração na casa de uma amiga, nas proximidades do apartamento de Alexandre Nardoni, pai da menina, ela chegou rapidamente ao local. A bancária revelou que percebeu que a filha ainda respirava.
“Quando eu cheguei, desci do carro com ele ainda em movimento, nem esperei a parada (..) Eu não lembro como entrei no prédio...foi um pico de emoção muito forte. Não tenho essa cena guardada, [mas] quando entrei, você sobe uma escada e tem um gramado, que era onde ela estava (...) Quando cheguei, vi que ela estava respirando, a minha esperança estava ali. Eu tinha o meu fio de esperança vendo ela respirar”, relembrou ela.
“Ai todo mundo que estava comigo ligou, eu liguei, e acho que a ambulância levou uns cinco minutos pra chegar. Não sei dizer. E ele [Alexandre] estava lá, ela lá dentro e gritava, gritava. O filho deles estava lá. Então eu falava com ela [Isabella] e, quando chegou a ambulância, eu estava muito nervosa (...) mas foi desesperador, pois tive que ir na frente na ambulância. Então não sei se ela morreu na ambulância ou se foi no hospital”, lembrou.
Apesar da esperança da mãe, a menina acabou tendo a morte confirmada no hospital. Conforme a investigação policial, ela foi asfixiada e jogada do sexto andar de um prédio, na Zona Norte da capital paulista.
Documentário relembra o caso
O documentário “Isabella: O Caso Nardoni”, que estreou no último dia 17 na Netflix, relembra o crime que chocou o país em 2008. Além de trazer depoimentos fortes da mãe e avó da menina, a produção também relembra como foi o julgamento de Anna Carolina Jatobá e Alexandre Nardoni, que foram condenados pelo assassinato. No entanto, em alguns pontos, fica no ar uma dúvida sobre até onde a madrasta teve culpa no crime.
A produção revela que, no início, Ana Carolina Oliveira não desconfiava que o pai e a madrasta podiam ter cometido o crime. No entanto, ao longo das investigações, os fatos foram sendo revelados pela investigação policial e a mãe ressaltou que só queria buscar justiça.
Chamou a atenção no documentário o fato de, durante as investigações, o casal Nardoni não falar muito sobre a dor da perda de Isabella e por tentar atribuir a culpa a um suposto invasor. No entanto, segundo a polícia, não há dúvidas de que os dois cometeram o assassinato. Eles negam o crime até hoje.
É exatamente sobre essa sustentação da inocência durante anos que o advogado Roberto Podval, que defende o casal Nardoni, questionou se, de fato, eles são culpados. Além disso, o defensor afirmou que, durante o julgamento, a acusação não conseguiu provar quem matou a menina e quem a jogou pela janela, deixando claro que houve a condenação, apesar dessa lacuna nunca explicada pela investigação policial.
Já Ilana Casoy, que é escritora e criminóloga, fala no documentário sobre como Alexandre Nardoni era o “dominante” na relação com Anna Jatobá e destaca que há indícios de que ela era vítima de violência patrimonial, já que é a família do marido que tem dinheiro e, até hoje, sustenta seus filhos.
Dessa forma, por questões financeiras, fica no ar a dúvida dos motivos de até agora Jatobá manter o relacionamento e não culpar o marido pelo crime. Desde que deixou o presídio para cumprir o regime aberto, há dois meses, a madrasta mora em um apartamento de luxo do sogro, Antonio Nardoni, em Santana, na Zona Norte de São Paulo.
Julgamento e condenação
Os telespectadores também podem relembrar no documentário como foi o julgamento do casal, sendo que a madrasta pegou 26 anos de prisão. Já Alexandre foi condenado a 30 anos de prisão em regime fechado.
Anna Jatobá ficou 15 anos na Penitenciária Santa Maria Eufrásia Pelletier, a P1 feminina de Tremembé, sendo que em 13 deles trabalhou em uma oficina de costura. Há dois meses, ela obteve a progressão de pena para o regime aberto.
Antes da progressão de pena, ela passou por um processo para avaliar sua capacidade de reintegração na sociedade, entre eles um exame psiquiátrico, no qual afirmou que mantinha uma relação de afeto com a enteada. “Quando ela ficava comigo, eu cuidava como se fosse a minha filha”, disse ela durante o exame, segundo revelado pelo site G1.
Durante a avaliação, ela também revelou que fez uma tatuagem em homenagem a Isabella, a Alexandre Nardoni e seus dois filhos durante uma saída temporária. Sobre seu casamento, disse que ainda mantém relacionamento com o marido e que eles se encontraram durante saídas temporárias e conversavam por meio de cartas.
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) recorreu contra o benefício concedido a Jatobá, mas o recurso ainda não foi julgado.
Já Alexandre Nardoni cumpre pena na Penitenciária Dr. José Augusto César Salgado, conhecida como P2 de Tremembé. Em 2019, ele também já obteve o benefício do regime semiaberto, podendo fazer saidinhas temporárias. Mas ele passa a maior parte do tempo estudando dentro do presídio.
Morte de Isabella Nardoni
Isabella Nardoni tinha cinco anos quando foi jogada pelo pai e pela madrasta da janela de um apartamento que ficava no sexto andar do Edifício London, no dia 29 de março de 2008.
Inicialmente eles alegaram que foi uma queda acidental, mas a investigação apurou que a criança apresentava marcas de que tinha sido agredida e morta antes de ser arremessada.
O Ministério Público destacou durante o julgamento do casal que as provas periciais obtidas pela Polícia Civil não deixavam dúvidas sobre a autoria do assassinato. A acusação destacou que a madrasta esganou Isabella e, em seguida, o casal cortou a tela de proteção da janela e o pai jogou o corpo da criança.
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