A defesa da família da jovem Livia Gabriele Da Silva Matos, de 19 anos, que morreu após um encontro com o jogador sub-20 do Corinthians Dimas Cândido de Oliveira Filho, de 18, afirma que o atleta mudou versão sobre os fatos no segundo depoimento que prestou à Polícia Civil.
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Conforme o advogado Alfredo Porcer disse ao site UOL, inicialmente o rapaz disse que eles mantiveram uma relação sexual e, quando pretendiam ter a segunda, percebeu que ela desmaiou. Porém, quando foi ouvido novamente, ele teria dito que a jovem passou mal durante o primeiro ato sexual.
“Há uma inconsistência no depoimento do jovem atleta. [...] O que eu observei foi que ele disse que teve uma primeira relação, descansou e conversou. Imagina-se que teve um tempo para isso. Aí, ele foi ter uma segunda relação quando notou que a jovem estava desmaiada. No depoimento de ontem [quarta-feira,7], ele disse que foi somente uma vez que ele percebeu que ela não estava em condições de continuar o ato”, afirmou o advogado.
Porcer ressaltou que essa “inconsistência” nas falas do jogador podem ajudar a esclarecer o momento em que a lesão na região vaginal da jovem ocorreu.
“O rompimento aconteceu, mas a maneira como isso se deu é só pelos laudos complementares. No primeiro momento ele disse que teria uma segunda relação, mas ele não chegou a ter. Quando ele foi ter a segunda, ela estava desmaiada — e ele não narra isso no segundo depoimento, ele disse que foi uma relação sexual só.”
O advogado Tiago Lenoir, que defende Dimas, foi procurado pela reportagem, mas não quis se pronunciar sobre o assunto.
Troca de mensagens
O advogado da família de Livia destacou, ainda, que a linha do tempo sobre o que ocorreu naquele dia também é importante para entender como tudo aconteceu. A garota trocava mensagens com uma irmã e parou de responder pouco depois de chegar ao apartamento do jogador.
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“A filha do meio, a Luana, manteve contato com a Livia até, mais ou menos, 18h07. A partir daí, ela não obteve mais resposta porque elas conversavam pelo WhatsApp, eram muito próximas. Isso pode ser um fator determinante de horário, porque ela não respondeu mais às mensagens da irmã cerca de 15 minutos depois que entrou no local”, disse o advogado.
O pai da jovem, Rubens de Chagas Matos esteve na 5ª Delegacia de Defesa da Mulher, no Tatuapé, na Zona Leste de São Paulo, na manhã de quinta-feira (8), quando entregou o celular e o prontuário médico da filha à polícia.
O defensor da família destacou que o documento do hospital comprova que a jovem sofreu uma lesão de cinco centímetros na região vaginal.
Novo depoimento do jogador
Na última quarta-feira, Dimas esteve na delegacia e prestou depoimento à polícia por quase oito horas sobre os momentos que passou com a jovem. Na ocasião, o rapaz disse que tentou reanimar a vítima por 21 minutos, fazendo massagens cardíacas, até a chegada da equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Em entrevista à “CNN Brasil”, o advogado do jogador citou problemas que aconteceram durante o atendimento prestado à Livia. “Eles [socorristas] colocaram ela em um cobertor, em um pano, e desceram com ela até a ambulância do Samu. Nesse intervalo houve uma série de problemas no elevador. A maca também não subiu até o apartamento. Saíram com ela nesse pano, nesse intervalo ela chega a cair”, contou Tiago Lenoir.
O defensor também questionou a demora para a chegada da equipe, tempo no qual Dimas tentou fazer de tudo para salvar a vida da jovem. “Não estou criando uma cortina de fumaça. Mas o que tem que ser verificado é o tempo de resgate. É comum fazer um menino de 18 anos fazendo a ressuscitação dela? Os atendentes do Samu estão preparados para emergências ginecológicas?”, questionou Lenoir.
A reportagem mostrou trechos de conversas entre socorristas do Samu que participaram do atendimento e eles reclamavam da dificuldade de acesso ao apartamento do jogador. Entre os pontos citados foi de que o prédio contava com apenas um elevador funcionando e a equipe precisou ficar esperando, pois carregava equipamentos para o socorro.
Em nota enviada à “CNN Brasil”, o Samu informou que “o caso está sob investigação policial e que permanece à disposição das autoridades de segurança.”
Morte da jovem
Livia, que era estudante de enfermagem, morreu no último dia 30. O atestado de óbito apontou que a causa da morte foi uma ruptura na região genital. Agora, a investigação aguarda os laudos de três exames para saber o que causou essa lesão.
O atestado de óbito, emitido pelo Hospital Municipal do Tatuapé, a vítima sofreu uma ruptura de uma membrana no “saco de Douglas”, que é uma região localizada na pelve, na parte de baixo do abdômen, entre o útero e o reto. O corte, de cinco centímetros, foi responsável por uma forte hemorragia. Enquanto era socorrida, a garota sofreu quatro paradas cardiorrespiratórias e não resistiu.
Assim, a polícia aguarda a conclusão dos exames necroscópico, toxicológico e sexológico para descobrir qual foi a causa da lesão genital. A corporação também analisa o histórico de saúde da vítima e a investigação não descarta a hipótese de que tenha ocorrido uma “fatalidade”.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), os laudos do Instituto Médico Legal (IML) ainda estão em fase de conclusão e devem ser divulgados em até 30 dias. No entanto, por conta da investigação sobre a morte suspeita, a expectativa é que essa liberação ocorra o mais rápido possível.
Por enquanto, Dimas consta como investigado, mas não como suspeito pela morte de Livia. A defesa ressalta que ele não cometeu nenhum crime e está muito abalado com a situação.
“Ele não cometeu crime nenhum, não matou essa garota. Nunca se envolveu em nenhuma ocorrência policial, nenhum problema fora do futebol. Filho exemplar, amigos de todos. Ele está sendo tratado como testemunha de uma morte desconhecida, não praticou nenhum crime”, ressaltou Lenoir.
O Sport Club Corinthians Paulista informou, em nota, que “está ciente dos acontecimentos que envolveram um de seus atletas da base, aguarda a investigação dos fatos e está à disposição para colaborar com as autoridades.”
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