Ex-sogras de Erika de Souza Vieira Nunes, de 42 anos, que foi presa após levar Paulo Roberto Braga, de 68, a uma agência bancária em Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, afirmam que ela sempre teve uma relação “problemática” com familiares. De acordo com a polícia, os indícios apontam que o idoso tinha morrido cerca de duas horas antes de chegar ao local. Já a defesa alega que o falecimento ocorreu dentro do banco.
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O relato das ex-sogras foram feitos à coluna “Segredos do Crime”, do jornal “O Globo”. Na declaração, uma delas, que não quer ser identificada, contou que Erika tem dois ex-maridos e, das relações, teve seis filhos. Segundo a ex-sogra, ela vive da pensão alimentícia obtida dos ex-companheiros e acumula atritos com eles.
“Ela é muito estranha, maluca mesmo. Sempre pensou só nela. Ela é péssima esposa, péssima mãe. Os filhos tinham micose pelo corpo, porque ela não cuida deles. Meu filho sofreu muito com ela, para que nada faltasse dentro de casa. Ela vive hoje da pensão que os maridos deixaram para os filhos, vive de extorquir os ex-maridos”, afirmou a ex-sogra.
A mãe de outro ex-companheiro de Erika relatou que ela traiu seu filho e, por isso, ele se divorciou dela. Além disso, a ex-sogra diz que a mulher nunca se preocupou em trabalhar ou manter os devidos cuidados com os filhos, como a frequência escolar, por exemplo. Ela teria tentado impedir o pai de ver as crianças.
“Não sou amiga dela, mas também não sou inimiga. Ela nunca trabalhou. Não faz nada. Já fez lipoaspiração e outras cirurgias. Não sei onde arruma dinheiro”, questionou a ex-sogra.
Erika está presa desde a tarde de terça-feira (16), quando levou o tio para sacar um empréstimo em um banco. Um vídeo, gravado por funcionários da agência, mostra Braga sentado em uma cadeira de rodas, visivelmente desacordado. A mulher segurava a mão do idoso e pedia para que ele assinasse um documento, da mesma forma que constava em seu RG. Em um determinado momento, a cabeça dele cai para trás e ela levanta para frente.
Apesar das tentativas dela de que o idoso segurasse uma caneta para assinar o documento, ele não reage. “Tio Paulo, está ouvindo? O senhor precisa assinar. Se o senhor não assinar, não tem como. Eu não posso assinar pelo senhor, tem que ser o senhor. O que eu posso fazer, eu faço”, disse Érika no vídeo. “Assina para não me dar mais dor de cabeça, eu não aguento mais.”
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Na sequência, ela pergunta para as funcionárias do banco se alguma delas viu o “tio” segurar a porta do banco, dizendo que ele tinha sim forças para fazer a assinatura. Porém, as atendentes dizem não ter visto e uma delas afirma: “Ele não está bem não” (assista abaixo).
Uma equipe do Samu foi acionada, pois as funcionárias do banco pensaram que o idoso estivesse passando mal. Quando os socorristas chegaram, no entanto, constataram que o homem estava morto.
“As pessoas do banco acharam que ele estivesse doente, passando mal, e chamaram o Samu. O médico do Samu, ao chegar no local, constatou que ele estava em óbito. E aparentemente, há algumas horas. Ou seja, ele já chegou morto ao banco”, destacou o delegado Fábio Luiz, responsável pelas investigações.
O que disse Erika à polícia?
Após ser presa em flagrante, Erika disse em depoimento que Braga é seu tio e que ela era sua cuidadora. O idoso tinha sido internado em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e, na última segunda-feira (15), teve alta. Assim, no dia seguinte, ela o levou ao banco.
A mulher também afirmou que o empréstimo no valor de R$ 17 mil, que ela tentava sacar, foi feito a pedido do tio, que queria comprar uma TV e fazer uma reforma na casa em que morava. A solicitação já tinha sido pré-aprovada, mas o homem tinha que ir até a agência bancária para liberar.
Erika reafirmou que o tio estava vivo e consciente quando eles saíram de casa na terça-feira (16). Ela só percebeu que algo tinha mudado já dentro do banco, quando ele parou de responder. Ela tentou acordá-lo, mas ela não reagiu mais.
A advogada Ana Carla de Souza Correa, que defende a mulher, afirma que o idoso morreu exatamente no momento em que estava no banco.
“Os fatos não aconteceram como foram narrados. O senhor Paulo chegou à unidade bancária vivo. Existem testemunhas que no momento oportuno também serão ouvidas. Ele começou a passar mal, e depois teve todos esses trâmites. Tudo isso vai ser esclarecido e acreditamos na inocência da senhora Erika”, disse ela, em entrevista ao site G1.
Além disso, ao “UOL News”, Ana Carla disse que Erika possui laudos para atestar que tem problemas psiquiátricos. “Sabemos que há doenças que são altamente psicológicas, outras que transitam para uma questão psiquiátrica e outras que beiram à loucura. Não é o caso dela. [No caso da Erika] São situações que transitam entre um abalo psicológico e uma questão de medicamentos controlados no campo psiquiátrico”, disse.
“Temos o CID [Classificação Internacional de Doenças], inclusive dos laudos, dos medicamentos controlados e do receituário, tudo isso comprovado e de anos anteriores”, ressaltou a advogada.
Motorista de app diz que idoso estava vivo
O motorista de aplicativo que levou Erika até o banco disse à polícia que o idoso estava vivo durante o trajeto. O condutor relatou que Braga seguiu no assento do passageiro e que não notou nada de estranho com ele.
Um vídeo, divulgado pelo programa “Balanço Geral”, da RecordTV, mostra o momento em que Erika chega em um carro de aplicativo a um centro comercial, onde fica o banco, e desembarca o idoso. O motorista de aplicativo aparece a ajudando a colocá-lo em uma cadeira de rodas. Veja abaixo:
Ao ser ouvido pela polícia, o motorista de aplicativo disse que a mulher pediu ajuda de duas filhas e de um rapaz para colocar o idoso no carro. “Erika o segurava em um braço e o homem em outro.”
Quando chegaram ao shopping, o condutor diz que ficou esperando a mulher buscar uma cadeira de rodas no subsolo e, enquanto isso, ficou conversando com um funcionário do estabelecimento no estacionamento. O idoso seguia no carro.
Na sequência, o motorista disse que Braga “chegou a segurar na porta do carro” antes do desembarque. Depois disso, a mulher o colocou na cadeira de rodas e eles seguiram na direção do banco.
A polícia também ouviu o rapaz que ajudou Erika a colocar o idoso no carro. Ele é mototaxista e disse que conhece a mulher e o tio de longa data. De acordo com o site UOL, ele também afirmou que Braga estava vivo.
“Quando entrei na casa, Paulo estava deitado na cama. Peguei Paulo pelos braços com a ajuda de Erika, e o levei até dentro do carro. Consegui perceber que ele ainda respirava e tinha forças nas mãos”, disse o rapaz.
O que dizem os laudos periciais?
O laudo de exame de necropsia não confirmou se Braga morreu antes de chegar ao banco ou no local. O perito afirma no documento que o óbito pode ter ocorrido entre 11h30 e 14h30 de terça-feira, mas que ele não tem elementos seguros para dizer, do ponto de vista técnico e científico, se ele faleceu no “trajeto ou interior da agência bancária, ou que foi levado já cadáver à agência bancária.”
O socorrista do Samu foi acionado às 15h, e ao chegar já encontrou o corpo com livores de hipóstase, que são as mudanças de coloração que surgem na pele de cadáveres cerca de duas horas após o falecimento. Em depoimento, ele disse que chegou a fazer uma reanimação cardiorrespiratória, mas o idoso não reagiu.
O delegado Fábio Luiz afirma que a análise preliminar sobre o corpo de Braga mostra que ele morreu deitado, e não sentado. Os exames apontam que os livores cadavéricos se acumularam na nuca. Isso indica que ele estava deitado quando faleceu.
O caso segue em investigação e Erika continua presa por tentativa de furto mediante fraude e vilipêndio de cadáver.