A defesa de Erika de Souza Vieira Nunes, de 42 anos, que foi presa após levar Paulo Roberto Braga, de 68 anos, sem vida a um banco em Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, pediu que a mulher seja mantida em isolamento na penitenciária. Segundo a advogada Ana Carla de Souza Correa, ela foi agredida por outras detentas por conta da grande repercussão do caso.
A agressão teria ocorrido enquanto Erika estava na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, Zona Norte do Rio de Janeiro, antes de ser transferida para o Complexo Penitenciário de Gericinó. Porém, a mulher assinou um termo de declaração da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) negando as agressões. O pedido de isolamento ainda é analisado pela Justiça.
Ana Carla ressaltou, durante o sepultamento do corpo de Braga, no último sábado (20), que Erika teve “um surto de um efeito colateral” por conta da depressão e não percebeu que o idoso estava morto quando o levou ao banco. Ela só teria tido ciência do caso quando o médico do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) fez o atendimento na agência bancária.
Apesar das alegações da defesa, o delegado Fábio Souza, que investiga o caso, afirma que Erika sabia que o idoso tinha “pouco tempo” de vida e, por isso, foi ao banco naquela ocasião.
“Ela foi com o tio ao banco porque percebeu que ele estava no seu último momento de vida, e tentou, antes que ele morresse, retirar esse dinheiro. Só que, antes de chegar ao banco, ele veio a óbito. Ainda assim, ela viu a possibilidade de fazer o saque desse dinheiro, porque era a última chance que ela tinha de tirar esse dinheiro”, ressaltou o delegado, em entrevista ao programa “Fantástico”, da TV Globo.
Souza ressalta que o idoso estava vivo quando saiu de casa e foi levado até um centro comercial em um carro de aplicativo, mas morreu antes de ser levado ao banco. O investigador diz que Erika percebeu isso e ficou conversando com o tio “fingindo normalidade”, o que refuta o argumento da defesa de que a mulher tem problemas psiquiátricos e não sabia o que estava acontecendo.
“Uma pessoa com problema psiquiátrico pode não entender que o tio está morto, mas certamente também não entenderia que tem que ir à agência pegar o dinheiro. A pessoa não pode ter uma consciência seletiva”, ressaltou o delegado.
Erika, que foi indiciada por tentativa de furto mediante fraude e vilipêndio de cadáver, segue cumprindo prisão preventiva, sem prazo determinado.
Filho defende a mãe
A reportagem também conversou com familiares de Erika, que asseguraram que ela não tinha intenção de roubar o dinheiro. Segundo eles, o empréstimo seria feito à pedido do próprio idoso.
“A minha mãe criou seis filhos. E nunca precisou roubar, enganar ninguém para isso. A minha mãe encaminhou os filhos para a vida, e encaminhou muito bem, nos ensinando o caminho dos estudos, o caminho do que é correto. Tanto que, meus irmãos e eu, nós somos formados, bacharel em direito, passamos em concursos, faculdade. A nossa mãe sempre foi nossa inspiração”, disse Lucas Nunes dos Santos, um dos filhos da mulher.
A família argumenta que o empréstimo foi solicitado pelo idoso no último dia 25 de março e o valor seria usado em uma obra na casa em que Braga morava com Erika e os três filhos dela, em Bangu. Um ex-marido da mulher, que trabalha como pedreiro, confirmou que estava em tratativas para realizar a obra.
“Dei o orçamento para ela de todo o material, ela queria colocar o piso, inclusive falou para mim que queria pintar, queria comprar geladeira, uma televisão nova para poder deixar lá para ele, uma cadeira de roda, uma cama mais confortável para que ele sentisse melhor”, relatou José Geraldo Santos.
Relembre o caso
O caso aconteceu na tarde do último dia 16. As imagens, gravadas por funcionários da agência, mostram Braga dentro do banco, sentado em uma cadeira de rodas, visivelmente desacordado. Erika segurava a mão do idoso e pedia para que ele assinasse um documento, da mesma forma que constava em seu RG. Em um determinado momento, a cabeça dele cai para trás e ela levanta para frente.
Apesar das tentativas dela de que o idoso segurasse uma caneta para assinar o documento, ele não reagiu. “Tio Paulo, está ouvindo? O senhor precisa assinar. Se o senhor não assinar, não tem como. Eu não posso assinar pelo senhor, tem que ser o senhor. O que eu posso fazer, eu faço”, disse Érika no vídeo. “Assina para não me dar mais dor de cabeça, eu não aguento mais.”
Na sequência, ela pergunta para as funcionárias do banco se alguma delas viu o “tio” segurar a porta do banco, dizendo que ele tinha sim forças para fazer a assinatura. Porém, as atendentes dizem não ter visto e uma delas afirma: “Ele não está bem não”.
Depois disso o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi chamado e o médico constatou que o idoso já estava morto. Por conta das mudanças de coloração que surgem na pele, o profissional estimou que a morte tenha ocorrido pelo menos duas horas antes.