O idoso Paulo Roberto Braga, de 68 anos, que foi levado sem vida a um banco em Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, não tinha uma renda fixa e sobrevivia de “bicos”. Os parentes dizem que ele perdeu todos os documentos e demorou a tirar a segunda via, já que era alcoólatra e isso dificultava que fosse atrás de resolver a situação. O idoso morava em uma casa cedida por Erika de Souza Vieira Nunes, de 42, que foi presa ao tentar sacar um empréstimo no nome do homem.
Conforme o bombeiro Lucas Nunes dos Santos, de 27 anos, que é filho de Erika e sobrinho-neto de Paulo, o tio já foi militar do Exército, motorista, apicultor e trabalhou até em mineradora. Porém, há mais de 15 anos não trabalhava com carteira assinada e sobrevivia com recursos obtidos em pequenos trabalhos.
“Desde quando me entendo por gente, o tio Paulo já não trabalhava com carteira assinada porque tinha perdido documentos. Fazia um ‘bico’ ou outro, mas não tinha emprego fixo. Ele tinha problemas com álcool, mas tinha muitos amigos”, disse Lucas, em entrevista ao site UOL.
Segundo o bombeiro, Paulo perdeu a identidade (RG), Carteira de Trabalho e até a Certidão de Nascimento. “Nos últimos anos, conseguimos ofícios na Defensoria Pública para entregar nos cartórios. Mas, devido ao alcoolismo, ele não conseguia ir a esses locais. Por isso, demorou tanto”, relatou o sobrinho-neto.
Em 2023, no entanto, o idoso teve que tirar um novo RG, pois, só com o documento, passou a receber um salário mínimo mensal como ajuda do governo federal. Os parentes dizem que assim, um mês antes, ele mesmo teria feito a solicitação de empréstimo ao banco, que foi pré-aprovado. No último dia 16, quando Erika levou o homem para sacar os R$ 17 mil solicitados, ele apareceu em um vídeo já sem nenhuma reação. A polícia diz que ele morreu horas antes de entrar na agência bancária.
Lucas ressalta que sua mãe enfrenta problemas psiquiátricos, mas sempre cuidou do tio. Ele nega que a mulher tivesse a intenção de roubar o dinheiro, que seria usado para reformar a casa onde o idoso morava e na compra de uma TV para ele.
O sobrinho-neto contou, ainda, que Paulo era vascaíno e muito fã do cantor Roberto Carlos. “Era um sujeito brincalhão, extrovertido e criativo. Gostava de caminhar, de pegar o sol da manhã. E sempre foi família. São memórias que vão permanecer para sempre na nossa vida”, ressaltou Lucas.
Erika, que foi indiciada por tentativa de furto mediante fraude e vilipêndio de cadáver, segue cumprindo prisão preventiva, sem prazo determinado.
Relembre o caso
O caso aconteceu na tarde do último dia 16. As imagens, gravadas por funcionários da agência, mostram Braga dentro do banco, sentado em uma cadeira de rodas, visivelmente desacordado. Erika segurava a mão do idoso e pedia para que ele assinasse um documento, da mesma forma que constava em seu RG. Em um determinado momento, a cabeça dele cai para trás e ela levanta para frente.
Apesar das tentativas dela de que o idoso segurasse uma caneta para assinar o documento, ele não reagiu. “Tio Paulo, está ouvindo? O senhor precisa assinar. Se o senhor não assinar, não tem como. Eu não posso assinar pelo senhor, tem que ser o senhor. O que eu posso fazer, eu faço”, disse Érika no vídeo. “Assina para não me dar mais dor de cabeça, eu não aguento mais.”
Na sequência, ela pergunta para as funcionárias do banco se alguma delas viu o “tio” segurar a porta do banco, dizendo que ele tinha sim forças para fazer a assinatura. Porém, as atendentes dizem não ter visto e uma delas afirma: “Ele não está bem não”.
Depois disso o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi chamado e o médico constatou que o idoso já estava morto. Por conta das mudanças de coloração que surgem na pele, o profissional estimou que a morte tenha ocorrido pelo menos duas horas antes.
Apesar das alegações da defesa de que Erika tem problemas psiquiátricos e não percebeu que Paulo tinha morrido, o delegado Fábio Souza contesta essa versão e diz que ela sabia que o idoso tinha “pouco tempo” de vida e, por isso, foi ao banco naquela ocasião.