Imagens de câmeras corporais dos policiais militares que atenderam a ocorrência do acidente entre um Porsche e um Renault Sandero, na Zona Leste de São Paulo, mostraram quando um bombeiro conversa com um dos PMs e fala sobre a possível embriaguez do empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, de 24 anos, que conduzia o carro de luxo. Outro vídeo mostra que o rapaz foi liberado do local sem realizar o teste do bafômetro.
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“Estavam um pouco etilizados esses caras, né”, disse o bombeiro no vídeo. “Sim, sim”, respondeu o policial militar (assista abaixo). O mesmo agente chegou a questionar um colega se ele tinha um etilômetro para realizar o teste do bafômetro, mas recebeu resposta negativa.
Conforme a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), não são todas as viaturas da PM que são obrigadas a ter o teste do bafômetro. Porém, em casos de acidentes, os agentes que não portam o equipamento solicitam apoio de outra equipe.
Uma sindicância da Polícia Militar concluiu que os agentes erraram ao liberar o empresário sem a realização do teste. A SSP-SP destacou que os policiais militares envolvidos deverão ser responsabilizados.
“A Secretaria de Segurança Pública informa que a sindicância aberta pela Polícia Militar concluiu, a partir da análise das imagens de câmeras corporais, que houve falha de procedimento dos policiais que atenderam a ocorrência pelo fato do motorista não ter sido submetido ao teste de alcoolemia. Diante disso, foi aberto um procedimento para a responsabilização dos policiais”, destacou a pasta.
Vídeo mostra empresário antes da fuga
Outro vídeo das body cams dos PMs comprova que Fernando foi liberado sem fazer o teste do bafômetro. O vídeo mostra o rapaz ao lado da mãe, enquanto os agentes faziam perguntas sobre a colisão, que resultou na morte do motorista de aplicativo Ornaldo Viana, de 52 anos.
As imagens mostram quando os agentes perceberam que Fernando estava indo embora do local do acidente e foram atrás dele. Ao perguntarem se ele conduzia o Porsche, o rapaz ficou sem responder e a mãe dele, Daniela Cristina de Medeiros Andrade, disse que precisa levá-lo urgentemente ao hospital “para fazer uma tomografia”. Bastante nervosa, a genitora insistia a todo momento para ir embora com o empresário.
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Os agentes pediram os documentos do rapaz e afirmaram que precisam preencher a ocorrência. Testemunhas passavam e é possível ouvir uma dizendo que o Porsche “estava em alta velocidade”. Fernando afirmava que estava bem, mas foi rebatido por Daniela, que disse: “seu nariz está sangrando”. Questionado sobre a batida, o rapaz alegava que não “se lembrava de nada”.
O empresário perguntou sobre o amigo, o estudante de medicina Marcus Vinicius Machado Rocha, que ficou ferido no acidente e foi socorrido ao Hospital São Luiz. A mãe de Fernando afirmou aos policiais que também iria levar o filho para lá e ressaltou que o rapaz bateu a cabeça e precisava ser examinado. “Cada minuto conta”, pontuava Daniela.
Na sequência, após preencher os dados da ocorrência, uma policial pediu que o empresário assinasse o documento por meio de digital e perguntou para a mãe para onde ela pretendia levá-lo. “Pro São Luiz”, respondeu a genitora, que logo questionou se eles podiam seguir. “Pode ir”, disse a PM.
A defesa do empresário não foi encontrada para comentar o assunto até a publicação desta reportagem.
Empresário nega embriaguez
Apesar da promessa da mãe, Fernando não foi para o hospital e só compareceu a uma delegacia mais de 38 horas após o acidente, quando já não era mais possível fazer o teste do bafômetro. O empresário nega ter feito consumo de bebida alcoólica antes da batida, o que foi confirmado pela namorada dele.
Porém, o jovem Marcus Vinicius contou à polícia que o empresário consumiu alguns drinques e “deu uma acelerada” ao volante antes do acidente.
O estudante de medicina contou à polícia, seguindo o depoimento de sua namorada, eles estiveram com Fernando e sua companheira na noite do dia 30 de março deste ano em um restaurante, onde consumiram bebidas alcoólicas. Depois disso, seguiram para uma casa de pôquer e, na saída, o empresário estava “alterado por conta das bebidas”, mas não queria que ninguém dirigisse seu Porsche.
Assim, ele se ofereceu para ir embora com Fernando, já na madrugada de 31 de março, para evitar que ele fizesse “besteira”. Marcus Vinicius ressaltou, ainda, que Fernando deixou a casa de pôquer dirigindo de “forma tranquila”, mas em um determinado momento “deu uma acelerada”, quando acabou atingindo a traseira do Renault Sandero.
Outras testemunhas do acidente também disseram à polícia que viram Fernando “cambaleando e com a voz pastosa”, com sinais visíveis de embriaguez. Uma mulher, que chegou ao local logo após a batida, afirma que tinham três garrafas de vidro dentro do carro de luxo.
3º pedido de prisão
A Polícia Civil concluiu o inquérito sobre o acidente e indiciou Fernando por homicídio por dolo eventual, lesão corporal e fuga do local da batida. Além disso, a corporação pediu à Justiça, pela terceira vez, a prisão do rapaz.
Conforme a investigação, o empresário assumiu o risco de matar ao dirigir a mais de 150 km/h na Avenida Salim Farah Maluf, no Tatuapé, onde a velocidade máxima permitida é de 50 km/h. Ele atingiu a traseira do Sandero, matando Ornaldo e ferindo gravemente seu amigo.
A polícia já tinha pedido a detenção de Fernando em duas ocasiões, o que foi negado pela Justiça. O novo pedido de prisão preventiva, sem prazo determinado, ainda será analisado.
Agora o inquérito policial foi encaminhado ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP), que deve decidir se vai denunciar o empresário à Justiça. O órgão já acompanha o caso e solicitou a quebra do sigilo bancário do rapaz, para saber se ele comprou bebidas alcoólicas na data do acidente, e também a realização de uma perícia usando um drone e um scanner laser 3D.