O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) entrou com um novo pedido para que Alexandre Nardoni, condenado pela morte da filha Isabella Nardoni, realize outro teste psicológico antes da decisão sobre a progressão para o regime aberto. O detento já passou por um exame criminológico e obteve aval para obter o benefício. A medida, no entanto, ainda será avaliada pela Justiça.
A Promotoria pede que Alexandre passe pelo “Teste de Rorschach”, popularmente chamado de teste do “borrão de tinta”, pois ele “apresentou elementos de possível transtorno de personalidade”. Além disso, o MP-SP ressalta que, mesmo condenado, ele segue negando a autoria do crime até os dias atuais, o que gera “dúvida sobre sua real capacidade de ser reintegrado de forma segura à sociedade”.
“O que mais me preocupa neste caso é que sua sentença só termina 2035. É cedo demais para ele ser libertado”, disse o promotor de Justiça Luiz Marcelo Negrini, em entrevista ao jornalista Ulisses Campbell, na coluna “True Crime”, do jornal “O Globo”. Foi ele quem solicitou à Justiça que Alexandre só progrida ao regime aberto após ser submetido ao “Teste de Rorschach”.
“Em certos casos, nos quais o comportamento do condenado é duvidoso ou ele nega o crime, como é o caso do Nardoni, o exame criminológico por si só realmente não é suficiente, especialmente porque ele possui um nível intelectual significativamente superior à média da população carcerária. No exame criminológico, um detento mais astuto pode ludibriar os avaliadores. No caso dele, como o resultado do exame criminológico foi favorável, já solicitamos a realização do teste de Rorschach”, explicou o promotor.
O pedido da avaliação foi prolatado junto ao Departamento Estadual de Execuções Criminais (DEECRIM) da 9ª Região Administrativa Judiciária. Assim, um juiz ainda vai decidir se determina ou não o novo teste, mas não há prazo para o resultado da análise.
A defesa de Alexandre não foi encontrada para comentar o assunto até a publicação desta reportagem.
Exame criminológico
Recentemente, Alexandre foi avaliado por uma assistente social, uma psicóloga e um psiquiatra, no exame criminológico, quando reafirmou ser inocente e negou o fim do casamento com Anna Carolina Jatobá, que também cumpre pena pelo caso.
De acordo com o site G1, Alexandre foi questionado pelos profissionais sobre o assassinato de Isabella, que tinha 5 anos quando foi morta e jogada do sexto andar de um prédio em São Paulo, em março de 2008. Ele voltou a alegar inocência, como sempre fez desde o crime.
“[Ele] demonstra ter consciência da gravidade da acusação, porém não é possível abordar o sentimento de arrependimento, visto que o apenado permanece negando a autoria do delito pelo qual está condenado. Ainda assim, informa que buscou cumprir a sentença da melhor forma possível, através de atividades laborterápicas, pedagógicas e intelectuais”, escreveu a psicóloga na análise.
A tese de inocência também foi sustentada para a assistente social. “Demonstra ter consciência da gravidade do fato, contudo, não expressa arrependimento de algo que não cometera. Seus sentimentos são de dor pela perda da filha. Ao longo dos anos vem interpondo recursos, reunindo elementos novos, alguns não considerados, visando provar sua inocência e chegar ao verdadeiro culpado. Importante enfatizar que seu discurso se mantém inalterado, logo, nega a autoria dos fatos”, destacou a profissional.
O mesmo posicionamento seguiu na análise com o psiquiatra, que escreveu: “sobre o delito, homicídio da própria filha, nega autoria. Afirma que ele e esposa seguem tentando provar inocência, contrataram peritos independentes para buscar opiniões divergentes em relação às lesões encontradas na filha por discordar do laudo do IML. [...] Como não assume autoria, não há que se falar em arrependimento. Frente à ponderação de que o crime provocou grande comoção popular, afirma não saber exatamente o motivo para isso.”
Durante o exame criminológico, os profissionais também avaliaram a personalidade de Alexandre, que hoje está com 45 anos. A psicóloga destacou que ele “manteve uma postura adequada durante a entrevista. Lúcido e globalmente orientado, sem alterações da esfera sensoperceptiva”.
Já a assistente social destacou que ele busca se manter ativo no período em que cumpre pena, trabalhando nos setores de faxina, lavanderia, rouparia, capinagem, além de estar vinculado à Funap (Fundação do Governo de SP), que oferece trabalho aos detentos, desde 2009.
O psiquiatra, por sua vez, destacou que Alexandre se manteve “vigil, [com] postura defensiva, orientado globalmente, [tem] pensamento com conteúdo lógico e organizado, não apresenta alterações da sensopercepção, humor eutímico, [com] afeto hipomodulante, boa articulação verbal, boa capacidade de manter o foco de sua atenção em acordo com sua determinação, inteligência acima da média, impulsividade latente e memória preservada.”
Assim, as análises dos profissionais não encontraram impedimentos para que ele obtenha a progressão de pena para o regime aberto. O resultado do exame criminológico foi remetido à Justiça.
Casamento com Anna Jatobá e planos futuros
Durante o exame criminológico, Alexandre disse que ele e Anna Carolina Jatobá continuam casados. Ele explicou que ela não a visita na cadeia por ainda cumprir pena em regime aberto. Porém, eles sempre estão juntos durante as saídas temporárias e também costumam trocar cartas.
“Durante as saídas temporárias, desfruta dos dias em família, na companhia da esposa, filhos, irmãos e de seus pais”, destacou a avaliação. “O forte vínculo familiar o sustentou e tem contribuído para o seu retorno ao convívio social”.
Alexandre também disse que, caso obtenha a liberdade, passará a morar com o pai, Antonio Nardoni, e um irmão adolescente, já que a mãe dele morreu e quer prestar apoio aos familiares. Além disso, deve trabalhar na empresa Maarc Empreendimentos e Participações LTDA, cujo dono é o genitor.
“O avaliando possui capacidade para criar e manter vínculos (…), fator importante para sua reintegração”, anotaram os profissionais, no relatório conjunto. “Durante o período de privação, vem aderindo à dinâmica institucional com ótimas avaliações, exibindo controle adequado sob seus impulsos, contanto com apoio da rede vincular para a retomada da vida”.
Condenação
Alexandre Nardoni foi condenado a 30 anos, 2 meses e 20 dias de prisão, mas conseguiu reduzir alguns dias com leitura de livros e trabalho na prisão. Atualmente ele está em regime semiaberto e tem direito a saídas temporárias.
No último dia 15 de março, ele deixou a Penitenciária de Tremembé, no interior de São Paulo, e marcou presença como padrinho em um casamento, na Capital. Ele estava ao lado de Anna Carolina Jatobá, que também pegou 26 anos e oito meses de prisão pelo crime, mas cumpre regime aberto desde junho do ano passado.
A defesa de Alexandre aponta que ele cumpriu no último dia 6 de abril o “lapso temporal” necessário na prisão para ser promovido ao regime mais brando e, por isso, está apto a voltar a conviver em sociedade. Assim, entrou com o pedido para progressão de pena para o regime aberto.
Morte de Isabella Nardoni
Isabella Nardoni tinha cinco anos quando foi jogada pelo pai e pela madrasta da janela de um apartamento que ficava no sexto andar do Edifício London, no dia 29 de março de 2008, segundo a Justiça.
Inicialmente eles alegaram que foi uma queda acidental, mas a investigação apurou que a criança apresentava marcas de que tinha sido agredida e morta antes de ser arremessada.
O Ministério Público destacou durante o julgamento do casal que as provas periciais obtidas pela Polícia Civil não deixavam dúvidas sobre a autoria do assassinato. A acusação destacou que a madrasta esganou Isabella e, em seguida, o casal cortou a tela de proteção da janela e o pai jogou o corpo da criança.