A artista plástica Kawara Welch, de 23 anos, que é acusada por um médico de persegui-lo por pelo menos cinco anos, tem uma longa ficha criminal. De acordo com o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), além do crime de “stalking” contra o profissional, ela responde a processos por roubo, ameaça, furto e lesão corporal.
Conforme reportagem do site G1, os crimes teriam ocorrido entre os anos de 2021 e 2024, ou seja, depois de ela ter começado a perseguir o médico, em 2019. Ela também responde por atrapalhar a Justiça com atos de denunciação caluniosa e coação no curso do processo.
Kawara foi presa no último dia 8 de maio, em uma universidade de Uberlândia (MG), após ficar foragida desde março do ano passado. A detenção, no caso, foi por conta do roubo do celular da esposa do médico, depois que ela invadiu a clínica dele. A artista plástica passou por audiência de custódia na terça-feira (21), quando teve a prisão mantida pela Justiça.
A defesa dela informou que vai entrar com um pedido de habeas corpus. Já sobre os crimes denunciados pelo médico, o advogado ressalta que eles mantiveram sim um relacionamento, mesmo o homem negando.

Chips de alunos
A Polícia Civil diz que Kawara usou dois mil números telefônicos de alunos da rede municipal de Ituiutaba (MG) para conseguir cometer o crime de “stalking” contra o médico. A corporação apura se ela conseguiu acesso aos chips por conta própria ou se teve ajuda de algum hacker.
“Os números utilizados pela mulher para disparar essas mensagens faziam parte desse programa municipal dos tablets que foram disponibilizados pela prefeitura. Então entendemos que ou ela tinha uma ajuda de um hacker ou ela tinha especialização para isso sozinha”, disse o delegado Rafael Faria, responsável pelo caso, em entrevista à TV Globo.
A Prefeitura de Ituiutaba esclareceu que os chips de telefone em questão, com conexão de internet, foram distribuídos para os alunos da rede municipal durante a pandemia de covid-19 para a realização das aulas remotas. A administração destacou que foi avisada pela polícia sobre a utilização dos números por Kawara e colabora com as investigações.
A prefeitura suspeita que a mulher utilizava um software que clonava números de telefones de diversos locais, assim, conseguiu acesso aos chips dos alunos da rede municipal. Porém, a polícia ainda apura essa questão.
Sobre essa denúncia, a defesa de Kawara negou que ela tenha usado os dois mil números de telefone para stalkear o médico e ressaltou que ela não tem conhecimentos técnicos para cometer tais atos.
Perseguição
O médico diz que conheceu a garota em 2018, quando ela apresentava um quadro de depressão, e posteriormente ela buscou atendimento em sua clínica. A partir de 2019, ela passou a cercá-lo de todas as formas possíveis em busca de um relacionamento amoroso, inclusive, fazendo ligações insistentes para sua esposa e filho.
Em entrevista ao “Fantástico”, da TV Globo, o médico, que preferiu se manter em anonimato, falou sobre o drama que viveu. “Ela chegou a me passar 1.300 mensagens em um dia. E mais de 500 ligações num único dia. Eu troquei de número de celular umas três ou quatro vezes, mas parei de trocar porque vi que era totalmente inútil. Ela tinha uma facilidade incrível em achar meu número novo”, disse ele.
Com o passar do tempo, o homem afirma que Kawara também passou a fazer ligações insistentes para a esposa e o filho dele. Além disso, ela postava montagens nas redes sociais para simular que ela e o médico mantinham um relacionamento. Ao longo dos anos, a família registrou cerca de 30 boletins de ocorrência contra a jovem por ameaça, perturbação do sossego e trabalho, lesão corporal e extorsão.
Ao perceber que o médico não a correspondia amorosamente, Kawara passou a adotar uma postura mais agressiva. “Ela teve acesso ao meu celular e começou a passar mensagens e fotos perturbadoras mesmo, amarrando lençol, corda no pescoço, se despedia de mim. Eu entrei em pânico”, disse ele.
Em 2022, a jovem chegou a invadir a clínica do médico, enquanto uma paciente era atendida, e a atacou. No ano seguinte, ela voltou a entrar no local sem permissão e fugiu roubando o celular da esposa da vítima. “Tinha momentos de horrores, que eu entrava em pânico, porque ou ela aparecia ou ela fazia alguma coisa inesperada.”
Em março de 2023, Kawara foi presa pelo roubo do celular, mas pagou fiança de R$ 3,5 mil e passou a responder ao processo em liberdade. Pouco tempo depois, ela teve a prisão preventiva decretada por descumprir as medidas cautelares e, desde então, estava foragida. Na semana passada, ela foi presa em uma faculdade em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, em Minas Gerais, onde estudava nutrição.
O delegado diz que não há indícios de que os dois mantiveram algum relacionamento. “Ela tinha ilusões de que esse relacionamento realmente existia entre eles, isso fazia com que ela frequentasse os mesmos ambientes que a vítima. Ela o perseguia de forma reiterada. Não há nenhum indício da existência de um relacionamento entre eles, ou que o médico prometesse algo a ela, ou que ficasse dando indiretas a ela”, ressaltou Faria.

