Familiares da empresária e ex-sinhazinha do boi-bumbá Garantido Djidja Cardoso, de 32 anos, que foi encontrada morta em Manaus, no Amazonas, denunciaram que foram impedidos de ajudá-la. Os parentes afirmaram que a mãe dela, Cleusimar Cardoso, e o irmão, Ademar, não permitiaram a aproximação para o devido tratamento. A dupla está presa suspeita de liderar um grupo que obrigava o uso de drogas em rituais religiosos.
ANÚNCIO
Conforme o relato dos parentes, Djidja passou a ser usuária há cerca de um ano, quando eles queriam buscar um tratamento que a ajudasse a abandonar os vícios. Porém, Cleusimar e Ademar não permitiram. Com o passar dos meses, a ex-sinhazinha foi ficando cada vez mais debilitada.
“Ela ficou muito dependente. Então ela não vivia mais sem. Ela estava usando fralda, não conseguia mais se levantar, as pernas inchadas. A Djidja não queria que as pessoas vissem ela daquele jeito. Ela já estava com vergonha da aparência dela, mas para eles [mãe e irmão] era normal”, disse a prima, que pediu anonimato, em entrevista ao site G1.
No último dia 24 de maio, outra prima chegou a registrar um boletim de ocorrência contra a mãe e o irmão da empresária, alegando que ela era mantida em cárcere privado. A mulher era impedida de receber visitas e, segundo as parentes, vivia sob o efeito de drogas.
“Ela ficou muito dependente. Então ela não vivia mais sem. Várias vezes a gente tentou fazer alguma coisa, nós fizemos BOs. Porém, a mãe e os funcionários proibiram nossa entrada. A gente não podia fazer nada”, lamentou a prima.
Djidja, que representou a sinhazinha do Boi Garantido no Festival Folclórico de Parintins, foi encontrada morta em casa no último dia 28. O corpo dela passou por exames necroscópicos no Instituto Médico Legal (IML), mas os laudos com as causas do falecimento ainda não foram divulgados.
Drogas e rituais
Segundo a polícia, Djidja também era investigada por envolvimento em um esquema de compra, distribuição e aplicação da substância cetamina, que é um anestésico de uso humano e veterinário, mas que se tornou uma droga ilícita.
ANÚNCIO
Após se aposentar da função de sinhazinha, ela fundou um salão de beleza, chamado Belle Femme, com a mãe e o irmão. Segundo a polícia, a suspeita é que eles usassem o estabelecimento para o comércio dos entorpecentes. Além deles, também são investigados três funcionários do salão: Claudiele Santos da Silva, Marlisson Vasconcelos Dantas e Verônica da Costa Seixas.
Conforme a investigação, a família de Djidja era responsável pela seita “Pai, Mãe e Vida”, que promovia o uso e comercialização da cetamina, em Manaus. O grupo também fazia aplicação forçada da substância em integrantes e obrigavam os funcionários do Belle Femme a participar da doutrina.
A polícia destacou que as investigações indicam que algumas vítimas do grupo foram submetidas a violência sexual e aborto.
A suspeita é que Djidja possa ter sofrido a overdose durante um dos rituais. “Eles induziam os seguidores a acreditar que, com a utilização compulsória da cetamina iriam transcender a outra dimensão e alcançar um plano superior e a salvação”, explicou o delegado Danniel Antony.
Prisões
Ao todo, a Justiça do Amazonas expediu cinco mandados de prisão preventiva contra os familiares de Djidja e funcionários do salão de beleza. Eles são acusados pelos crimes tráfico de drogas, associação para o tráfico, e também por estupro, sendo esse mandado expedido contra Ademar Cardoso.
Após buscas, a mãe e o irmão da ex-sinhazinha foram presos na tarde da última quinta-feira (30), quando estavam sob o efeito de entorpecentes e tentaram fugir da polícia. Um vídeo registrou o momento da captura (assista abaixo).
Na casa deles, a polícia apreendeu materiais como seringas, anestésicos, medicamentos de uso controlado, além de frascos de cetamina. Computadores e uma mala também foram recolhidos e serão encaminhados para perícia. Também foi presa Verônica da Costa Seixas, que trabalhava como gerente dos salões da família.
Horas depois, Claudiele Santos da Silva, que atuava como maquiadora, se entregou à polícia. Ela é investigada com base nos artigos 131 e 284 da Lei 2848, que trata da prática de transmitir doenças por meio de material contaminado e também prescrever, ministrar ou aplicar qualquer substância.
Quanto ao cabeleireiro Marlisson Vasconcelos Dantas, o quinto investigado, não há confirmação se ele foi preso ou se entregou.
As defesas dos suspeitos não foram encontradas para comentar o assunto até a publicação desta reportagem.