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Tortura e cárcere: 89 pessoas são resgatadas de clínica para dependentes químicos em São Paulo

Cinco funcionários foram detidos; pastor que gerenciava o local disse que desconhecia maus-tratos

Local foi fechado e internos socorridos
Internos foram resgatados com marcas de agressão em clínica para dependentes químicos, na Zona Sul de SP (Reprodução/TV Globo)

Uma operação montada após denúncias de tortura e cárcere privado resgatou 89 pessoas em uma clínica para dependentes químicos, na Ilha do Bororé, na Zona Sul de São Paulo. Entre os internos estavam 24 jovens, com idades entre 17 e 24 anos, sendo que alguns deles apresentavam marcas de agressões. Um pastor e sua esposa, que gerenciavam o local, afirmam que desconheciam os maus-tratos.

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O flagrante ocorreu na última terça-feira (25), durante uma operação conjunta realizada pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e a Polícia Militar. Cinco funcionários que estavam na clínica, que apresentava péssimo estado de conservação, foram detidos em flagrante.

Conforme as denúncias recebidas pela Promotoria de Infância e Juventude de São Paulo, a comunidade terapêutica “Instituto Viver Melhor” mantinha os internos em locais inadequados e impediam que eles deixassem o local. Além disso, os dependentes químicos eram enviados ao local, que cobrava entre R$ 800 a R$ 1,8 mil de mensalidade, sem nenhum parecer médico.

Quando os internos queriam ir embora, eram ameaçados de pagar multas altíssimas e, assim, acabavam impedidos. Um dos jovens resgatados contou que, em uma chácara vizinha à clínica, os internos passavam por uma “triagem”, onde eram agredidos e trancados em salas sem camas e ventilação.

Durante a operação, as autoridades encontraram um rapaz com várias marcas de agressão e queimaduras de cigarro. Ele estava bastante ofegante, sob o efeito de calmantes, e com suspeita de fratura em uma costela. Outro interno apresentava sangramento na região do ouvido.

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionado e socorreu os dois jovens. Eles foram levados para hospitais da Capital. Não há outros detalhes sobre os estados de saúde.

Após a constatação das irregularidades, a clínica foi fechada. Dos cinco funcionários detidos, a Justiça converteu a prisão de três em preventiva. Já os outros dois foram soltos e devem responder ao caso em liberdade.

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O que dizem os responsáveis pela clínica?

A clínica era gerenciada por Girlandro Soares da Silva, conhecido como “Pastor Gil”, e sua esposa Solange Novaes Soares. Ambos são investigados pela Polícia Civil.

Em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”, o advogado Caio Lima Barros, que defende o casal, destacou que eles não sabiam de casos de agressão e maus-tratos. “As denúncias feitas foram realizadas por pacientes novos, que por muita das vezes ainda se encontravam em abstinência de substâncias químicas e não estavam aptos a iniciar o tratamento”, disse.

“Reiteramos que, geralmente, o comportamento de um adicto ao chegar em unidades terapêuticas é constantemente grosseiro, onde por variadas vezes, simulam situações de agressões graves para forçar sua saída (que é voluntária) para retornar às drogas”, continuou o advogado.

Por fim, Barros destacou que os dependentes químicos foram retirados da clínica e deixados na rua “sem auxílio da prefeitura ou vigilância sanitária local”.

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