O líder do Hamas Ismail Haniyeh foi morto em um ataque aéreo na capital iraniana, disseram o Irã e o grupo armado na manhã de quarta-feira, 31 de julho, acusando Israel de um assassinato chocante que ameaçava escalar o conflito regional, enquanto os Estados Unidos e outros países tentavam evitar uma guerra regional aberta.
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Num primeiro momento, não houve comentários de Israel, que havia prometido matar Haniyeh e outros líderes do Hamas pelo ataque do grupo ao sul de Israel em 7 de outubro, no qual milicianos liderados pelo Hamas mataram 1.200 pessoas e mantiveram cerca de 250 como reféns.
O ataque ocorreu após Haniyeh comparecer à posse do novo presidente iraniano em Teerã, e apenas algumas horas depois de Israel atacar um comandante da milícia aliada do Irã, o Hezbollah, na capital libanesa, Beirute.
O chamativo assassinato do líder político do Hamas ameaçava ter consequências nos conflitos entrelaçados na região. Especialmente, o ataque em Teerã poderia levar o Irã e Israel a um conflito direto se o Irã retaliar.
"Consideramos esta vingança como nosso dever", disse o aiatolá Alí Jamenei, líder supremo do Irã, em um comunicado em seu site oficial. Israel, afirmou, se preparou para um "castigo severo" ao matar "um convidado querido em nossa casa".
Irã e Israel, acirrados rivais regionais, estiveram perto de uma guerra em abril, quando Israel bombardeou a embaixada iraniana em Damasco. O Irã retaliou e Israel fez o mesmo em um intercâmbio de fogo sem precedentes em seus respectivos territórios, embora os esforços internacionais tenham conseguido conter esse ciclo de retaliações antes que saísse do controle.
A morte de Haniyeh também poderia fazer com que o Hamas abandonasse as negociações que estão em andamento há 10 meses em busca de um cessar-fogo em Gaza, em que os mediadores americanos haviam afirmado que estavam fazendo progressos.
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Além disso, o assassinato poderia agravar as tensões já existentes entre Israel e seu poderoso rival Hezbollah, que diplomatas internacionais estavam tentando conter depois que um foguete matou 12 jovens no fim de semana no território controlado por Israel nas Colinas de Golã.
Na terça-feira à noite, Israel realizou um ataque incomum em Beirute no qual disse ter matado um importante comandante do Hezbollah que supostamente era responsável pelo ataque nas Colinas de Golã. O Hezbollah disse na quarta-feira que ainda estava procurando o corpo de Fouad Shukur entre os escombros do prédio.
Quando jornalistas em Manila perguntaram sobre o incidente em Teerã, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, disse que não tinha "informações adicionais para oferecer", embora tenha expressado sua esperança por uma solução diplomática na fronteira entre Líbano e Israel.
"Não acredito que a guerra seja inevitável", disse. "Acredito que sempre há espaço e oportunidade para a diplomacia, e gostaria de ver as partes aproveitando essas oportunidades".
No entanto, diplomatas internacionais que tentavam desativar as tensões expressaram sua preocupação. Um diplomata ocidental, cujo país trabalhou para impedir uma escalada entre Israel e o Hezbollah, disse que os dois ataques, em Beirute e Teerã, “quase mataram” as esperanças de um cessar-fogo em Gaza e poderiam levar o Oriente Médio a uma “devastadora guerra regional”. O diplomata falou sob condição de anonimato para comentar a delicada situação.
Um porta-voz do exército israelense recusou-se a fazer comentários. Israel geralmente não comenta os assassinatos perpetrados por sua agência de inteligência Mossad ou operações em outros países.
Meios de comunicação iranianos mostraram vídeos nos quais Haniyeh e o presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, se abraçavam após a posse do presidente, na terça-feira. Horas depois, o ataque atingiu a residência que Haniyeh estava usando em Teerã e o matou, de acordo com um comunicado do Hamas.
O grupo citou palavras de Haniyeh sobre como a causa palestina tem "custos" e "estamos prontos para esses custos: o martírio pelo bem da Palestina e pelo bem de Deus Todo-Poderoso, e pelo bem da dignidade desta nação".
Pezeshkian prometeu que seu país "defenderá seu território" e fará com que os agressores "lamentem sua ação covarde".
O braço militar do Hamas disse em um comunicado que o assassinato de Haniyeh "leva a batalha a novas dimensões e terá grandes repercussões em toda a região". Disse que Israel "cometeu um erro de cálculo ao ampliar o círculo de agressão".
Em declarações à AP, um porta-voz do Hamas, Sami Abu Zuhri, disse que o assassinato não afetaria o grupo e que no passado saiu mais forte de crises e assassinatos de líderes.
Haniyeh deixou a Faixa de Gaza em 2019 e viveu exilado no Catar. O principal líder do Hamas em Gaza é Yehya Sinwar, que foi o mentor do ataque de 7 de outubro.
Na Cisjordânia, o presidente palestino Mahmoud Abbas - que conta com apoio internacional - condenou o assassinato de Haniyeh, afirmando que se tratava de um "ato covarde e um evento perigoso". As facções políticas do território ocupado convocaram greves em protesto contra o assassinato.
Em abril, um bombardeio israelense na Faixa de Gaza matou três dos filhos de Haniyeh e quatro de seus netos.
Numa entrevista ao canal via satélite Al Jazeera na época, Haniyeh disse que os assassinatos não iriam pressionar o Hamas a suavizar suas posições durante as negociações de cessar-fogo com Israel.
Entretanto, as Forças de Mobilização Popular do Iraque, uma coalizão de milícias apoiada pelo Irã, afirmopu que um ataque na terça-feira à noite contra uma base a sudoeste de Bagdá matou quatro membros da milícia Kataib Hezbollah.
O grupo acusou os Estados Unidos de estarem por trás do ataque. Kataib Hezbollah, juntamente com outras milícias, têm realizado nos últimos meses ataques contra bases que abrigam tropas americanas no Iraque e na Síria, em retaliação ao apoio de Washington a Israel na guerra de Gaza. Funcionários americanos não fizeram comentários imediatos.
Acredita-se que Israel mantém uma campanha de assassinatos contra cientistas nucleares iranianos e outras pessoas ligadas ao seu programa atômico há anos. Em 2020, um importante cientista nuclear militar iraniano, Mohsen Fakhrizadeh, foi assassinado por uma metralhadora controlada remotamente enquanto viajava de carro nos arredores de Teerã.
Mais de 39.360 palestinos morreram e mais de 90.900 ficaram feridos devido à ofensiva militar lançada por Israel em Gaza em resposta ao ataque de 7 de outubro, de acordo com o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, cuja contagem não distingue entre civis e combatentes.