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Queda de avião em Vinhedo: aeronave ficou quatro meses sem operar após ‘dano estrutural’, diz TV

Avião registrou problemas e passou por ‘reparos’; ele caiu no último dia 9 matando 62 pessoas

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Avião da Voepass caiu no último dia 9 matando 62 pessoas, em Vinhedo, no interior de SP (Reprodução/Redes sociais)

O avião da Voepass que caiu na última sexta-feira (9), em Vinhedo, no interior paulista, matando 62 pessoas, tinha registrado problemas que o deixaram quatro meses sem operar. Segundo revelado pelo “Fantástico”, da TV Globo, desde março, a aeronave vinha enfrentando uma série de paradas para manutenção após falha no sistema hidráulico, no ar-condicionado e contato anormal com a pista.

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Após um cruzamento de dados registrados em órgãos de aviação, a reportagem descobriu que o avião turboélice modelo ATR-72-500 registrou o primeiro problema técnico no dia 11 de março deste ano. Na ocasião, após um voo de Recife (PE) para Salvador (BA), um relatório oficial descreveu falhas no sistema hidráulico durante o voo.

Além disso, durante o pouso, houve um “contato anormal” com a pista. Conforme o “Fantástico”, a cauda da aeronave se chocou com o solo, o que causou um “dano estrutural”. Depois disso, o avião ficou parado na capital baiana até o dia 28 de março, quando foi levado para uma oficina da Voepass em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.

Após passar pelos reparos, o avião voltaria a fazer voos comerciais no dia 9 de julho, quando fez a rota de Ribeirão Preto para Guarulhos, na Grande São Paulo, mas sem passageiros. Neste voo, houve uma despressurização e a aeronave precisou retornar para a oficina, onde ficou sem operar por mais quatro dias.

O avião só voltou a operar normalmente no último dia 13 de julho e seguia em funcionamento, até a queda registrada em Vinhedo. Um dia antes do acidente aéreo, a jornalista Daniela Arbex pegou o avião e fez um relato de que o ar-condicionado não estava funcionando. Ela gravou um vídeo mostrando que passageiros passavam mal e que um deles teve até que tirar a camisa por causa do forte calor.

“Eu fiquei muito angustiada diante daquela situação, porque eu pensei assim, se eles não são capazes de fazer uma manutenção adequada num simples ar-condicionado, será que esse voo é seguro?”, contou a jornalista.

A reportagem ouviu especialistas, que apontaram possíveis causas para a queda do avião. O comandante Ruy Guardiola, pioneiro no uso de ATR no Brasil, afirmou que o fato da aeronave ter passado por tantos problemas técnicos antes do acidente, inclusive o “dano estrutural”, é algo a ser considerado.

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“O problema hidráulico em qualquer aeronave, seja um ATR, seja um boeing, seja um Airbus, ele é altamente significativo. Teve dano estrutural. Que tipo de correção foi efetuada pelo grupo Voepass na sua manutenção, para disponibilizar a aeronave a voo?”, questionou ele, ressaltando que as falhas podem sim ter contribuído para a tragédia.

“Pode ser um fator contribuinte? Pode. Porque não é possível uma aeronave que tem um dano estrutural ser liberada para voo. Isso a investigação agora vai verificar. Tem que verificar”, diz Guardiola.

O especialista também alertou que a presença de gelo na rota é outro ponte importante a ser investigado, já que outros pilotos que passaram pelo mesmo trecho naquele dia, enfrentaram esse problema.

A Polícia Civil, a Polícia Federal e o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) investigam as causas do acidente. As caixas pretas da aeronave foram retiradas e encaminhadas para análise em Brasília.

Avião caiu no último dia 9, matando 62 pessoas
Relatório mostrou que avião sofreu 'dano estrutural' e ficou quatro meses sem operar (Reprodução/TV Globo)

Outros problemas

Há um mês, o piloto Danilo Romano, que comandava o avião que caiu em Vinhedo, tinha relatado um incidente com fogo no motor de uma aeronave da companhia. Em 8 de julho, ele disse que não existia um kit hidráulico para despachar a aeronave.

“O comissário me chamou para avisar que estava percebendo um cheiro estranho e, logo em seguida, me confirmou que o propeller [hélice] estava girando e o motor estava pegando fogo”, dizia um trecho do documento, publicado pelo portal “Leo Dias”.

Em outro trecho, Romano disse que o “comissário confirmou a existência de fumaça saindo da parte dianteira do motor”, mas ressaltou que o mecânico não relatou anormalidade e que a comunicação entre eles era apenas via sinais visuais, “pois o mecânico estava sem o headset para comunicação via intercom”.

Outra aeronave da VoePass teria tido um problema com um dos pneus, que teria estourado durante um pouso, naquela ocasião. Entretanto, o caso não foi documentado.

O que disse a Voepass?

A companhia aérea Voepass Linhas Aéreas, a antiga Passaredo, disse ao “Fantástico” que informações relacionadas à investigação serão restritas à Aeronáutica e outras autoridades. A empresa não deu detalhes sobre as falhas registradas antes da queda.

Sobre o dispositivo antigelo e o ar condicionado, a companhia afirmou que o ATR estava “aeronavegável”, com todos os sistemas requeridos em funcionamento, cumprindo requisitos e exigências das autoridades.

A Voepass ressaltou que cumpre e respeita as legislações trabalhistas, e que o esforço principal da companhia, neste momento de dor, está em apoiar e dar assistência às famílias dos passageiros e tripulantes que estavam a bordo.

O acidente aéreo

O avião bimotor, modelo ATR-72, saiu de Cascavel, no Paraná, às 11h50 da última sexta-feira (9), com destino a Guarulhos, na Grande São Paulo, onde pousaria às 13h45. A capacidade é de 68 passageiros, mas 62 pessoas estavam a bordo, sendo 58 passageiros e quatro tripulantes.

O avião caiu no quintal de uma residência, que fica em um condomínio em Vinhedo, mas nenhuma vítima foi registrada em solo.

Moradores conseguiram registrar o exato momento em que a aeronave rodava no ar e caiu. Na sequência, o avião pegou fogo e nenhum do ocupantes sobreviveu (assista abaixo):

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