A caixa-preta do avião ATR-72 da VoePass, prefixo PS-VPB, que caiu em Vinhedo, no interior de São Paulo, registrou os últimos diálogos na aeronave. De acordo com informações do “Jornal Nacional”, da TV Globo, foi registrada uma pergunta do copiloto Humberto de Campos Alencar e Silva sobre “dar potência”, minutos antes da queda, seguida de muitos gritos. Todos os 62 ocupantes morreram.
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Conforme a reportagem, os técnicos do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) transcreveram duas horas de áudio obtidos da caixa-preta. Em um dos últimos diálogos, Silva percebeu que a aeronave perdia sustentação e questionou o piloto Danilo Santos Romano sobre o que estava acontecendo. Foi quando o copiloto falou que era preciso “dar potência”. Depois disso, segundo a emissora, gritos da tripulação e um forte estrondo encerraram a gravação.
A reportagem destacou, ainda, que um minuto se passou desde que houve a constatação da perda de altitude do avião até o impacto com o solo. Apesar dos áudios gravados, os peritos do Cenipa não conseguiram ouvir sons que indicam quais as causas do acidente. Por enquanto, segue a suspeita de excesso de gelo nas asas, mas nada foi oficialmente confirmado.
Apesar da divulgação do conteúdo da caixa-preta do avião pelo “Jornal Nacional”, a Força Aérea Brasileira (FAB), por meio do Cenipa, negou que veículos de imprensa tiveram acesso ao material.
“Nenhum veículo de imprensa teve acesso aos áudios, transcrições, tampouco aos dados dos gravadores de voo, popularmente conhecidos como caixas-pretas (Cockpit Voice Recorder e Flight Data Recorder) da aeronave de matrícula PS-VPB, envolvida no acidente aeronáutico em Vinhedo (SP), na última sexta-feira (09/08)”, diz o órgão, em nota.
“O Cenipa destaca, ainda, que segue estritamente os protocolos específicos estabelecidos pela Lei nº 7.565/1986 (Código Brasileiro de Aeronáutica - CBA), pelo Decreto nº 9.540/2018 e pelo Anexo 13 à Convenção sobre Aviação Civil Internacional, de 1944. Por fim, a FAB reitera seu compromisso com a transparência e a seriedade na condução das investigações, bem como pelo respeito à dor dos familiares das vítimas envolvidas no acidente”, concluiu o texto.
Investigação do acidente
Peritos do Cenipa fazem as análises da caixa-preta do avião, sendo que o relatório preliminar deve ser concluído em até 30 dias. Já o Instituto Nacional de Criminalísticas (INC) deve apresentar um laudo sobre o local da queda do avião, feito com base em escaneamento 3D, em até 90 dias.
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Depois disso, em até um ano, os peritos do INC devem incluir na análise quais eram as condições da aeronave no momento da queda, quais os “fatores humanos” envolvidos, a cronologia do acidente e dados meteorológicos.
Enquanto isso, a Polícia Federal instaurou um inquérito para apurar a possível responsabilidade criminal pelo acidente e aguarda o relatório do Cenipa e INC. Conforme fontes da corporações ouvidas pelo site “Metrópoles”, não estão descartadas as hipóteses de crime culposo, por negligência ou imprudência, e até crime doloso com dolo eventual, quando se assume o risco de cometê-lo, mesmo que não tenha tido a intenção.
A PF analisa se a aeronave ATR-72 da VoePass, prefixo PS-VPB, estava com manutenção em dia e se todos os equipamentos necessários para o voo funcionavam corretamente. Ex-funcionários da companhia aérea já criticaram as manutenções das aeronaves, sendo que até um palito foi usado em uma ocasião para reparar um botão que aciona o sistema antigelo. Além disso, falaram sobre “danos estruturais” sofridos pela aeronave que caiu, que a fizeram passar quatro meses sem operar neste ano.
Já a Polícia Civil de São Paulo instaurou uma investigação, que vai seguir em sigilo. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), a Delegacia de Vinhedo também apura as eventuais responsabilidades sobre o acidente aéreo.
O Tribunal de Justiça do Estado (TJ-SP) explicou que não houve uma decisão decretando o sigilo e que isso ocorre porque, como a fase atual é de investigação e não de processo judicial, o andamento fica resguardado para garantir direito ao contraditório, caso os investigadores encontrem algum indício de irresponsabilidade.
O acidente aéreo
O avião bimotor, modelo ATR-72, saiu de Cascavel, no Paraná, às 11h50 da última sexta-feira (9), com destino a Guarulhos, na Grande São Paulo, onde pousaria às 13h45. A capacidade é de 68 passageiros, mas 62 pessoas estavam a bordo, sendo 58 passageiros e quatro tripulantes.
Porém, o avião caiu no quintal de uma residência, que fica em um condomínio residencial de Valinhos, mas nenhuma vítima foi registrada em solo.
Moradores conseguiram registrar o exato momento em que a aeronave rodava no ar e caiu. Na sequência, o avião pegou fogo e nenhum do ocupantes sobreviveu (assista abaixo):
Na terça-feira (13), o comandante José Luiz Felício Filho, presidente da companhia aérea Voepass, falou pela primeira vez após o acidente. Em um vídeo, ele prestou solidariedade às famílias das vítimas e ressaltou que os cuidados com as vidas dos passageiros e tripulantes “sempre foi e continuará sendo prioridade número um”. Além disso, reforçou que a empresa segue “as melhores práticas internacionais” de segurança.
Até a noite de quarta-feira (14), a força-tarefa montada no Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo já identificou 60 das 62 vítimas do acidente aéreo. Os peritos aguardam documentações das últimas duas para o devido reconhecimento, sendo que os corpos de 30 pessoas já foram liberados para suas famílias.