Marcos Paulo da Silva, conhecido como “Lúcifer”, que tem causado terror entre detentos em São Paulo ao longo de anos, fez outras revelações durante uma videoconferência com a Justiça enquanto estava na Penitenciária Federal de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul. Além de ressaltar o ódio que sente pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) e reafirmar que matou 50 rivais na cadeia, o detento também explicou a origem de seu apelido e ainda disse que se converteu ao islamismo.
“Fui 20 anos [praticante] de magia negra. Eu era adepto do satanismo, mas de 2010 para cá eu abracei o islamismo. Hoje eu sou muçulmano”, revelou “Lúcifer”. Veja abaixo no vídeo divulgado pela coluna “Na Mira”, do portal “Metrópoles”:
Durante a videoconferência, o juiz questionou “Lúcifer” sobre os homicídios cometidos na cadeia e ele afirmou:
“A nossa luta se sobrepõe a essa liberdade física. É melhor lutar. Prefiro morrer lutando do que viver curvado para os outros. Não vou me curvar a ninguém. A liberdade física é um dos meus últimos planos. A nossa luta é exterminar esses caras. Em qualquer lugar que eu estiver vão morrer, se não for pelas minhas minhas mãos será a mando meu”, garantiu o preso.
O magistrado também quis saber se “Lúcifer” planejava sequestros e mortes de autoridades, o que ele negou: “Somos assassinos de cadeia, matamos faccionados. Não existem autoridades como alvos”, argumentou.
Marcos Paulo foi condenado por vários crimes e hoje cumpre uma pena que ultrapassa os 132 anos de prisão, sendo que já está há 20 anos em reclusão. Questionado pelo juiz na videoconferência se não sentia falta de estar nas ruas, ele foi enfático.
“A liberdade não é só física. Espiritual e psicologicamente eu estou liberto. Fisicamente preso, mas espiritualmente estou livre”, disse o detento, que garantiu que jamais irá “se curvar” aos seus rivais.
Rivalidade com o PCC
“Lúcifer” foi preso pela primeira vez em 1995, quando tinha 19 anos, pelos crimes de furto e roubo. Na cadeia, logo ele passou a integrar o PCC. A atuação no grupo seguiu até 2013, quando ele rompeu com a facção criminosa, alegando que o grupo visava apenas lucros e deixou de proteger os detentos.
A partir daí, segundo a desembargadora Ivana David, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), Marcos Paulo se declarou inimigo do PCC e fundou seu próprio grupo, o “Bonde do Cerol Fininho”. O nome foi escolhido em alusão à prática de usar linhas cortantes usadas em pipas, misturadas com vidro e cola, para derrubar os oponentes.
Ao longo dos anos, dezenas de mortes de presos foram atribuídas ao grupo criminoso, sendo que em alguns casos as vítimas tiveram os abdomens abertos, as vísceras arrancadas e as cabeças decepadas.
Enlouqueceu
Conforme a coluna “Na Mira”, fontes ligadas à segurança pública afirmam que o criminoso foi diagnosticado com psicose e transtorno de personalidade antissocial, mas “enlouqueceu” de verdade e passou a cometer os homicídios com requintes de crueldade.
A desembargadora Ivana David lembra que, após os assassinatos, “Lúcifer” ainda escrevia o nome do seu grupo com sangue das vítimas nas celas.
Um dos casos que mais chamou a atenção ocorreu em 2015, na Penitenciária 1 de Presidente Venceslau, quando os presos Francinilzo Araújo de Souza e Cauê de Almeida foram encontrados mortos com muita brutalidade, sem as cabeças e com as vísceras arrancadas.
Já em 2011, o grupo comandado por ele cometeu outro massacre, matando cinco detentos na Penitenciária de Serra Azul. Mesmo afastado do PCC, o grupo já teria tentado contratá-lo para eliminar desafetos nas penitenciárias.
“Lúcifer” continua sendo uma figura temida pelos detentos e que depende de muita atenção do sistema prisional, que, na tentativa de conter sua violência, o mantém em segurança redobrada e o transfere de cadeia com frequência.
A defesa dele não foi encontrada para comentar o assunto até a publicação desta reportagem.