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‘Tarifa Zero’: proposta eleitoral de transporte público gratuito em São Paulo poderia funcionar?

Diretor de transportes da Fundação Getúlio Vargas explica se a promessa de transporte público diário em SP pode funcionar e o que seria preciso para manter modelo

Tarifa Zero em São Paulo
‘Tarifa Zero’: entenda se o plano de transporte público gratuito iria funcionar ou colapsar a cidade de São Paulo Imagem: reprodução Folha/Leon Rodrigues/SECOM

Com as eleições municipais se aproximando, cada candidato à Prefeitura de São Paulo aposta em discursos e promessas de campanha para atrair o eleitorado. Uma das pautas levantadas, mais uma vez, diz respeito à gratuidade do transporte público na cidade.

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Com programa ‘Domingão Tarifa Zero’ vigente aos domingos nos ônibus da capital desde dezembro de 2023, a Prefeitura viu um aumento de 32% dos passageiros em seis meses, segundo dados da SPTrans.

Já São Caetano do Sul, no ABC Paulista, viu a demanda de passageiros aumentar 320%. Na cidade o programa ‘Tarifa Zero’ acontece de forma contínua, e viu o número de passageiros saltar de 22 mil para 72 mil no período de seis meses.

São Paulo suporta?

Mas será que a gratuidade no transporte público funcionaria de forma diária na maior metrópole da América Latina? Já que a diferença de tamanho entre os munícipios citados é relevante. São Caetano possui um pouco mais de 15km², enquanto São Paulo aproximadamente 1.521 km².

Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes afirma que o desafio é grande. Para ele algo do tipo criaria uma demanda maior de serviço, como os números já apontam.

“Se eu baixar ou zerar esse preço, eu posso colapsar o sistema”, diz o diretor da Fundação Getúlio Vargas, em entrevista exclusiva ao Metro World News Brasil.

Outra análise que deve ser feita, de acordo com Quintella, é a fonte do dinheiro que iria custear os gastos, devido às demandas apresentadas por São Paulo.

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“O poder público tem que avaliar como custear esse sistema. É uma situação desafiadora para o município.”

“Não reflete o que acontece no dia-a-dia”

Como modelo de tarifa zero já adotado em São Paulo aos domingos, o especialista explica que esse tipo mecanismo não reflete o uso nos dias úteis da semana.

“Adotar aos domingos o modelo de tarifa zero é uma situação que talvez não reflita o que pode acontecer adotando o sistema nos dias úteis, numa situação contínua. É uma forma de se estudar, mas não reflete significativamente o que acontece no dia-a-dia”, aponta Marcus.

Ônibus vs Metrô

Outro apontamento do diretor é sobre a gratuidade também em transportes sobre os trilhos. Ele defende a integração entre os meios. “Se ela for aplicada, ela tem que ser abrangente, totalmente integradora entre os modos de transportes”. Caso o modelo seja parcial, ele entende que o projeto não seria mais uma ‘tarifa zero.’

“Eu acho que São Paulo poderia testar uma forma de subsídio mais pesado sobre os ônibus, estudando isso em termos de crescimento gradativo, para ver se pode atingir a tarifa zero no futuro.”

Recurso público é a solução?

O diretor Marcus Quintella conclui dizendo que a situação depende de recursos públicos e dados abertos, que seriam necessários para um estudo mais aprofundado sobre o tema.

“A tarifa zero é subsídio pleno, dinheiro do contribuinte, vem de alguma fonte. Para manter esse sistema em funcionamento precisa de uma avaliação muito rigorosa da eficiência das operações, plena transparência dos valores repassados, saber quanto, efetivamente, está custando, para que a qualidade do serviço oferecido seja cobrada”, concluir o Diretor de Transportes da FGV.

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