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Por que Pablo Marçal sobe tanto nas pesquisas? Cientistas políticos respondem

Para especialistas ouvidos pelo Metro, o candidato que teve ascensão meteórica nas últimas pesquisas pode surpreender nas eleições paulistanas

Para especialistas ouvidos pelo Metro, o candidato que teve ascensão meteórica nas últimas pesquisas pode surpreender nas eleições paulistanas
Para especialistas ouvidos pelo Metro, o candidato que teve ascensão meteórica nas últimas pesquisas pode surpreender nas eleições paulistanas (Reprodução/Redes Sociais)

Que fenômeno explica um candidato azarão em apenas duas semanas bagunçar completamente o cenário das eleições a prefeito da maior cidade da América Latina, saindo do nada e experimentar uma ascensão meteórica nas pesquisas de intenção de votos? Este é Pablo Marçal (PRTB), que domina as discussões eleitorais desde antes de a campanha para Prefeitura de São Paulo começar, no dia 15 de agosto. A resposta, para os cientistas políticos ouvidos com exclusividade pelo Metro World News, é uma só: ele é um fenômeno de comunicação nas redes sociais.

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Pablo Marçal durante debate na Band
Pablo Marçal durante debate na Band (Reprodução/TV Band)

Na pesquisa Datafolha divulgada no dia 22, Marçal simplesmente subiu sete pontos percentuais, chegando a um empate técnico triplo na liderança com Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB).

No levantamento lançado neste dia 26 de agosto pela FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), ele subiu cinco pontos, assumindo isoladamente o terceiro lugar, mas empatado tecnicamente com Nunes, que está em segundo. Boulos é líder nessa pesquisa, que tem margem de erro de 2,5 pontos para cima ou para baixo, a mesma da Datafolha.

Nesse cenário, pode-se imaginar que a liminar concedida pelo juiz Antonio Maria Patiño Zorz, da 1ª Zona Eleitoral, após ação movida pelo PSB, partido da candidata Tabata Amaral, determinando a remoção de todas as suas redes até o final das eleições, colocasse tudo a perder – a campanha de Marçal já recorreu ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral).

“Não me parece são, durante as eleições, impedir um candidato de manter suas redes sociais. É uma aberração. A Justiça às vezes tem tomado decisões difíceis de se entender. O que aconteceu? Ele se colocou como vítima e está se beneficiando imensamente dessa decisão”, opina o cientista político Alessandro Chiarottino, professor de Direito Constitucional e Ciência Política na Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) e diretor da consultoria Antecip, em São Paulo.

Na representação, o PSB solicita a abertura de um inquérito contra Marçal por pagar seguidores que distribuem cortes de seus vídeos nas redes sociais.

E o que fez Marçal: criou contas reservas no Instagram, TikTok, Youtube, Whatsapp, Telegram e Gettr. Afirmou, em nota divulgada no domingo, dia 25 de agosto, que a liminar não “impede a presença do candidato nas plataformas digitais”. Até o fechamento desta reportagem, só no Instagram a conta tinha mais de 3 milhões de seguidores.

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“A Justiça anda numa velocidade, e a rede social é muito mais veloz. É até bom para ele, que fica como vítima. Para ele, foi ótimo”, diz o cientista político Antonio Celso Baeta Minhoto, professor da Fundação Santo André e da USCS, além de proprietário do escritório Antonio Minhoto Advogado Associados.

Fenômeno

Fato é que, para os dois cientistas políticos, Marçal é um fenômeno de comunicação nas redes sociais. Para Chiarottino, ele tem uma forma de comunicação mais adequada aos tempos atuais, com polarização e o domínio das redes no cotidiano.

“Comparo o Marçal ao Javier Milei (presidente recentemente eleito da Argentina). Também de fora do sistema, com retórica agressiva e soube usar muito bem as redes sociais na campanha. O Nunes usa os meios mais tradicionais, e de certa forma também o Boulos o faz. De conteúdo, o Marçal aparece como uma pessoa franca, que não quer colocar panos quentes. A profissão dele é coach. Se baseia nas técnicas neurolinguísticas”, diz. “Uma coisa é certa: essas eleições estão configurando uma nova forma de se fazer política”.

Minhoto também faz comparações, mas com o ex-tucano João Doria. “É uma figura que não acho difícil de entender. Em 2016 era o Fernando Haddad e o João Doria. E o Doria falava a mesma coisa de não ser político. Só que o Doria tinha um programa de nicho na TV e a empresa Lide, que é basicamente de networkig. A diferença é que Marçal é jovem (37 anos) e de rede social. Sabe falar as duas linguagens muito bem. Nos debates ele vem com tudo. Não tem projeto nenhum para São Paulo, mas uma comunicação mais assertiva do que o Doria tinha”, elabora.

“Ele é dado a gestos agressivos do ponto de vista de comunicação, mas muito bem pensados nesse sentido. Mostrar a Carteira de Trabalho para o Boulos no debate do Estadão e o psolista dar um tapa no documento; o gesto de que o Boulos cheirava cocaína no debate da Band. Tudo midiático. Tudo isso virou meme”, lembra.

No primeiro caso, Marçal postou nas redes sociais a legenda “como exorcizar um petista”. A segunda imagem varreu as redes, com Marçal simulando estar cheirando a droga enquanto Boulos falava, em tela dividida. Até a TV repercutiu.

“Se ele se mostrar mais viável que o Nunes, o atual prefeito vai repetir Geraldo Alckmin em 2018″, crava Minhoto. Naquela eleição, o ex-tucano, atualmente vice-presidente da República e no PSB, tinha quase metade do horário eleitoral e a maior coligação da corrida presidencial. Ao final do primeiro turno, amargou o pior desempenho do PSDB em eleições presidenciais de sua história, em quarto lugar, com cerca de 5% dos votos válidos.

Fora do horário eleitoral

Dentro de um partido que não tem direito a horário eleitoral e Fundo Partidário, Marçal vai encarar desafios. Nem tanto, na opinião do professor Chiarottino. “Bolsonaro foi eleito com um tempo pífio na TV e no rádio, com uma inserçãomínima. Foi ele que inaugurou a campanha na rede social. E há de se convir que a esquerda é boa de militância, mas não é eficaz na rede social”, observa.

E rede social é o ganha-pão de Marçal, influenciador digital muito bem sucedido como coach. Sua especialidade: ensinar as pessoas a ganhar dinheiro pela Internet.

Minhoto também aponta que o candidato do PRTB, um outsider nato, consegue colocar a religião no seu discurso de uma maneira mais leve. “O conteúdo é o mesmo, mas o embrulho é diferenciado”, observa.

Bolsonarismo sem Bolsonaro

Marçal seria a encarnação do bolsonarismo sem Bolsonaro, que oficialmente apoia Nunes e até andou trocando farpas com o postulante do PRTB? “Ele tem diferenças. Apresenta discurso de preocupação com a pobreza. Tem tintas próprias. Se apresenta como conservador, mas tem viés populista voltado à pobreza. Acaba pegando parte da agenda da esquerda, mesmo se distanciando do discurso do assistencialismo. Ele é menos ideológico também. Não usa as mesmas referências”, avalia Chiarottino.

Para Minhoto, o bolsonarismo é uma expressão de sentimentos. “Ele une o conservadorismo, a religiosidade, o sentimento anticomunista, que a esquerda é interesseira, vagabunda... São sentimentos que ele agregou. Ele expressa valores. O bolsonarismo está aí, e não depende mais dele”, diz.

Já se Bolsonaro entrasse de cabeça na campanha de Nunes, o que não fez até agora, há um certo sentimento de dúvida para os especialistas ouvidos pelo Metro. “Marçal tenderia a perder um pouco de força, acredito. Mas vê-se nas redes sociais os bolsonaristas que dessa vez não vão com ele. Nas eleições municipais, as pessoas pensam mais nos problemas de seu dia a dia”, opina.

Minhoto também tem suas dúvidas. “Se isso acontecer, é difícil de responder, porque o coração do bolsonarista vai ficar dividido”, sustenta.

Caso se eleja, Pablo Marçal é uma incógnita para ambos os cientistas políticos. Mas mesmo se não levar, garantem, uma coisa é certa: ele já é um nome forte na política nacional, o que é um trunfo e tanto. “Em 2026, no mínimo ele tem uma eleição para deputado federal muito tranquila pela frente”, projeta. Para Minhoto, o voo do outsider pode ir muito além. “O Ciro Gomes mesmo falou esses dias ‘esse maluco’ pode até se consolidar como um nome à Presidência. Muita polêmica à vista, com certeza.

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