A empresária e ex-sinhazinha do boi-bumbá Garantido Djidja Cardoso, de 32 anos, que foi encontrada morta em Manaus, no Amazonas, em maio deste ano, era drogada e frequentemente agredida, muitas vezes até torturada, pela própria mãe, Cleusimar Cardoso. A mulher e o filho, Ademar, seguem presos suspeitos de traficar drogas por meio de uma seita e viraram réus no caso.
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As informações sobre as agressões sofridas por Djidja constam no inquérito policial, que correu em sigilo. No teor do documento, revelado pelo site G1, consta que testemunhas ouvidas durante as investigações contaram que a ex-sinhazinha era alvo de um comportamento agressivo da mãe, que a machucava, beliscava, assanhava os cabelos e até torcia seu braço.
“Djidja estava fraca e mal conseguia se defender e inclusive sempre pedia para Cleusimar parar com o comportamento que a machucava”, disse uma das testemunhas à polícia.
No inquérito também constam imagens em que a ex-sinhazinha aparecia com machucados. Além disso, testemunhas ouvidas disseram que, além do uso de cetamina, que é um anestésico de uso humano e veterinário usado como droga, Djidja também consumia anabolizantes e sempre fazia pedidos das drogas por telefone.
“Ela ficou muito dependente. Então ela não vivia mais sem. Ela estava usando fralda, não conseguia mais se levantar, as pernas inchadas. A Djidja não queria que as pessoas vissem ela daquele jeito. Ela já estava com vergonha da aparência dela, mas para eles [mãe e irmão] era normal”, disse uma prima da mulher, que pediu anonimato, em entrevista ao site G1.
Morte de Djidja Cardoso
Durante a investigação, a polícia encontrou um vídeo gravado no dia 27 de maio deste ano, quando Djidja apareceu deitada em uma cama, segurando uma seringa em uma das mãos e, na outra, um frasco de cetamina.
Na ocasião, Bruno Lima, ex-namorado dela, apareceu tentando pegar o vidro, quando disse: “Me dá, tá bom já. Olha como você está”, afirmou ele, sendo que na sequência a ex-sinhazinha pergunta o porquê. “Você vai quebrar (...) olha como você está, por favor, solta, a sua mão está dura”, ressaltou o rapaz.
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Já na madrugada do dia 28 de maio, Djidja apareceu em outra gravação procurando a tampa da seringa na cama. Bruno afirmou que queria dormir e como resposta, ouviu: “eu vou me aplicar”. Logo depois, o ex-namorado disse: “Eu tentei”, enquanto a ex-sinhazinha pergunta “tentou o quê?”, e ele respondeu: “Te salvar. Mas olha aí como tu tá. Tu não quer parar de usar isso.”
Naquela mesma madrugada a empresária foi encontrada morta. Ela também era investigada por envolvimento em um esquema de compra, distribuição e aplicação da substância cetamina.
Um laudo preliminar apontou que a ex-sinhazinha sofreu um edema cerebral, que afetou o funcionamento dos pulmões e coração. A suspeita é que uma overdose por cetamina tenha agravado o quadro de saúde.
“O laudo preliminar aponta morte por depressão respiratória, que é justamente um dos efeitos da droga”, explicou o delegado Cícero Túlio, em entrevista ao jornal “O Globo”, na época da morte. Ele citou a semelhança com o diagnóstico do ator da série “Friends”, Matthew Perry, que morreu pelo uso da cetamina.
Prisão da mãe e irmão
Após se aposentar da função de sinhazinha, Djidja fundou um salão de beleza, chamado Belle Femme, com a mãe, Cleusimar, e o irmão, Ademar. Segundo a polícia, a suspeita é que eles usassem o estabelecimento para o comércio dos entorpecentes. Além dos dois, também são investigados três funcionários do salão: Claudiele Santos da Silva, Marlisson Vasconcelos Dantas e Verônica da Costa Seixas.
Conforme a investigação, a família de Djidja era responsável pela seita “Pai, Mãe e Vida”, que promovia o uso e comercialização da cetamina, em Manaus. O grupo também fazia aplicação forçada da substância em integrantes e obrigavam os funcionários do Belle Femme a participar da doutrina.
Dois dias depois da morte da ex-sinhazinha, Cleusimar e Ademar foram presos. Na sequência, o ex-namorado de Djidja e o coach da família Cardoso, Hatus Silveira, também acabaram detidos. Além deles, foram presos dois funcionários da clínica veterinária suspeita de fornecer cetamina à família. Já o dono da clínica se entregou após ter a prisão decretada pela Justiça.
O Ministério Público do Amazonas denunciou o grupo por tráfico de drogas, o que foi acatado pela Justiça, em julho deste ano. Assim, eles viraram réus e aguardam julgamento.
As defesas deles não foram encontradas para comentar o assunto até a publicação desta reportagem.
Confira abaixo as acusações contra os réus:
- Cleusimar Cardoso Rodrigues (mãe de Djidja): denunciada por tráfico de drogas e associação para o tráfico;
- Ademar Farias Cardoso Neto (irmão de Djidja): denunciado por tráfico de drogas e associação para o tráfico;
- José Máximo Silva de Oliveira (dono de uma clínica veterinária que fornecia a cetamina): denunciado por tráfico de drogas e associação para o tráfico;
- Sávio Soares Pereira (sócio de José Máximo na clínica veterinária): denunciado por tráfico de drogas e associação para o tráfico;
- Hatus Moraes Silveira (coach da família de Djidja): denunciado por tráfico de drogas e associação pra o tráfico;
- Marlisson Vasconcelos Dantas (cabeleireiro em uma rede de salões de beleza da família): denunciado por tráfico de drogas;
- Claudiele Santos Silva (maquiadora em uma rede de salões de beleza da família): denunciada por tráfico de drogas;
- Verônica da Costa Seixas (gerente de uma rede de salões de beleza da família): denunciada por tráfico de drogas;
- Emicley Araújo Freitas (funcionário da clínica veterinária de José Máximo): denunciado por tráfico de drogas;
- Bruno Roberto da Silva Lima (ex-namorado de Djidja): denunciado por tráfico de drogas.