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Se aprovada em concurso do TJ-SP, Suzane ex-Richthofen pode recorrer à Justiça para assumir cargo; entenda

Órgão diz que antecedentes criminais são impeditivos para posse, mas há precedente judicial

Ela contratou uma nova defensora
Suzane ex-Richthofen quer trabalhar no TJ-SP; ela pode ser impedida de assumir cargo por ter matado os pais, mas há brechas judiciais (Reprodução)

Nos últimos dias repercutiu a notícia de que Suzane von Richthofen, de 41 anos, condenada a 40 anos de prisão por matar os pais, que agora se chama Suzane Louise Magnani Muniz, quer trabalhar no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). Ela prestou o concurso público do órgão para o cargo de escrevente, cujo salário mensal é de R$ 6.043. Segundo o tribunal, os antecedentes criminais são impeditivos para a posse, mas, caso ela seja aprovada, poderá recorrer a precedentes judiciais.

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De acordo com a coluna “True Crime”, do jornal “O Globo”, foi exatamente assim que os assassinos do indígena Pataxó Galdino Jesus dos Santos, de 44 anos, queimado e transformado em uma “tocha humana”, em Brasília, em 1997, conseguiram se tornar servidores em diferentes esferas da administração pública.

Conforme a investigação policial, o indígena foi cruelmente morto por Eron Chaves Oliveira, então com 19 anos; Tomás Oliveira de Almeida, que tinha 18; Max Rogério de Souza, de 18; Antônio Novely Cardoso Vilanova, de 19; e o menor Gutemberg Nader Almeida Júnior, de 17.

A vítima participava de um encontro de líderes indígenas em Brasília, quando retornou para a pensão em que estava hospedada. Chegando lá, o local já estava fechado, assim, deitou no banco de um ponto de ônibus. Os jovens disseram que pensaram que Galdino era um morador em situação de rua e o atacaram com gasolina. Eles atearam fogo e o homem acordou em meio às chamas, sendo que chegou a ser socorrido, mas teve 95% do corpo queimado e não resistiu.

Ao serem identificados pela polícia, os rapazes disseram que cometerem o crime apenas para dar continuidade à diversão da noite anterior. Todos viraram réus por homicídio qualificado, com agravantes como motivo torpe, crueldade e impossibilidade de defesa da vítima. Eles foram julgados em 2011, quando os maiores de idade foram sentenciados a 14 anos de prisão. Já o adolescente cumpriu medidas socioeducativas por fato análogo ao crime de homicídio.

Enquanto ainda cumpriam suas penas, os cinco rapazes prestaram concursos públicos e foram aprovados. Porém, para assumir os cargos, recorreram à Justiça.

Conforme a “True Crime”, atualmente, Eron, que tem 46 anos, trabalha no Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF), com um salário de R$ 9 mil. Já Tomás, de 45, é técnico legislativo no Senado Federal, com salário bruto de mais de R$ 18 mil. Antônio Novely, de 46, é servidor da Secretaria de Saúde do DF, no Hospital Regional de Santa Maria, com uma média salarial de aproximadamente R$ 12 mil.

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Já Gutemberg, hoje com 44 anos, teve o registro de antecedentes criminais apagado, conforme prega a legislação. Atualmente, trabalha em cargo de chefia na Polícia Rodoviária Federal (PRF) com salário de R$ 12 mil. Antes, chegou a passar em um concurso da Polícia Civil do DF, mas foi impedido de tomar posse em função do seu passado.

Dessa forma, a partir das aprovações dos assassinos de Galdino por meio de decisões judiciais, Suzane ex-Richthofen também poderá, caso for aprovada em todas as etapas, recorrer à Justiça para tomar posse do cargo de escrevente do TJ-SP.

Crime ocorreu em 1997, em Brasília
Indígena Pataxó Galdino Jesus dos Santos, foi morto aos 44 anos; assassinos dele foram condenados, mas todos são servidores públicos atualmente (Reprodução)

Prova feita por Suzane

Suzane prestou a prova do concurso no último dia 8 de setembro, no Colégio Progresso Bilíngue, no bairro Cambuí, em Campinas, no interior paulista. Ela usava óculos escuros para evitar chamar a atenção, o que conseguiu, já que os candidatos tiveram seus celulares confiscados para a realização do certame.

O cargo que ela busca, segundo o edital 01/2024 do TJ-SP, tem como função organizar os serviços administrativos e técnicos no fórum, acompanhar o andamento de processos e realizar atendimento ao público. Além disso, envolve a elaboração e conferência de documentos, controle do material de expediente e a atualização constante sobre a legislação e normas internas.

A ex-detenta pediu para ser lotada na sede do órgão em Bragança Paulista, no interior de São Paulo, cidade em que mora com o marido, o médico Felipe Zecchini Muniz, e o filho do casal.

O TJ-SP comunicou que as provas feitas por candidatos na capital paulista foram canceladas e serão reaplicadas. O motivo seria um erro no horário do término do exame em um dos locais de exame, o que prejudicou candidatos. No entanto, Suzane fez a prova em Campinas, onde os testes seguem mantidos.

Essa é a segunda vez que a ex-presidiária tenta ingressar no serviço público. Em 2023, ela se inscreveu para o cargo de telefonista da Câmara Municipal de Avaré, no interior paulista, no entanto, após grande repercussão, não chegou a comparecer no dia da aplicação da prova.

Nova vida no interior

Suzane cumpre pena em regime aberto desde janeiro de 2023, quando incialmente passou a viver em Angatuba, também no interior paulista, e depois se mudou para Bragança Paulista, onde mora com o marido. No início deste ano, ela voltou a cursar Direito na Universidade São Francisco.

Fotos dela na sala de aula e nos corredores começaram a circular em grupos de WhatsApp dos estudantes, que se diziam “chocados” com a presença da assassina nas aulas. O jornalista Ulisses Campbell destacou que a condenada evita qualquer contato direto, ficando na maior parte do tempo mexendo no celular.

Casal mora no interior de SP
Médico Felipe Zecchini Muniz e Suzane ex-Richthofen se casaram em dezembro de 2023 e tiveram um filho (Reprodução/Redes sociais)

Suzane oficializou a união estável com Muniz no dia 13 de dezembro de 2023. Na ocasião, a ex-presidiária aproveitou para mudar de nome, quando passou a se chamar Suzane Louise Magnani Muniz.

A mudança ocorreu em todos os documentos de Suzane, que, para não cortar todos os vínculos familiares, adotou o sobrenome da avó materna, Lourdes Magnani Silva Abdalla, que morreu aos 92 anos, em 2012. Além disso, incluiu o Muniz do companheiro.

O novo nome da ex-presidiária já consta na Certidão de Nascimento do filho, que nasceu na noite do dia 26 de janeiro deste ano. O registro foi oficializado três dias depois, sendo que a criança recebeu o nome do pai e o sobrenome atual da mãe. Mas no campo destinado aos avós maternos do menino, constam os nomes de Marísia e Manfred von Richthofen.

Morte do casal Richthofen

Segundo a Justiça, Suzane planejou a morte dos próprios pais e teve a ajuda do então namorado, Daniel Cravinhos, e do irmão dele, Cristian Cravinhos, para a execução do casal. O crime ocorreu no dia 31 de outubro de 2022.

Logo depois do início das investigações, a jovem foi presa. Em 2006, ela foi julgada e condenada a 39 anos e seis meses de prisão em regime fechado. No entanto, entrou com vários pedidos de revisão e conseguiu reduzir o tempo para 34 anos e 4 meses de prisão. A previsão é que ela, que está em regime aberto desde o início deste ano, cumpra a sentença no dia 25 de fevereiro de 2038.

A primeira vez que Suzane deixou a Penitenciária Santa Maria Eufrásia Pelletier, em Tremembé, no interior de São Paulo, foi em março de 2016, depois de conquistar o regime semiaberto e ter direito a uma saída temporária de Páscoa. Em setembro do ano passado ela obteve mais uma “saidinha temporária”, quando chamou a atenção por conta da aparência. Bem vestida, ela virou alvo de várias publicações nas redes sociais.

Ela tentava obter a progressão desde 2017 para o regime aberto, mas até então todos os pedidos tinham sido negados. No início de 2023, ela finalmente conseguiu o benefício.

Depois que saiu da prisão, Suzane passou a cursar biomedicina em uma faculdade particular, mas desistiu do curso. Ela também abriu um cadastro de Microempreendedor Individual (MEI) no Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) de Angatuba para seu ateliê de costura, cujos produtos são vendidos em páginas nas redes sociais.

Suzane ao lado do irmão, Andreas, e dos pais: Marísia e Manfred Wikipedia

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