O advogado Thiago Felipe de Souza Avanci, de 39 anos, investigado por estupros cometidos contra um sobrinho autista, de 17, no Guarujá, no litoral de São Paulo, participou da elaboração de um livro sobre os direitos da criança e do adolescente, publicado em 2022, e integrou uma comissão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) sobre o tema. Ele, que também era professor de Direito e foi secretário municipal de Modernização e Transformação Digital, matou a mãe, um cachorro e cometeu suicídio depois que a polícia cumpriu um mandado de busca e apreensão.
O livro em questão, intitulado “Estatuto da Criança e do Adolescente: entre a efetividade dos direitos e o impacto das novas tecnologias”, tem 10 capítulos escritos por Thiago. Conforme o site G1, a publicação conta com colaboração de pesquisadores de quatro países, que abordaram o impacto da internet na convivência familiar, além dos diretos dos menores à educação.
Ainda nesse tema, o advogado ressaltava em seu currículo ter integrado, como presidente e vice-presidente, o Conselho de Direitos da Criança e Adolescente da OAB, na seção Guarujá.
Apesar dessa postura de “defensor” dos menores, a família de Thiago descobriu que ele estuprava um sobrinho autista há pelo menos um ano e denunciou o caso à polícia. Uma investigação foi instaurada e o Ministério Público de São Paulo (MP-SP), por meio do promotor de Justiça de Santos, também no litoral paulista, pediu a prisão do advogado no último dia 9 de setembro. No dia seguinte, no entanto, o juiz da 2ª Vara Criminal da cidade determinou que o caso fosse remetido à Justiça de Guarujá, pois o investigado morava naquele município.
Dessa forma, o caso foi encaminhado ao Guarujá, mas o promotor de Justiça local se manifestou contrário ao pedido de prisão do advogado. O juiz da 2ª Vara Criminal do município também analisou a questão e, no dia 12 de setembro, considerou que a detenção do investigado não era “imprescindível” para o andamento das apurações.
Contudo, o magistrado determinou medidas protetivas de urgência ao adolescente vítima dos estupros, sendo que Thiago não podia se aproximar dele ou manter contato com os pais do garoto. Também foi decretada a suspensão do porte de arma do advogado e foi expedido um mandado de busca e apreensão na casa dele e nos locais em que trabalhava.
Tal medida foi cumprida na manhã da última terça-feira (17), sendo que Thiago não estava nos locais. O homem compareceu à delegacia na parte da tarde, onde chegou a entregar uma arma. Após ser ouvido, ele foi liberado.
Na sequência, o advogado foi até a prefeitura e pediu exoneração do cargo de secretário municipal. Horas depois, Thiago matou a tiros a mãe, Sueli Nastri De Souza Avanci, de 72 anos, o cachorro da família e cometeu suicídio.
A Prefeitura do Guarujá confirmou que o advogado pediu exoneração na terça-feira, sendo que a oficialização ocorreu em portaria publicada na edição do Diário Oficial do Município de quarta-feira (18). A administração municipal esclareceu que uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou a ser acionada para socorrer o advogado e a mãe, mas que no local já constatou os óbitos.
Descoberta sobre os estupros
Conforme reportagem da TV Tribuna, o advogado morava nos fundos da casa da família, no Balneário Praia de Pernambuco, sendo que na residência da frente a idosa morava com o neto autista e os pais do garoto.
Os estupros cometidos contra o menor foram descobertos por acaso, depois que Thiago passou um carro para o nome do sobrinho e entregou um envelope aos pais dele com alguns documentos. Lá dentro foi um pen drive, que o advogado pediu de volta. Porém, antes de entregar o item, a mãe do adolescente decidiu verificar o conteúdo, quando achou vários vídeos que mostravam o filho sendo abusado.
Além disso, dias antes da descoberta, o menor já tinha reclamado para uma psicóloga, com quem faz acompanhamento, dizendo que sentia dores na região do ânus. A profissional estranhou e avisou os pais do garoto.
Assim, com essa informação e após verem os vídeos no pen drive, os genitores procuraram a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), onde o estupro de vulnerável foi registrado.
O caso segue em investigação na Delegacia sede de Guarujá como homicídio e suicídio consumado. Na casa de Thiago, os agentes apreenderam um pen drive, além de quatro celulares, uma adaga, um revólver e munição. O material foi encaminhado para perícia.