Em menos de um mês, três denúncias de estupros em moradias estudantis da Universidade de São Paulo (USP) vieram à tona. A mais recente foi feita por uma estudante de 19 anos, que afirma ter sido violentada por um colega em maio passado. Ela procurou a polícia e obteve uma medida protetiva, porém, diz que o suspeito continua vivendo no mesmo local até agora. A universidade informou que acolheu a vítima e que “não há relato de aproximação ou tentativa de abordagem” por parte do aluno denunciado.
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Conforme reportagem do jornal “Folha de S.Paulo”, a vítima foi estuprada na madrugada do último dia 5 de maio no Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (Crusp). Na noite anterior, ela foi a uma festa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), onde estuda, e disse que fez o consumo de bebidas alcoólicas. Na volta, o estudante da Escola Politécnica (Poli) se ofereceu para levá-la até a moradia, já que ela mora no bloco E e ele, no F.
Ela relatou que seguiu com o rapaz, mas perdeu a consciência. A estudante disse que acordou duas vezes, quando viu o agressor sobre seu corpo e consumando o ato sexual. Ela era virgem e não consentiu.
Na manhã seguinte, ela acordou confusa e cheia de hematomas no pescoço. Foi quando relatou o caso a colegas e foi aconselhada a denunciar o estupro. Foi quando ela procurou a polícia e passou por exame de corpo de delito. No dia seguinte, a Justiça concedeu a medida protetiva, que diz que o suspeito deve manter distância de 500 metros, e a estudante procurou a Pró-reitoria de Inclusão e Pertencimento (Prip) pedindo a expulsão do agressor.
Porém, ela contou que a Prip instaurou um procedimento disciplinar contra o aluno, que até o momento não deu em nada. Ele continua morando no mesmo local e frequentando as aulas normalmente.
Em nota, a USP afirmou que “zela pela proteção física e psíquica dos dois envolvidos” e ressaltou que o processo administrativo está em andamento e “prevê o amplo direito de defesa e a apuração rigorosa” dos fatos.
“Por meio de sua equipe de assistentes sociais, a Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento, assim como tem feito desde o momento em que a aluna fez a denúncia, segue prestando todo o auxílio requerido pela estudante e monitorando com atenção o cumprimento da medida judicial, pontuando que respeita o direito à educação. Legalmente, ambos são alunos da USP e possuem esse direito até que os processos na esfera criminal e na esfera administrativa (no âmbito da Universidade) sejam concluídos”, destacou a universidade.
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O caso foi registrado no 93º Distrito Policial do Jaguaré como estupro de vulnerável e segue em investigação na 3ª Delegacia de Defesa da Mulher. Conforme a Secretaria de Segurança Pública (SSP), o aluno investigado já foi ouvido.
Outras denúncias
Em agosto passado, a Polícia Civil instaurou um inquérito para investigar uma tentativa de roubo e estupro cometida contra uma estudante na Praça do Relógio da USP. Na ocasião, a vítima passou por exames de corpo de delito. Já o suspeito ainda não foi identificado.
De acordo com a SSP-SP, o caso foi registrado no 93º Distrito Policial do Jaguaré, que aguarda a conclusão dos laudos periciais. Os agentes também procuram imagens de câmeras de segurança que possa ajudar a identificar o autor.
Depois disso, a estudante Yasmin Mendonça, de 20 anos, que estuda na FFLCH, denunciou que foi estuprada dentro de uma moradia estudantil da instituição. O agressor foi um colega, que além de cursar disciplinas no mesmo prédio, também morava no mesmo bloco. Apesar disso, a jovem afirma que teve pedidos de medida protetiva negados.
A estudante foi diagnosticada com paralisia cerebral tipo 1, que a faz ter mobilidade reduzida do lado direito do corpo. Em entrevista à “GloboNews”, ela disse que ao perceber que estava sendo vítima de violência sexual, teve medo de ser agredida e ficou sem reação.
Yasmin disse que, três dias depois do estupro, procurou a Pró-Reitoria de inclusão e pertencimento da USP, quando foi orientada a registrar um boletim de ocorrência. Foi quando procurou a 3ª Delegacia de Defesa da Mulher Oeste, no último dia 23 de agosto, e o caso foi registrado como importunação sexual.
A jovem disse que pediu uma medida protetiva para manter o agressor afastado dela, porém, foi informada de que “não seria possível, porque ela e o agressor não moram no mesmo endereço”. Ela ressaltou que ambos estudam na mesma faculdade e frequentam os mesmos prédios, mas, apesar disso, não obteve a proteção.
Após a repercussão do caso, a USP confirmou que o estudante acusado de estupro foi transferido de bloco. A universidade também disse que presta o devido apoio à vítima.