O júri popular do empresário Paulo Cupertino, acusado de matar o ator Rafael Miguel e seus pais, começou na tarde de quinta-feira (10), mas foi anulado. O réu desistiu de ser defendido pelo advogado Alexander Neves Lopes alegando que se sente “indefeso”. Dessa forma, o juiz determinou que os depoimentos de todas as testemunhas sejam colhidos em uma nova data, ainda não marcada.
Após a anulação, Lopes disse o empresário decidiu o destituir da defesa por achar o julgamento “um grande circo”, pois “ora ele ficou com algema, depois sem algema. Simplesmente por isso”.
A sessão começou por volta das 15h30 no Fórum da Barra Funda, na Zona Oeste de São Paulo. A primeira testemunha a prestar depoimento foi Vanessa Tibcherani, de 44 anos, ex-esposa de Cupertino. Em uma hora e meia de oitiva, a mulher contou que foi o empresário quem matou o ator e seus pais. Nesse período, ele permaneceu no plenário, algemado.
Na sequência, foi a vez de Isabela Tibcherani Matias, filha de Cupertino, dar sua versão dos fatos. Como tinha pedido, o empresário foi retirado da sala enquanto ela foi ouvida. A jovem também confirmou que foi o pai quem atirou nas vítimas.
Quando voltou ao plenário, por volta das 19h30, o empresário pediu para falar com o juiz e aí destituiu seu advogado. Dessa forma, como a lei exige que os réus tenham defesa, o juiz anulou o julgamento. Com isso, os depoimentos terão que ser refeitos e outros sete jurados serão convocados para o novo júri.
Cupertino, que é réu por triplo homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e recurso que impossibilitou a defesa das vítimas, segue preso no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Guarulhos, na Grande São Paulo. Ele sempre alegou inocência, mas nunca quis falar sobre o crime. Porém, às vésperas do júri, quando ainda era representado por Lopes, afirmou que viu quem foi a pessoa que atirou no ator.
Além do empresário, também seriam julgados dois amigos que o ajudaram na fuga. Agora, todos aguardam uma nova data para a sessão.
Relembre o caso
O MP-SP afirma que Cupertino cometeu os assassinatos na frente da casa onde Isabela morava com a mãe, no bairro Pedreira, Zona Sul de São Paulo, no dia 9 de junho de 2019. Segundo a acusação, o empresário chegou armado e atirou em Rafael Miguel e contra os pais dele, João Alcisio Miguel e Miriam Selma Miguel. A motivação foi porque ele não aceitava o namoro de sua filha com o ator.
Isabela e sua mãe presenciaram o crime, mas não ficaram feridas. O empresário fugiu na sequência e passou três anos foragido, sendo que nesse período ele se escondeu em outros estados e até em outros países. Ele só foi preso no dia 17 de maio de 2022, escondido em um hotel na capital paulista.
De acordo com as investigações do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) de São Paulo, pelo menos quatro amigos ajudaram Cupertino na fuga. Porém, apenas dois deles tiveram as participações comprovadas pela polícia e respondem ao processo.
Condenado por uso de documento falso
Em agosto do ano passado, ele foi condenado a dois anos de prisão em regime aberto e o pagamento de multa de 10 dias por usar uma Carteira Nacional de Motorista (CNH) falsa. Conforme o Ministério Público de São Paulo (MP-SP), o empresário falsificou o documento usando a foto dele ilegalmente junto com o nome e dados pessoais de um outro motorista.
O documento foi encontrado com ele no momento em que foi preso, em maio de 2022, em um hotel na Zona Sul da Capital, após passar três anos foragido. Apesar da pena ter sido definida em regime aberto, ele segue preso preventivamente em função dos assassinatos.
Mas as mortes de Rafael Miguel e seus pais não foi o primeiro crime de Cupertino. Em 1993, ele foi preso em Santos, no litoral de São Paulo, após participar de um assalto a um carro forte com outros comparsas, todos armados com metralhadoras, de acordo com notícia publicada pelo jornal “A Tribuna” à época.
No assalto, a quadrilha roubou Cr$ 2,5 bilhões (cruzeiros) do carro que transportava o dinheiro para o pagamento dos trabalhadores do porto de Santos. Os assaltantes usaram um carro e duas motos para a fuga. Na fuga, a moto de Cupertino foi deixada para trás e ele pediu depois a um comparsa que não estava ligado ao assalto para prestar queixa do roubo da moto, em uma tentativa de reavê-la.
O comparsa chegou a ir à polícia, mas pressionado pelos investigadores acabou revelando o verdadeiro dono do veículo e seu paradeiro. Ele foi preso logo depois. O carro usado na fuga foi encontrado no litoral. Ele havia sido roubado em São Caetano do Sul dias antes do crime.