O apagão que desde sexta-feira (11) afeta São Paulo, principalmente a região metropolitana, virou motivo de guerra política. No centro do ringue, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL), candidatos que disputam o segundo turno das eleições à Prefeitura. Nas franjas, seus padrinhos políticos e assessores, que colocam ainda mais fogo nas acusações, com direito a um resquício do embate Lula x Bolsonaro.
Nunes lidera as pesquisas, com vantagem considerável sobre Boulos - levantamento Real Time Big Data divulgado nesta segunda (14) o traz 14 pontos à frente (53% a 39%). Mas tem um enorme ponto negativo com o qual lidar: o apagão, já que muitas quedas de energia aconteceram devido a árvores sem poda que atingiram a rede elétrica. Protestos contra ele e a concessionária Enel foram registrados na Grande São Paulo neste final de semana.
O tema deve dominar o debate da noite desta segunda (14) na Band. Boulos já disse em entrevistas que o prefeito não soube agir na crise até agora, e que, na chuva de novembro do ano passado, quando um apagão também foi registrado, Nunes “estava num camarote e queria que a população pagasse taxa para enterrar os fios de São Paulo”.
Nunes, por sua vez, jogou a culpa no governo federal, e disse que, se dependesse dele, “o contrato com a Enel já estaria rompido”, e que isso só não aconteceu por conta do governo Lula.
Aí entra em cena o clima de eterna beligerância entre o atual presidente e Bolsonaro. É que a atual diretoria da agência reguladora Aneel foi nomeada no governo anterior, e as rusgas com o atual ministro de Minas e Energias, Alexandre Silveira, são cada vez mais graves. “O bom é que é como no Banco Central, é mandato, e está acabando”, foi um dos últimos comentários do ministro de Lula.
Pesa sobre a Aneel a acusação de ser leniente com a Enel. Que no episódio do ano passado se comprometeu com mudanças agora comprovadamente não efetuadas em, por exemplo, equipe própria e tempo de resposta.
Em uma agenda nesta segunda-feira, o prefeito Ricardo Nunes afirmou que “não existe absolutamente nenhuma falha da Prefeitura”, no apagão na cidade.
Não para o ministro Silveira. “O prefeito de São Paulo aprendeu rápido quando fez uma fake news que nós não tratamos da renovação da distribuição da Enel. A Enel vence seu contrato em 2028, ela tem até 2026 para se manifestar”, disse.
Silveira ainda afirmou: “na verdade, ainda dá tempo de o prefeito se preocupar com a questão urbanística de São Paulo. Nós não trabalhamos com narrativas, trabalhamos com fatos. Mais de 50% dos eventos foram causados por árvores caindo em cima do sistema de média e baixa tensão em SP”.
A favor de Nunes vem o governador Tarcísio de Freitas, que responsabiliza diretamente a empresa e coloca toda a força do Governo do Estado para amenizar os efeitos da crise.
O episódio do apagão deve custar capital político a Nunes, e isso depende bastante do seu desempenho no debate desta noite. Se o suficiente para virar o jogo para Boulos, talvez a resposta esteja mais nas mãos da Enel do que nas do próprio prefeito.