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Infectados por HIV após transplante: mulher que recebeu rim contaminado se revolta: “Quero punição”

Paciente contou que descobriu que foi infectada no último dia 3 de outubro, mas ainda não recebeu orientações sobre o tratamento

A Polícia Civil e autoridades de saúde investigam a contaminação de seis pacientes com o vírus HIV após receberem transplantes de órgãos, no Rio de Janeiro. Enquanto muitas perguntas seguem sem respostas, os infectados também continuam aguardando orientações sobre o tratamento. Uma das vítimas, uma mulher que recebeu um rim infectado, disse ao “Fantástico”, da TV Globo, que só teve a consulta antecipada após a repercussão do caso na imprensa. Revoltada, ela cobra punição aos responsáveis pelo erro.

“Eles não estão lidando com a nossa vida. Foi só dinheiro que eles viram, né? E foi muito, não foi pouco. Foi muito dinheiro. Não tem nenhuma justificativa. Eu quero punição”, afirmou a vítima.

A mulher contou que soube que foi infectada no último dia 3 de outubro, mas não recebeu nenhuma orientação sobre o tratamento. Ela teve uma consulta marcada para o próximo dia 29, mas, depois que o caso foi revelado pela BandNews FM, ela teve o atendimento adiantado para a próxima terça-feira (15).

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“Vai mudar a minha vida completamente, porque antes era só os meus remédios pra não ter rejeição dos meus rins (...) Eu não fiz nada pra adquirir isso. O erro foi de pessoas irresponsáveis. Porque eu acho que quem lida com a vida de uma outra tem que ter responsabilidade”, lamentou.

Por enquanto, a paciente afirma que a incerteza sobre seu quadro de saúde é o que a desespera. “É como se o chão se abrisse e você... Sabe? (...) Porque é a minha vida e daqui pra frente a minha vida mudou. A minha família tá revoltada, porque a gente entra lá com a maior confiança de que vai dar tudo certo”, afirmou ela.

Entenda o caso

O erro que resultou na infecção dos pacientes ocorreu dentro de uma das unidades do laboratório Patologia Clínica Doutor Saleme (PCS-Saleme), contratado pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro. O estabelecimento emitiu laudos negativos de HIV para dois doadores de órgãos que tinham o vírus. Ao todo, nove órgãos foram doados, sendo que seis pessoas foram contaminadas.

O caso só foi descoberto depois que uma pessoa, que foi transplantada em janeiro deste ano, procurou atendimento médico no último dia 10 de setembro. Ela passou por exames, que atestaram a infecção por HIV. Como antes do procedimento o mesmo exame teve resultado negativo, levantou a suspeita sobre o transplante.

Assim, o hospital notificou a Secretaria Estadual de Saúde, que instaurou uma investigação. Havia amostra do sangue de um doador guardada no Hemocentro do Rio, quando novos testes foram feitos e positivaram para HIV. Depois disso, a pasta levantou quem recebeu os órgãos dessa pessoa e descobriu que mais duas delas foram infectadas.

O caso continuou sendo apurado e só no início de outubro foram identificados mais três pacientes contaminados a partir daqueles órgãos, mas isso porque outro homem procurou atendimento médico e descobriu que está com HIV.

O que dizem as autoridades?

Após a repercussão do caso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Vigilância Sanitária do Estado realizaram uma vistoria fecharam a unidade do laboratório PCS Saleme, localizada dentro de um instituto de saúde na Zona Sul do Rio de Janeiro.

Conforme o “Fantástico”, foram identificadas 39 irregularidades no laboratório, sendo que ele não possuía licença de funcionamento, armazenava amostras de sangue sem identificação, material biológico era guardado em geladeira comum, local contava com péssimas condições de higiene, entre outras falhas.

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A Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro informou que, desde a descoberta do caso, o PCS Saleme não presta mais nenhum tipo de serviço ao estado. O laboratório tinha um contrato com o governo desde o final do ano passado, no valor de R$11 milhões. Agora os testes dos doadores passam a ser feitos exclusivamente pelo Instituto Estadual de Hematologia.

A reportagem destacou que dois sócios do laboratório, Matheus Vieira e Walter Vieira, são parentes do ex-secretário estadual de Saúde, Dr. Luizinho, que atualmente é deputado federal pelo PP. O contrato entre o governo e o laboratório foi assinado três meses após Dr. Luizinho deixar a Secretaria de Saúde.

Procurado, Dr. Luizinho negou qualquer envolvimento na escolha do laboratório. Já os sócios da empresa não foram encontrados para comentar o caso.

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Em nota, o laboratório PCS Saleme disse que os resultados preliminares da sindicância interna apontaram um erro humano na transcrição dos resultados dos dois testes de HIV. Informou também que está à disposição das autoridades e colaborando com o governo do Rio de Janeiro. Além disso, informou que dará todo o suporte necessário às vítimas assim que tiver acesso oficial às identidades delas.

Investigação

A Polícia Civil, o Ministério Público e o Conselho Regional de Medicina investigam o caso. Além dos responsáveis pelo laboratório, também é apurada a participação de Jacqueline Iris Bacellar de Assis, que foi quem assinou os laudos falsos que diziam que os doadores de órgãos não tinham HIV.

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O laboratório afirma que ela foi contratada como biomédica, após apresentar um diploma. Já ela destacou, em entrevista ao jornal “O Globo”, que nunca teve registro na área e que seu nome foi usado de maneira ilegal pelo estabelecimento.

Já a ministra da Saúde. Nísia Trindade, solicitou à Polícia Federal que investigue o caso e determinou a realização de uma auditoria na Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro. “O que aconteceu é gravíssimo. Eu manifesto aqui, mais do que uma indignação, não é para acontecer, mas uma vez acontecendo, tem que ser apurado. Essa auditoria é uma auditoria que vai verificar todos os processos de trabalho, testes, o que foi feito, o que tem fora da regra de como deve ser”, afirmou.

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