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Órgãos com HIV: universidade não reconhece diploma de mulher que assinou laudo errado como biomédica

Assinatura de Jacqueline Iris Bacellar de Assis consta em um resultado emitido por laboratório no RJ; ela está foragida

A Polícia Civil segue à procura de Jacqueline Iris Bacellar de Assis, de 36 anos, cuja assinatura aparece em um dos laudos errados emitidos pelo laboratório PCS Lab Saleme, no Rio de Janeiro, que fizeram com que seis pessoas fossem transplantadas com órgão infectados com HIV. Ela foi alvo da “Operação Verum”, deflagrada na segunda-feira (14), mas não foi achada e é considerada foragida. Apesar de se apresentar como biomédica ao ser contratada pelo estabelecimento de saúde, a universidade não reconheceu a veracidade do diploma.

O PCS Lab Saleme alega que, quando contratou Jacqueline, ela mandou uma mensagem por meio de um aplicativo, no qual apresentou o diploma de biomedicina. Além disso, ela apresentou a carteira profissional com habilitação em patologia clínica.

A imagem do diploma mostra que o curso teria sido concluído na Universidade Pitágoras Unopar Anhanguera, em 26 de abril de 2022. No entanto, a instituição de ensino diz que não emitiu tal documento. “A instituição não emitiu certificado de conclusão de curso de graduação, de qualquer natureza, para a Jacqueline Iris Bacellar de Assis”, informou a universidade, ao site G1.

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O Conselho Regional de Farmácia do Rio de Janeiro (CRF-RJ) confirmou que a mulher tem registro como técnica em patologia clínica. Porém, para emitir laudos no laboratório, é necessário ter curso superior.

A defesa de Jacqueline não foi encontrada para comentar o assunto até a publicação desta reportagem. Em entrevista ao jornal “O Globo”, antes de ser considerada foragida, a mulher disse que nunca teve registro na área e que seu nome foi usado de maneira ilegal pelo estabelecimento.

Entenda o caso

O erro que resultou na infecção dos pacientes ocorreu dentro de uma das unidades do laboratório Patologia Clínica Doutor Saleme (PCS-Saleme), contratado pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro. O estabelecimento emitiu laudos negativos de HIV para dois doadores de órgãos que tinham o vírus. Ao todo, nove órgãos foram doados, sendo que seis pessoas foram contaminadas.

O caso só foi descoberto depois que uma pessoa, que foi transplantada em janeiro deste ano, procurou atendimento médico no último dia 10 de setembro. Ela passou por exames, que atestaram a infecção por HIV. Como antes do procedimento o mesmo exame teve resultado negativo, levantou a suspeita sobre o transplante.

Assim, o hospital notificou a Secretaria Estadual de Saúde, que instaurou uma investigação. Havia amostra do sangue de um doador guardada no Hemocentro do Rio, quando novos testes foram feitos e positivaram para HIV. Depois disso, a pasta levantou quem recebeu os órgãos dessa pessoa e descobriu que mais duas delas foram infectadas.

O caso continuou sendo apurado e só no início de outubro foram identificados mais três pacientes contaminados a partir daqueles órgãos, mas isso porque outro homem procurou atendimento médico e descobriu que está com HIV.

A Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro informou que, desde a descoberta do caso, o PCS Saleme não presta mais nenhum tipo de serviço ao estado. Agora os testes dos doadores passam a ser feitos exclusivamente pelo Instituto Estadual de Hematologia.

Já o laboratório PCS Saleme disse, em nota, que os resultados preliminares da sindicância interna apontaram um erro humano na transcrição dos resultados dos dois testes de HIV. Informou também que está à disposição das autoridades e colaborando com o governo do Rio de Janeiro. Além disso, informou que dará todo o suporte necessário às vítimas assim que tiver acesso oficial às identidades delas.

Após a repercussão do caso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Vigilância Sanitária do Estado realizaram uma vistoria e fecharam a unidade do laboratório PCS Saleme, localizada dentro de um instituto de saúde na Zona Sul do Rio de Janeiro.

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Investigação

Conforme o delegado Felipe Curi, secretário estadual da Polícia Civil, o estabelecimento reduziu as análises dos órgãos que seriam transplantados intencionalmente para lucrar. “Houve uma falha de controle operacional na qualidade dos testes de HIV, tudo isso para obter lucro”, disse o delegado, em entrevista coletiva.

Já o delegado André Neves, titular da Delegacia do Consumidor (Decon), responsável pela operação policial, explicou como foi feito esse relaxamento das análises dos órgãos. “Houve uma quebra do controle de qualidade, visando à maximização de lucro e deixando de lado a preservação e a segurança da saúde dos testes”, disse.

“Os reagentes precisavam ser analisados sistematicamente, diariamente, e houve uma determinação, que estamos apurando, para que fosse diminuída essa fiscalização de forma semanal. E essa lacuna, você flexibiliza e aumenta a chance de ter algum efeito colateral — esse efeito devastador que nós estamos analisando”, detalhou Neves.

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Os policiais acreditam que, por conta dessa situação, pode ser que o laboratório tenha emitido os laudos sem, de fato, ter feito nenhum dos testes. Além disso, eles ainda analisam se resultados de outros exames também possam ter sido fraudados.

Na segunda-feira (14), a Decon deflagrou a “Operação Verum”, com objetivo de cumprir quatro mandados de prisão e 11 de busca e apreensão em Nova Iguaçu e na capital. Foram presos o ginecologista Walter Vieira, responsável técnico do laboratório, e Ivanilson Fernandes dos Santos, que é apontado como um dos responsáveis pelos laudos.

Os suspeitos são investigados por crime contra as relações de consumo, associação criminosa, falsidade ideológica, falsificação de documento particular e infração sanitária.

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Após um pedido da ministra da Saúde, Nísia Trindade, a Polícia Federal também instaurou uma investigação sobre o caso. Os investigadores devem colher depoimentos de testemunhas, representantes do laboratório e dos próprios pacientes infectados.

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