Adriana Vargas dos Anjos, coordenadora técnica do laboratório PCS Lab Saleme, investigado por emitir laudos errados que fizeram com que seis pessoas fossem transplantadas com órgão infectados com HIV, no Rio de Janeiro, foi presa na manhã deste domingo (20). Outro preso no caso, o técnico de laboratório Ivanilson Santos, indicou à polícia que era a mulher quem dava as ordens para que os funcionários reduzissem as análises dos órgãos que seriam transplantados.
ANÚNCIO
A suspeita foi localizada por policiais da Delegacia do Consumidor (Decon) em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, durante a segunda fase da “Operação Verum”. O delegado Wellington Pereira, responsável pelas investigações, disse que ela foi questionada a respeito das acusações, mas negou qualquer responsabilidade no caso.
O investigador relevou ao site G1 que Adriana afirmou que a falha ocorrida no laboratório foi “humana”, mas sem indicar responsáveis. “Quem realizou o exame já está sendo punido”, disse ela.
Além de Adriana, outras duas pessoas foram levadas para a sede da Decon, na Cidade da Polícia, na Zona Norte do Rio de Janeiro, para prestarem depoimentos. Uma delas é um ex-sócio do laboratório, sendo que ambos foram liberados após as oitivas.
A defesa dos envolvidos não foi encontrada para comentar o assunto até a publicação desta reportagem.
LEIA TAMBÉM:
- Órgãos com HIV: técnica de laboratório que assinou laudo errado como biomédica se entrega à polícia
- Órgãos com HIV: universidade não reconhece diploma de mulher que assinou laudo errado como biomédica
- Infectados por HIV após transplante: mulher que recebeu rim contaminado se revolta: “Quero punição”
Outros suspeitos
Durante a primeira fase da “Operação Verum”, outros quatro suspeitos tinham sido presos: Walter Vieira, responsável técnico do laboratório, além de Ivanilson Fernandes dos Santos, Jacqueline Iris Bacellar de Assis e Cleber de Oliveira dos Santos, funcionários apontados como responsáveis pelas emissões dos laudos errados.
ANÚNCIO
Conforme o delegado Felipe Curi, secretário estadual da Polícia Civil, o estabelecimento reduziu as análises dos órgãos que seriam transplantados intencionalmente para lucrar. “Houve uma falha de controle operacional na qualidade dos testes de HIV, tudo isso para obter lucro”, disse o investigador.
Além de investigar essa questão, que fez com que os pacientes acabassem contaminados com HIV, a polícia também apura como foi feito o processo de contratação da empresa pela Fundação Saúde.
Um dos sócios do laboratório, Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, é primo do ex-secretário de Saúde Doutor Luizinho, deputado federal e líder do PP na Câmara dos Deputados. O político deixou o cargo três meses antes da contratação do laboratório. No entanto, chama atenção o fato de que a irmã dele, Débora Lúcia Teixeira, trabalha na Fundação Saúde.
Entenda o caso
O erro que resultou na infecção dos pacientes ocorreu dentro de uma das unidades do laboratório Patologia Clínica Doutor Saleme (PCS-Saleme), contratado pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro. O estabelecimento emitiu laudos negativos de HIV para dois doadores de órgãos que tinham o vírus. Ao todo, nove órgãos foram doados, sendo que seis pessoas foram contaminadas.
O caso só foi descoberto depois que uma pessoa, que foi transplantada em janeiro deste ano, procurou atendimento médico no último dia 10 de setembro. Ela passou por exames, que atestaram a infecção por HIV, confrontando exames anteriores ao procedimento.
Assim, o hospital notificou a Secretaria Estadual de Saúde, que instaurou uma investigação. Havia amostra do sangue de um doador guardada no Hemocentro do Rio, quando novos testes foram feitos e positivaram para HIV. Depois disso, a pasta levantou quem recebeu os órgãos dessa pessoa e descobriu que mais duas delas foram infectadas.
O caso continuou sendo apurado e só no início de outubro foram identificados mais três pacientes contaminados a partir daqueles órgãos, mas isso porque outro homem procurou atendimento médico e descobriu que está com HIV.
Após a repercussão do caso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Vigilância Sanitária do Estado realizaram uma vistoria e fecharam a unidade do laboratório PCS Saleme, localizada dentro de um instituto de saúde na Zona Sul do Rio de Janeiro.
Em nota, o laboratório PCS Saleme disse que os resultados preliminares da sindicância interna apontaram um erro humano na transcrição dos resultados dos dois testes de HIV. Informou também que está à disposição das autoridades e colaborando com o governo do Rio de Janeiro. Além disso, informou que dará todo o suporte necessário às vítimas assim que tiver acesso oficial às identidades delas.