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Diretoria deixa Fundação Saúde após caso dos órgãos com HIV; paciente infectado é internado

Demissão em massa ocorre depois do escândalo da contaminação de seis pessoas transplantadas no RJ

Polícia apura como foi feita a contratação de laboratório, que emitiu laudos errados
Demissão em massa ocorre na Fundação Saúde do Rio de Janeiro, após escândalo dos seis pacientes transplantados com órgãos infectados com HIV (Reprodução/TV Globo)

A diretoria da Fundação Saúde do Estado do Rio de Janeiro, entidade responsável pela contratação do laboratório PSC Lab Saleme, cujos laudos errados fizeram com que seis pacientes fossem transplantados com órgãos contaminados com HIV, pediu demissão. O governador Cláudio Castro (PL) aceitou e exonerou os servidores nesta segunda-feira (21). Um dos infectados, inclusive, está internado em estado grave no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

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Conforme reportagem do G1, além de João Ricardo da Silva Pilotto, o então diretor executivo da Fundação Saúde, haverá troca da cúpula responsável pela diretoria administrativa e financeira; diretoria de recursos humanos; diretoria de planejamento e gestão; diretoria técnico-assistencial e diretoria jurídica.

A Polícia Civil investiga as falhas cometidas pelo laboratório, sendo que prendeu cinco investigados pelos laudos errados de exames, mas também apura como foi feito o processo de contratação da empresa pela Fundação Saúde.

Um dos sócios do laboratório, Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, é primo do ex-secretário de Saúde Doutor Luizinho, deputado federal e líder do PP na Câmara dos Deputados. O político deixou o cargo três meses antes da contratação do PCS Lab Saleme.

No entanto, chama atenção o fato de que a irmã dele, Débora Lúcia Teixeira, ainda trabalhava na Fundação Saúde. Não há detalhes se ela foi uma das afetadas pela demissão em massa que ocorreu após o escândalo.

Sócio e funcionário foram presos hoje em operação
Polícia diz que laboratório afrouxou análises de órgãos que seriam transplantados de propósito visando 'lucros', no RJ (Reprodução)

Internação de paciente infectado

Um dos seis pacientes que recebeu órgãos contaminados com HIV, que é um idoso de 75 anos, precisou ser internado. O homem apresenta quadro grave de saúde, segundo o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz.

A Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro também confirmou a informação, mas não deu outros detalhes sobre o que levou à internação do idoso.

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Entenda o caso

O erro que resultou na infecção dos pacientes ocorreu dentro de uma das unidades do laboratório Patologia Clínica Doutor Saleme (PCS-Saleme), contratado pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro. O estabelecimento emitiu laudos negativos de HIV para dois doadores de órgãos que tinham o vírus. Ao todo, nove órgãos foram doados, sendo que seis pessoas foram contaminadas.

O caso só foi descoberto depois que uma pessoa, que foi transplantada em janeiro deste ano, procurou atendimento médico no último dia 10 de setembro. Ela passou por exames, que atestaram a infecção por HIV, confrontando exames anteriores ao procedimento.

Assim, o hospital notificou a Secretaria Estadual de Saúde, que instaurou uma investigação. Havia amostra do sangue de um doador guardada no Hemocentro do Rio, quando novos testes foram feitos e positivaram para HIV. Depois disso, a pasta levantou quem recebeu os órgãos dessa pessoa e descobriu que mais duas delas foram infectadas.

O caso continuou sendo apurado e só no início de outubro foram identificados mais três pacientes contaminados a partir daqueles órgãos, mas isso porque outro homem procurou atendimento médico e descobriu que está com HIV.

Após a repercussão do caso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Vigilância Sanitária do Estado realizaram uma vistoria e fecharam a unidade do laboratório PCS Saleme, localizada dentro de um instituto de saúde na Zona Sul do Rio de Janeiro.

Em nota, o laboratório PCS Saleme disse que os resultados preliminares da sindicância interna apontaram um erro humano na transcrição dos resultados dos dois testes de HIV. Informou também que está à disposição das autoridades e colaborando com o governo do Rio de Janeiro. Além disso, informou que dará todo o suporte necessário às vítimas assim que tiver acesso oficial às identidades delas.

Investigados em laboratório

Conforme o delegado Felipe Curi, secretário estadual da Polícia Civil, o estabelecimento reduziu as análises dos órgãos que seriam transplantados intencionalmente para lucrar. “Houve uma falha de controle operacional na qualidade dos testes de HIV, tudo isso para obter lucro”, disse o investigador.

Adriana Vargas dos Anjos, coordenadora técnica do laboratório PCS Lab Saleme, foi presa na manhã deste domingo (20). Outro preso no caso, o técnico de laboratório Ivanilson Santos, indicou à polícia que era a mulher quem dava as ordens para que os funcionários reduzissem os testes nos órgãos que seriam transplantados.

A suspeita foi localizada por policiais da Delegacia do Consumidor (Decon) em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, durante a segunda fase da “Operação Verum”. O delegado Wellington Pereira, responsável pelas investigações, disse que ela foi questionada a respeito das acusações, mas negou qualquer responsabilidade no caso.

O investigador relevou ao site G1 que Adriana afirmou que a falha ocorrida no laboratório foi “humana”, mas sem indicar responsáveis. “Quem realizou o exame já está sendo punido”, disse ela.

Durante a primeira fase da “Operação Verum”, além de Ivanilson, também foram presos Walter Vieira, responsável técnico do laboratório, além de Jacqueline Iris Bacellar de Assis e Cleber de Oliveira dos Santos, funcionários apontados como responsáveis pelas emissões dos laudos errados.

A defesa dos envolvidos não foi encontrada para comentar o assunto até a publicação desta reportagem.

Ela é apontada como quem deu a ordem para que os funcionários economizassem nos exames
Adriana Vargas dos Anjos, coordenadora técnica do Laboratório PCS Lab Saleme, foi presa na segunda fase da 'Operação Verum', no RJ (Reprodução)

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