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Órgãos com HIV: paciente infectado piora com tratamento diz que terá que fazer transplante de rim

Idoso diz que funções renais foram afetadas por remédios; ele reclama de falta de apoio do governo do RJ

Sócio e funcionário foram presos hoje em operação
Polícia diz que laboratório afrouxou análises de órgãos que seriam transplantados de propósito visando 'lucros', no RJ (Reprodução)

Um dos seis pacientes que foram transplantados com órgãos contaminados com HIV, no Rio de Janeiro, após laudos errados serem emitidos pelo laboratório PCS Lab Saleme, diz que vai precisar passar por uma nova cirurgia. O idoso de 63 anos, que mora em Salvador, na Bahia, e recebeu um coração infectado, contou à “Band News FM” que piorou com o tratamento e teve comprometimento das funções renais. Assim, agora precisa de um transplante de rim.

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O paciente disse que recebeu o coração no último dia 25 de janeiro deste ano. Ele teve alta do hospital em fevereiro, mas logo começou a passar mal. Com náuseas e falta de apetite, os médicos suspeitavam que ele apresentava um quadro de rejeição do órgão transplantado.

No entanto, em agosto passado, ele passava por exames de rotina, quando algumas manchas na pele chamaram a atenção. Foram solicitados exames complementares, que diagnosticaram o HIV.

O idoso contou, ainda, que começou a tomar remédios contra o vírus em setembro, mas de lá pra cá teve piora no quadro de saúde e suas funções renais foram prejudicadas. Por isso, precisará de um novo transplante, agora de rim. Na entrevista, ele revelou que só recebeu duas ligações do governo do Rio de Janeiro.

Outro paciente infectado, que é um idoso de 75 anos, precisou ser internado. O homem apresenta quadro grave de saúde, segundo o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz. A Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro também confirmou a informação, mas não deu outros detalhes sobre o que levou à internação do idoso.

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Entenda o caso

O erro que resultou na infecção dos pacientes ocorreu dentro de uma das unidades do laboratório Patologia Clínica Doutor Saleme (PCS-Saleme), contratado pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro. O estabelecimento emitiu laudos negativos de HIV para dois doadores de órgãos que tinham o vírus. Ao todo, nove órgãos foram doados, sendo que seis pessoas foram contaminadas.

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O caso só foi descoberto depois que uma pessoa, que foi transplantada em janeiro deste ano, procurou atendimento médico no último dia 10 de setembro. Ela passou por exames, que atestaram a infecção por HIV, confrontando exames anteriores ao procedimento.

Assim, o hospital notificou a Secretaria Estadual de Saúde, que instaurou uma investigação. Havia amostra do sangue de um doador guardada no Hemocentro do Rio, quando novos testes foram feitos e positivaram para HIV. Depois disso, a pasta levantou quem recebeu os órgãos dessa pessoa e descobriu que mais duas delas foram infectadas.

O caso continuou sendo apurado e só no início de outubro foram identificados mais três pacientes contaminados a partir daqueles órgãos, mas isso porque outro homem procurou atendimento médico e descobriu que está com HIV.

Após a repercussão do caso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Vigilância Sanitária do Estado realizaram uma vistoria e fecharam a unidade do laboratório PCS Saleme, localizada dentro de um instituto de saúde na Zona Sul do Rio de Janeiro.

Em nota, o laboratório PCS Saleme disse que os resultados preliminares da sindicância interna apontaram um erro humano na transcrição dos resultados dos dois testes de HIV. Informou também que está à disposição das autoridades e colaborando com o governo do Rio de Janeiro. Além disso, informou que dará todo o suporte necessário às vítimas assim que tiver acesso oficial às identidades delas.

Réus

O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) denunciou seis pessoas ligadas ao laboratório PSC Lab Saleme, o que foi acatado pela juíza Aline Abreu Pessanha, da 2ª Vara Criminal de Nova Iguaçu, na terça-feira (22).

Assim, se tornaram réus Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, sócio do estabelecimento, o pai dele, o ginecologista Walter Vieira, que também era sócio e responsável técnico do laboratório, além dos funcionários: Jacqueline Iris Barcellar de Assis, Ivanilson Fernandes dos Santos, Cleber de Oliveira Santos e Adriana Vargas dos Anjos.

A Promotoria diz que eles cometeram crime de associação criminosa, lesão corporal e falsidade ideológica. Além disso, Jacqueline responde também por falsificação de documento particular, por ter apresentado um diploma de biomédica, que não foi reconhecido pela universidade em questão.

“Os denunciados tinham plena ciência de que pacientes que recebem órgãos transplantados recebem imunossupressores para evitar a sua rejeição, e que a aquisição de qualquer doença em um organismo já fragilizado, principalmente HIV, seria devastadora”, escreveu a promotora Elisa Ramos Pittaro Neves na denúncia.

O texto citou, ainda, que além de uma série de exames com resultados errados, as filiais do PCS Lab Saleme “não possuíam sequer alvará e licença sanitária para funcionamento”.

A Polícia Civil já tinha destacado que o estabelecimento reduziu as análises dos órgãos que seriam transplantados intencionalmente para lucrar. “Houve uma falha de controle operacional na qualidade dos testes de HIV, tudo isso para obter lucro”, disse o delegado Felipe Curi, secretário estadual da corporação.

Todos os réus estão presos preventivamente. As defesas dos envolvidos não foram encontradas para comentar o assunto até a publicação desta reportagem.

Falhas fizeram com que seis pacientes fossem transplantados com órgãos contaminados
Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, sócio do laboratório PCS Lab Saleme, que emitiu laudos errados sobre HIV, se entregou a polícia; ele e mais cinco viraram réus (Reprodução/GloboNews)

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