O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) denunciou seis pessoas ligadas ao laboratório PSC Lab Saleme, cujos laudos errados fizeram com que seis pacientes fossem transplantados com órgãos contaminados com HIV. Além disso, na manhã desta quarta-feira (23), Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, sócio do estabelecimento, que era o único investigado ainda solto, se entregou à polícia. Um dos infectados pelo vírus está internado em estado grave.
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Matheus, assim como os demais investigados, tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça na terça-feira (22). Cinco já estavam detidos, mas o sócio se apresentou na Delegacia do Consumidor (Decon), acompanhado por advogados, nesta manhã (veja no vídeo abaixo). A defesa dele não foi encontrada para comentar o assunto.
Na terça-feira, a juíza Aline Abreu Pessanha, da 2ª Vara Criminal de Nova Iguaçu, aceitou a denúncia feita pelo MP-RJ contra Mateus, o pai dele, o ginecologista Walter Vieira, que também era sócio e responsável técnico do laboratório, além dos funcionários: Jacqueline Iris Barcellar de Assis, Ivanilson Fernandes dos Santos, Cleber de Oliveira Santos e Adriana Vargas dos Anjos.
A Promotoria diz que eles cometeram crime de associação criminosa, lesão corporal e falsidade ideológica. Além disso, Jacqueline responde também por falsificação de documento particular, por ter apresentado um diploma de biomédica, que não foi reconhecido pela universidade em questão.
“Os denunciados tinham plena ciência de que pacientes que recebem órgãos transplantados recebem imunossupressores para evitar a sua rejeição, e que a aquisição de qualquer doença em um organismo já fragilizado, principalmente HIV, seria devastadora”, escreveu a promotora Elisa Ramos Pittaro Neves na denúncia.
O texto citou, ainda, que além de uma série de exames com resultados errados, as filiais do PCS Lab Saleme “não possuíam sequer alvará e licença sanitária para funcionamento”.
A Polícia Civil já tinha destacado que o estabelecimento reduziu as análises dos órgãos que seriam transplantados intencionalmente para lucrar. “Houve uma falha de controle operacional na qualidade dos testes de HIV, tudo isso para obter lucro”, disse o delegado Felipe Curi, secretário estadual da corporação.
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Prisão dos suspeitos
O último a ser preso foi Matheus, sendo que Adriana Vargas dos Anjos, coordenadora técnica do laboratório, foi detida na manhã deste domingo (20). Outro preso no caso, o técnico de laboratório Ivanilson Santos, indicou à polícia que era a mulher quem dava as ordens para que os funcionários reduzissem os testes nos órgãos que seriam transplantados.
A suspeita foi localizada por policiais da Delegacia do Consumidor (Decon) em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, durante a segunda fase da “Operação Verum”. O delegado Wellington Pereira, responsável pelas investigações, disse que ela foi questionada a respeito das acusações, mas negou qualquer responsabilidade no caso.
O investigador relevou ao site G1 que Adriana afirmou que a falha ocorrida no laboratório foi “humana”, mas sem indicar responsáveis. “Quem realizou o exame já está sendo punido”, disse ela.
Durante a primeira fase da “Operação Verum”, além de Ivanilson, também foram presos Walter Vieira, além de Jacqueline Iris Bacellar de Assis e Cleber de Oliveira dos Santos.
A defesa dos envolvidos não foi encontrada para comentar o assunto até a publicação desta reportagem.
Internação de paciente infectado
Um dos seis pacientes que recebeu órgãos contaminados com HIV, que é um idoso de 75 anos, precisou ser internado. O homem apresenta quadro grave de saúde, segundo o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz.
A Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro também confirmou a informação, mas não deu outros detalhes sobre o que levou à internação do idoso.
Entenda o caso
O erro que resultou na infecção dos pacientes ocorreu dentro de uma das unidades do laboratório Patologia Clínica Doutor Saleme (PCS-Saleme), contratado pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro. O estabelecimento emitiu laudos negativos de HIV para dois doadores de órgãos que tinham o vírus. Ao todo, nove órgãos foram doados, sendo que seis pessoas foram contaminadas.
O caso só foi descoberto depois que uma pessoa, que foi transplantada em janeiro deste ano, procurou atendimento médico no último dia 10 de setembro. Ela passou por exames, que atestaram a infecção por HIV, confrontando exames anteriores ao procedimento.
Assim, o hospital notificou a Secretaria Estadual de Saúde, que instaurou uma investigação. Havia amostra do sangue de um doador guardada no Hemocentro do Rio, quando novos testes foram feitos e positivaram para HIV. Depois disso, a pasta levantou quem recebeu os órgãos dessa pessoa e descobriu que mais duas delas foram infectadas.
O caso continuou sendo apurado e só no início de outubro foram identificados mais três pacientes contaminados a partir daqueles órgãos, mas isso porque outro homem procurou atendimento médico e descobriu que está com HIV.
Após a repercussão do caso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Vigilância Sanitária do Estado realizaram uma vistoria e fecharam a unidade do laboratório PCS Saleme, localizada dentro de um instituto de saúde na Zona Sul do Rio de Janeiro.
Em nota, o laboratório PCS Saleme disse que os resultados preliminares da sindicância interna apontaram um erro humano na transcrição dos resultados dos dois testes de HIV. Informou também que está à disposição das autoridades e colaborando com o governo do Rio de Janeiro. Além disso, informou que dará todo o suporte necessário às vítimas assim que tiver acesso oficial às identidades delas.