A Justiça de São Paulo marcou a data para o novo júri popular do empresário Paulo Cupertino, acusado de matar o ator Rafael Miguel e seus pais. A sessão deverá ser realizada às 9h do dia 20 de março de 2025, no Fórum Criminal da Barra Funda, Zona Oeste da Capital. O julgamento anterior foi anulado depois que o réu demitiu seu advogado alegando que se sentia “indefeso”. Apesar disso, como os depoimentos da filha e ex-mulher dele foram gravados, elas não precisarão depor novamente.
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Para o novo júri, que tem previsão de dois dias de duração, sete outros jurados deverão ser escolhidos. Outras testemunhas do caso, mesmo as que já falaram anteriormente, poderão ser convocadas para novas oitivas.
Cupertino, que é réu por triplo homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e recurso que impossibilitou a defesa das vítimas, segue preso no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Guarulhos, na Grande São Paulo.
Ele sempre alegou inocência, mas nunca quis falar sobre o crime. Porém, às vésperas do júri, quando ainda era representado por Lopes, afirmou que viu quem foi a pessoa que atirou no ator.
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Julgamento anulado
O primeiro julgamento do caso foi realizado no último dia 10 de outubro, mas acabou anulado depois que o réu demitiu seu advogado. Antes disso, no entanto, depuseram a sua filha, Isabela Tibcherani Matias, e a ex-mulher, Vanessa Tibcherani.
A primeira a depor foi Vanessa, que confirmou que foi o empresário o autor dos assassinatos, lembrou que ele sempre foi agressivo e ainda disse que o homem é “mitomaníaco”, pois mente ao negar o crime.
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“É muito estranho uma pessoa negar veementemente, veementemente, ser tão (...) ah, eu tenho a palavra: mitomaníaco. Ao ponto de falar e afirmar com tanta firmeza de que não cometeu um crime quando, na porta da casa onde o corpo do Rafael estava, com um tiro na cabeça e vários outros pelo corpo, dona Miriam na calçada (...) Seu João Alcisio rolando pela rua (...) e o estabelecimento colado parede com parede (...) Uma câmera aqui, outra aqui. Desculpa, cara, é produção de prova contra si próprio”, afirmou Vanessa (veja no vídeo abaixo).
Além de Vanessa, a filha dela, Isabela Tibcherani Matias, também foi ouvida no júri popular. Elas não queriam depor na presença do réu e pediram os depoimentos fossem feitos de forma virtual. A Justiça negou a solicitação, mas acatou uma recomendação do Ministério Público para que Cupertino fosse retirado do plenário durante as oitivas.
Porém, no momento em que estava no plenário, Vanessa voltou atrás e permitiu que o ex-marido acompanhasse suas falas, sendo que ele continuou algemado. Em uma hora e meia de oitiva, a mulher contou que foi o empresário quem matou o ator e seus pais e ainda lembrou que o homem sempre foi agressivo com ela e a filha.
Na sequência foi a vez de Isabela, que exigiu a retirada de Cupertino do plenário. A jovem também afirmou que foi o pai quem matou Rafael e seus pais. “A mãe do Rafael, quando viu meu pai, ela falou: ‘Você que é o pai de Isabela?’ ‘Não, eu sou a mãe.’ Me puxou para dentro e fechou o portão de maneira agressiva. Mas aí veio o Rafael, falou: ‘Não, vamos conversar’. Segurou o portão (...) Eu já estava dentro de casa (...) E eu ouvi meu pai dizendo: ‘Conversar, nada’. E a partir daí eu só ouvi os disparos. Foram muitos disparos”, relatou Isabela (veja no vídeo abaixo).
“Eu agachei no chão. Com as mãos no ouvido, gritava muito. Falava: ‘Não, não, não’ (...) E quando os disparos terminaram, eu saí e me deparei com a cena, que era o corpo do Rafa em cima do corpo da mãe dele, que estava perto da guia (...), que estava perto do carro, e o corpo do pai do Rafael estava no meio da rua (...) Eles não tiveram tempo de muita coisa”, continuou a jovem.
Isabela se emocionou ao lembrar o comportamento possessivo do pai. “Ele é uma pessoa... não sei a palavra exata, mas... agressiva, me proibia de tudo, não tem um bom olhar para as mulheres. Eu tenho três irmãos homens e o tratamento para comigo sempre foi muito diferente por eu ser mulher. Então, eu senti durante toda a minha vida, toda a convivência com ele, que o tratamento comigo era diferente por conta disso. A proibição, a superproteção, e todo o resto. [Promotora: Pelo fato de você ser mulher?] Sim, tanto que ele falava em brincadeiras e conversas paralelas com pessoas conhecidas: ‘Você só vai namorar depois dos 30, se eu deixar’”, contou a jovem.
Ainda no depoimento, a jovem relatou que depois que Cupertino descobriu que ela namorava Rafael Miguel, a deixou “trancada” em casa por oito meses. Além disso, tomou o celular dela e exigiu que ela lhe repassasse a senha. “[Ele] falava para eu ocupar com a minha cabeça, limpar da casa, que ia passar. [Mais alguma coisa?, questiona a promotora] Ele não se importava muito se eu estava triste ou não”, contou.
Isabela disse que sempre teve medo de que o pai fizesse mal ao namorado, mas nunca imaginou que ele seria capaz de matá-lo. “[Medo de que] me encontrasse, me pegasse num momento, sei lá, numa praça com o Rafael, talvez, e me pegasse a força para me levar para casa. Em momento nenhum a minha cabeça pensou que ele pudesse fazer o que ele fez”, afirmou a jovem.
Quando voltou ao plenário, após a oitiva da filha, Cupertino pediu para falar com o juiz e aí destituiu seu então advogado, Alexander Neves Lopes, alegando que se sente “indefeso”. Dessa forma, como a lei exige que os réus tenham defesa, o juiz anulou o julgamento.
Lopes falou sobre a dispensa e se disse “surpreso” com a postura de Cupertino. “Ele queria de qualquer maneira presenciar o depoimento da filha. Só que ela estava protegida pela lei”, contou o defensor, em entrevista exclusiva ao portal “Metrópoles”.
Morte de Rafael Miguel
O MP-SP afirma que Cupertino cometeu os assassinatos na frente da casa onde Isabela morava com a mãe, no bairro Pedreira, Zona Sul de São Paulo, no dia 9 de junho de 2019. Segundo a acusação, o empresário chegou armado e atirou em Rafael Miguel e contra os pais dele, João Alcisio Miguel e Miriam Selma Miguel. A motivação foi porque ele não aceitava o namoro de sua filha com o ator.
Isabela e sua mãe presenciaram o crime, mas não ficaram feridas. O empresário fugiu na sequência e passou três anos foragido, sendo que nesse período ele se escondeu em outros estados e até em outros países. Ele só foi preso no dia 17 de maio de 2022, escondido em um hotel na capital paulista.
De acordo com as investigações do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) de São Paulo, pelo menos quatro amigos ajudaram Cupertino na fuga. Porém, apenas dois deles tiveram as participações comprovadas pela polícia e respondem ao processo.