A fonoaudióloga luso-brasileira Simone Lopes Bravo revelou que, por cerca de dois anos, já trocou mais de 50 cartas com Francisco de Assis Pereira, o “Maníaco do Parque”. Condenado a 268 anos de prisão por matar sete mulheres e estuprar outras nove, o homem já cumpriu quase 30 anos de reclusão e poderá ser solto em 2028 da Penitenciária de Iaras, no interior de São Paulo. A mulher, que afirma manter o contato com o assassino motivada por curiosidade profissional, foi enfática ao dizer que o serial killer “é uma pessoa doente”.
“Agora nós nos escrevemos por cartas e quem faz a mediação é a advogada. Tenho plena noção de que ele é uma pessoa doente, do mais grave nível”, afirmou Simone, em entrevista ao site UOL.
A fonoaudióloga revelou que tinha interesse em entender como funciona a mente de um serial killer e, por isso, enviou cartas para Francisco e outros detentos no Brasil e em Portugal, onde morava. Ela ficou surpresa quando o “Maníaco do Parque” respondeu e eles passaram a trocar as cartas. Todo esse material deu origem ao livro “Maníaco do Parque: A Loucura Lúcida”.
Simone contou que serial killer foi solícito e logo disse que queria receber uma visita, destacando que o contato dela era “uma resposta de Deus para ele”. Na ocasião, ele já tinha passado 10 anos sem receber nenhum visitante na cadeia.
“Desde então, foram mais de 50 cartas trocadas - e até hoje continuamos. O tema central dele é espiritualidade, tanto é que a primeira coisa que ele pediu para eu levar era uma Bíblia”, contou a fonoaudióloga.
Ela destacou que os conteúdos das cartas muitas vezes eram desconexos. “Muitas vezes precisava da ajuda do psiquiatra para decodificar o que o Francisco dizia, porque o pensamento dele é desorganizado. Às vezes, só escrevia sobre a Bíblia; outras vezes, perguntava, como todo recluso, quando eu iria vê-lo. Começava um assunto, terminava em outro: o que mais me chamava atenção era a desorganização do pensamento”, relatou ela.
“Acho que no início ele confundia um pouco as coisas. Ora me chamava de doutora, ora de meu amor, às vezes me dava nomes como ‘bonequinha’ ou chamava pelo meu nome. Às vezes, eram todos estes nomes na mesma carta”, lembrou a fonoaudióloga.
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Simone disse que esperou um ano até ter o nome incluso na lista de visitantes e poder ir ver o serial killer pessoalmente. A primeira visita ocorreu em abril de 2023. Depois disso, em junho daquele ano, ela se mudou de Portugal para o Brasil, com o intuito de concluir o material do seu livro.
Ao todo, a fonoaudióloga disse que fez 10 visitas a Francisco, sendo que ele demonstrava interesse na vida particular dela, o que a preocupou. “Sei da periculosidade dele e o vejo como um ser humano muito doente. E que não pode estar novamente em sociedade”, ressaltou.
“Ele chegou a perguntar para mim uma vez como seria se ele fosse solto em 2028 [quando deve passar por uma reavaliação]. Francisco disse que, para ele, estava tudo bem se ele não fosse solto. Mas isso é o que ele diz - o que se passa na cabeça dele nunca vamos saber de verdade”, destacou a fonoaudióloga ao UOL.
Possível soltura em 2028
A pena de Francisco foi fixada em 268 anos de prisão, porém, como a condenação é antiga, vale o teto máximo de 30 anos de reclusão, conforme estabeleciam as leis brasileiras. Para os casos recentes, agora os condenados podem ficar até 40 anos na cadeia.
Dessa forma, o serial killer, que atualmente está com 56 anos de idade, poderá ser solto daqui a quatro anos. Para obter a progressão de pena para o regime aberto, no entanto, ele terá que ser aprovado em análises psicológicas feitas por especialistas.
Especialistas e autoridades que têm ligações com o caso se preocupam com o assunto. Uma delas é Edilson Mougenot Bonfim, que foi o promotor do caso, faz um alerta: “Ele será um perigo para a sociedade em qualquer circunstância”.
Em entrevista à coluna “True Crime”, do jornal “O Globo”, Edilson, que atualmente é procurador de Justiça do Ministério Público de São Paulo, disse que não há tempo de reclusão que “recupere” o serial killer para que ele possa voltar a conviver nas ruas. “Francisco é psicopata. Não existe, na medicina mundial, remédio, tratamento ou cirurgia que possa curá-lo”, ressaltou.
“Tenha certeza: o Francisco corre sério risco de cometer novos delitos tão logo saia da penitenciária. Só em um sonho maluco e fantasioso alguém poderia acreditar que esse assassino poderia se reabilitar com progressão de pena. Que ilusão absurda! A psiquiatria mundial é unânime ao afirmar que indivíduos como ele não respondem a nenhum tipo de tratamento. Não existe remédio ou terapia eficaz para casos como o de Francisco. Ele continuará sendo uma ameaça enquanto estiver vivo. É por isso que defendo que ele permaneça preso para sempre, tanto para proteger a sociedade quanto a ele mesmo”, afirmou o procurador.
A mesma tese é defendida pela jornalista Thais Nunes, responsável pela pesquisa investigativa de um documentário sobre o caso, que será lançado em novembro, também foi categórica ao afirmar que, se for colocado em liberdade, o assassino voltará a matar.
“Ele não é um preso comum. É mau, é perverso e não vai parar”, afirmou Thais, em entrevista ao site UOL. A jornalista pesquisou os crimes que chocaram a população nos anos 1990 e levantou materiais inéditos, como áudios dos depoimentos de Francisco, que irão integrar o documentário “Maníaco do Parque: a história não contada”, que estreia dia 1º de novembro no Prime Vídeo.
A pesquisadora afirma que o detento admite que não tem condições de voltar a viver em sociedade e que, ao longo do período na cadeia, não teve acompanhamento psicológico. “Não é aceitável e não podemos conceber isso. Ele não toma nenhum remédio controlado, não faz acompanhamento contínuo. Ninguém sabe como está sua mente”, afirma.
“Ele próprio disse para os psiquiatras que estava com indícios de canibalismo e que provavelmente iria evoluir para antropofagia, algo que já tinha começado. Se ele sair, não tenho a menor dúvida de que volta a matar”, disse a jornalista.
Relembre o caso
Francisco, que trabalhava como motoboy, escolhia suas vítimas e depois as atacava no Parque do Estado, localizado na Zona Sul da capital paulista, onde costumava passear de patins.
Entre os anos de 1997 e 1998, o criminoso atacou diversas mulheres, sempre as atraindo dizendo que era um “caçador de talentos” e que tinha uma oportunidade de campanha publicitária. O homem oferecia, inclusive, pagamento pelas fotografias e muitas das jovens acabaram sendo enganadas.
O Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) encontrou inicialmente os corpos de seis vítimas, sendo que todas apresentavam sinais de violência sexual e estavam nuas. Assim, havia a suspeita de que todos os casos tinham sido cometidos pela mesma pessoa.
A polícia enfrentou dificuldades para chegar até o suspeito, mas ele acabou sendo preso em 1998, depois que foi denunciado por um pescador na cidade de Itaqui, no sul do Rio Grande do Sul, perto da fronteira do Brasil com a Argentina.
Apesar de ser apontado como autor de dez mortes, Francisco foi condenado a 268 anos de prisão por sete, sendo que uma das vítimas não foi identificada. As demais foram: Patrícia Gonçalves Marinho, 24 anos; Selma Ferreira Queiroz, 18 anos; Raquel Mota Rodrigues, 23 anos; Isadora Fraenkel, 19 anos; Rosa Alves Neta, 21 anos; e Elizângela Francisco da Silva, 21 anos.