Uma fiscalização realizada em 2022 pela Coordenadoria de Controle e Uso de Imóveis (CONTRU), órgão da Prefeitura de São Paulo, identificou vários problemas de segurança no sistema anti-incêndio do prédio do Shopping 25, no Brás, no Centro da Capital. Apesar disso, a administração municipal não esclareceu os motivos de não ter embargado o local. Na última quarta-feira (30), um incêndio de grandes proporções atingiu o estabelecimento e destruiu mais de 200 lojas.
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Conforme revelado pelo site G1, o shopping, que pertence à família do empresário chinês Law Kin Chong, o prédio tinha problemas nas saídas de emergência e na sinalização das rotas de fuga, além de não ter as portas corta-fogo e chuveiros hidráulicos adequados, conforme estabelecem as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT/NBR).
Durante a vistoria, os fiscais do CONTRU constataram que o sistema de chuveiros hidráulicos estava sendo substituído e ao menos dois canos foram encontrados sem a devida ligação.
E foi exatamente a falta desses chuveiros hidráulicos o que dificultou o combate ao incêndio da última quarta-feira. Segundo o Corpo de Bombeiros, os equipamentos não estavam funcionando.
Apesar da constatação desses problemas desde 2022 no prédio do Shopping 25, a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) não esclareceu quais foram as providências adotadas e os motivos pelos quais o imóvel não foi embargado.
Segundo o G1, em resposta, a Secretaria de Urbanismo (SMUL) apenas enviou um áudio de uma coletiva do prefeito, em que ele afirma que vai ter uma reunião com os representantes da Associação de Lojistas do Brás (Alobrás) nesta sexta-feira (1°), com participação do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Já o Grupo Paulista de Investimentos e Participações Ltda, que pertence ao chinês Law Kin Chong e a esposa dele, Miriliam Law, informou em comunicado, divulgado na quinta-feira (31) nas redes sociais, que “o prédio conta com Certificado de Segurança emitido pelo Contru e mantinha todos os seus equipamentos de segurança e combate a incêndio em pleno funcionamento”.
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“O prédio mantém brigada de bombeiros civis e atuantes no empreendimento durante o seu funcionamento. Parte do imóvel atingido conta com AVCB válido e vigente até 2027 e outra parte está em processo de renovação”, destacou o texto.
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O incêndio
O incêndio ocorreu por volta das 6h20 de quarta-feira. Um vídeo que circula nas redes sociais mostra o momento em que um box do Shopping 25 começou a pegar fogo. O local estava trancado e funcionários e lojistas tentaram, desesperados, abrir as portas. Eles não conseguiram e as chamas se alastraram pelo prédio (assista abaixo).
As pessoas que estavam no shopping perceberam que uma fumaça saía de um box, que estava com as portas de ferro trancadas, localizado no térreo.
Em meio a gritos desesperados, vários homens tentaram arrombar as portas, mas não conseguiram. Logo depois disso a fumaça se espalhou pelo estabelecimento e as pessoas começaram a correr. Só aí o Corpo de Bombeiros foi acionado.
Depois disso, o incêndio se propagou pelos 18 mil metros quadrados do shopping e destruiu mais de 200 lojas, segundo estimaram os bombeiros. Apesar dos estragos, ninguém ficou ferido. Oito pessoas receberam atendimento médico por conta da inalação da fumaça.
Investigação
O Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) do Shopping 25 estava vencido. De acordo com o capitão Maykon Cristo, responsável pela operação que ainda trabalha para combater as chamas, o documento foi válido até agosto passado e ainda não tinha sido renovado.
“[A documentação] não está em dia. O AVCB tá vencido em agosto desse ano. [Sem o AVCB] poderia estar funcionando apenas em fase de regularização. Não é o caso de se fechar imediato quando não se tem AVCB, mas [precisaria ter bombeiro civil] durante o horário de funcionamento”, esclareceu o capitão à TV Globo.
Segundo Cristo, esse laudo tem que ser renovado periodicamente, pois atesta as condições de segurança para funcionamento do estabelecimento. A direção do Shopping 25 ainda não se pronunciou a respeito do incêndio e do AVCB vencido.
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) abriu um inquérito para apurar o caso. O promotor de Habitação e Urbanismo Moacir Tonani Junior quer saber a existência ou não de documentação necessária para o funcionamento do estabelecimento, além de eventual omissão na fiscalização pelo poder público municipal.
No Cadastro de Edificações do Município (CEDI), é possível ver que o imóvel na Rua Barão de Ladário está irregular desde 2019. O AVCB venceu em agosto, mas segundo o promotor, é preciso checar se os bombeiros deram um prazo para regularização.