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Mãe de menino morto em ação da PM se revolta em enterro: “Deveriam proteger, mas estão matando”

Além de perder o filho, o marido de Beatriz Rosa também foi fuzilado por policiais nove meses atrás

Corpo da criança foi enterrado hoje em Santos, no litoral de SP
Mãe lamentou morte do filho, Ryan Santos, de 4 anos, em ação da PM e relembrou que marido também foi fuzilado em fevereiro deste ano (Reprodução/Redes sociais/Santa Cecília TV)

A cozinheira Beatriz da Silva Rosa, mãe do menino Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos, que morreu ao ser atingido por um tiro durante uma ação policial, em Santos, no litoral de São Paulo, se revoltou durante o enterro, realizado na manhã desta quinta-feira (7). Muito abalada, precisando até ser carregada em uma cadeira de rodas, ela lamentou a perda do filho e lembrou que o marido, Leonel Andrade Santos, de 36, também foi fuzilado em uma ação da Polícia Militar, em fevereiro passado.

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“Não é segurança. Eles [policiais militares], que deveriam nos proteger, estão nos matando”, disse a cozinheira, que ressaltou que não houve confronto com suspeitos, como alegam os agentes, e que só eles atiraram. “Meu sentimento é de revolta. Eu perdi meu marido tem nove meses, a polícia matou. Agora eu perdi o meu filho assim”, disse.

Beatriz também relembrou o momento que viu o filho ferido pelo tiro. “Ele conseguiu caminhar até a área da casa minha prima. Ele levantou a camisa e quando eu olhei estava com um buraco [na barriga], ficou uns cinco minutos me olhando, ficando roxo e pálido. Eu perdi um pedaço de mim. Meu filho estava brincando na rua, todo alegre. Eu ainda estou em estado de choque. Eu não acredito”, lamentou a mãe.

O corpo de Ryan foi velado na Santa Casa de Santos e enterrado nesta manhã no Cemitério da Areia Branca. Parentes e amigos estavam muito emocionados e seguravam bexigas brancas para homenagear o menino.

Mãe se revoltou e cobrou justiça
Familiares e amigos estavam emocionados no enterro do menino Ryan Santos, de 4 anos, baleado em ação policial em Santos, no litoral de SP (Reprodução/Metrópoles)

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O confronto entre policiais e suspeitos ocorreu na noite da última terça-feira (5). Os PMs disseram que perceberam a movimentação em um ponto de venda de drogas e, ao procurar os envolvidos, foram recebidos a tiros e revidaram. Nesse momento, Ryan, que brincava em uma calçada, foi atingido e, mesmo sendo socorrido, morreu.

Além dele, dois adolescentes, de 17 e 15 anos, também foram baleados. Ambos foram socorridos, mas o mais velho não resistiu aos ferimentos e faleceu. O outro segue internado e mantido sob escolta policial. A PM afirma que eles eram suspeitos.

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Em entrevista coletiva, na quarta-feira (6), o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, defendeu a ação dos policiais militares. Ele lamentou o falecimento do garoto, mas ressaltou que os PMs foram recebidos a tiros no Morro São Bento e tiveram que reagir. Apesar dessa versão, a comunidade nega e diz que só os agentes atiraram.

“A gente lamenta muito, um dia triste para o estado de São Paulo, para as forças policiais. Uma criança inocente, uma vida que foi interrompida, lamentavelmente, mas dizer que nenhum policial queria que essa tragédia acontecesse”, disse Derrite. “Isso só aconteceu infelizmente porque os policiais foram agredidos a tiros. Não era uma operação que estava acontecendo, tem que contextualizar isso”, ressaltou o secretário.

Segundo o coronel Emerson Massera, porta-voz da Polícia Militar, o tiro que atingiu o menino provavelmente partiu da arma de um policial. Ele destacou que sete agentes que participaram da ação foram afastados das funções nas ruas enquanto o caso é apurado.

Segundo o coronel, será realizado o confronto balístico para confirmar a origem do projétil que atingiu a criança. “Em um levantamento inicial, pela dinâmica, pelo cenário da ocorrência, nós entendemos que provavelmente esse disparo partiu de um policial militar. Teremos essa certeza depois do laudo da perícia”, afirmou Massera.

“Quero morrer para ver meu pai”

Beatriz revelou que Ryan nunca tinha superado a morte do pai e até falava em “morrer para reencontrá-lo”.

“Todo dia eu tenho que explicar. Todo dia eles perguntam do pai. Esses dias meu filho mais novo [Ryan] falou: ‘Mamãe, eu quero morrer’. Aí, eu desviei o olhar, tentei conversar de outra coisa para ver se ele se distraía. E ele repetia: ‘Mamãe, olha para mim, eu quero morrer, e tem que ser agora, porque eu quero ver meu pai’. ‘Filho a gente não pode antecipar isso, Deus vai preparar nossa hora e um dia a gente vai rever o papai, mas por enquanto a gente vai ter que caminhar’”, revelou Beatriz ao portal “Metrópoles”.

Leonel, que tinha uma deficiência na perna e andava de muletas, foi morto por policiais militares em fevereiro passado durante a “Operação Verão”. Os agentes do Comando de Operações Especiais (COE) disseram que o homem estava armado e teria atirado ao avistar os policiais. Um amigo da vítima, Jefferson Ramos Miranda, de 37 anos, também foi baleado na ocasião e faleceu.

Na época, os parentes de Leonel denunciaram que o homem foi fuzilado, sem chance de defesa, e não foi socorrido. Eles tentaram chegar até o local para vê-lo, mas foram impedidos. Tanto a vítima, quanto o amigo, foram levados para a Santa Casa de Santos, mas não resistiram.

Casos ocorreram na mesma região, em Santos
Menino Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos, morto por uma bala perdida, perdeu o pai, Leonel Andrade Santos, de 36, em fevereiro; homem foi fuzilado em operação policial (Reprodução/Redes sociais)

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