Um laudo feito pelo Instituto de Criminalística (IC), da Superintendência da Polícia Técnico-Científica, em São Paulo, apontou que o empresário Igor Ferreira Sauceda, de 27 anos, dirigia a 102,3 km/h no momento em que perseguiu e atropelou o motociclista Pedro Kaique Ventura Figueiredo, de 21, na Avenida Interlagos. Essa velocidade era mais do que o dobro do limite, já que a máxima permitida na via é de 50 km/h. O condutor do carro de luxo virou réu no caso e segue preso.
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“Constatação da velocidade no momento da colisão: através da avaria registrada no momento exato da colisão, a unidade do PSM registrou uma velocidade de 102.375km/h no momento do impacto (29/07/2024 01:15:53 AM). Esta é a velocidade real registrada, sem desvio padrão ou margem de erro”, destacou o laudo do IC, que anexou o documento ao processo que corre na Justiça na quarta-feira (6).
Os peritos analisaram os dados contidos no módulo veicular do Porsche, uma espécie de “caixa preta”, com ajuda da montadora, que disponibilizou os equipamentos e infraestrutura necessárias.
“Para se tornar possível alcançarmos a velocidade no momento da colisão temos que recorrer à leitura da unidade eletrônica do PSM (Porsche Stability Management) através do VAL (Vehicle Analisys Log). Esta unidade é a responsável por ler os dados da velocidade do veículo através da velocidade individual das 4 rodas,” destacou o laudo.
O documento citou, ainda, que não foram observadas nos veículos e na pavimentação “anomalias que pudessem justificar o ocorrido”.
Nas análises, os peritos também usaram um scanner 3D e drones para fazer uma animação simulada de como ocorreu a batida entre o Porsche e a motocicleta. O caso foi investigado pelo 30º Distrito Policial (DP) do Tatuapé, que também colheu depoimentos de testemunhas.
A defesa de Igor não foi encontrada para comentar o assunto até a publicação desta reportagem.
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Empresário segue preso
No último dia 30 de setembro, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou um pedido de liberdade feito pela defesa do empresário. Em agosto passado, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) também já tinha negado a soltura de Igor.
O rapaz segue cumprindo prisão preventiva no Centro de Detenção Provisória (CDP) II em Guarulhos desde julho deste ano. Ele virou réu no caso e responde por homicídio triplamente qualificado por motivo fútil, emprego de meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima.
Na época em que foi denunciado pelo Ministério Público, a promotora Renata Cristina de Oliveira Mayer ressaltou que Igor teve a intenção de matar e agiu com “brutalidade fora do comum”.
A promotora escreveu no documento que o empresário “deliberou matar Pedro somente porque se irritou com o fato dele ter danificado o seu carro” e lembrou que a vítima foi atingida pelas costas “em alta velocidade”, o que resultou no “recurso que dificultou a defesa”.
Relembre o caso
O motociclista e auxiliar de transportes escolar Pedro Kaique Ventura Figueiredo, de 21 anos, morreu após ser atropelado por Igor Sauceda no dia 29 de julho deste ano. Imagens de câmeras de segurança registraram o Porsche perseguindo a moto em alta velocidade (assista abaixo).
Ao ser ouvido pela polícia, Igor sustentou que o atropelamento foi acidental, mas deu versões divergentes sobre o que aconteceu. Ele afirmou que estava a 70 km/h, mas, segundo a polícia, o condutor do carro de luxo perseguiu e atingiu a vítima, em alta velocidade, em um “momento de fúria”.
Inicialmente, em depoimento no 11º Distrito Policial de Santo Amaro, quando a polícia ainda não tinha acesso às imagens que registraram o atropelamento, Igor disse que seguia pela faixa central da via, quando o motociclista “passou por sua lateral esquerda e quebrou seu retrovisor”. Ele disse que “não conseguiu identificar o emplacamento e demais características, pois as luzes do motociclo estavam desligadas”.
Depois disso, o empresário disse que o motociclista entrou na sua frente de forma “abrupta” e, mesmo tentando desviar, ele não conseguiu evitar o atropelamento. Até aquele momento, ele tinha passado por um exame toxicológico, que tinha dado negativo, e a polícia tratava o caso como um acidente sem a intenção de matar.
No entanto, cerca de 10 horas depois, quando a polícia já tinha visto as imagens que mostraram o Porsche perseguindo a moto em alta velocidade, Igor foi novamente ouvido, desta vez no 48º Distrito Policial.
Neste segundo depoimento, ele disse que o desentendimento com Pedro Kaique teve início na altura do Autódromo de Interlagos, que fica a cerca de 3 km do local do atropelamento. A investigação, então, entendeu que houve uma perseguição e o caso passou a ser tratado como homicídio doloso, com dolo eventual por motivo fútil ou torpe, e o empresário foi preso.
Ele passou passou por uma audiência de custódia no dia 30 de julho, quando teve a prisão preventiva decretada pela Justiça. Na decisão, a juíza Vivian Brenner de Oliveira destacou que as imagens mostram que o condutor usou o carro de luxo “como verdadeira arma”.
Igor é um dos sócios do bar Beco do Espeto, localizado no bairro Itaim Bibi, na Zona Oeste de São Paulo, que foi alvo de uma tentativa de incêndio após a repercussão da morte do motociclista. Por conta da sociedade no estabelecimento, inclusive, ele acumula uma série de problemas, entre denúncias de ameaçar, perseguir e até dar um calote milionário em ex-sócios.