O promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), explicou os motivos que levaram o empresário Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, de 38 anos, delator do PCC e de um esquema de corrupção de policiais, a se recusar a entrar no programa de proteção. O homem foi assassinado a tiros de fuzil logo após desembarcar no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, quando portava uma mala com R$ 1 milhão em joias. A Secretaria de Segurança Pública criou uma força-tarefa para investigar o caso.
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Em entrevista à GloboNews, o promotor, que integra o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo (Gaeco), disse que o empresário não queria deixar de conviver com familiares e amigos e, por isso, se recusou a entrar no programa de proteção. Além disso, ele não queria se mudar de casa e abrir mão do estilo de vida, optando por bancar a própria segurança.
“O Ministério Público ofereceu a todo momento a inserção do Vinicius no programa de proteção de réu colaborador. Ele, na presença de seus advogados, se negou a ingressar nesse programa. Embora soubesse que corria risco, dizia que podia custear a própria segurança”, afirmou Gakiya.
O promotor explicou que, quando uma pessoa entra no programa de proteção, tem que seguir uma série de medidas. “Ele precisa romper todos os laços com a sua vida, inclusive com o envolvimento com o crime. Ele deixa sua moradia, seu trabalho, os laços familiares e vai para o programa, mas ele [Gritzbach] se recusou a ir para esse programa”, ressaltou.
O empresário, que delatou esquemas do PCC na Capital e também a ação de policiais corruptos, era réu em um processo por lavagem de dinheiro da facção criminosa. Ele teria atuado para lavar R$ 30 milhões provenientes do tráfico de drogas.
Além disso, respondia a um processo criminal por duplo homicídio, ao mandar matar um ex-chefe do PCC chamado “Cara Preta’” e o motorista dele, em dezembro de 2022. Ele ainda era alvo de várias ações por lavagem de dinheiro e estava em liberdade por ter obtido um habeas corpus junto ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Quando foi morto, na última sexta-feira (8), o empresário portava uma mala cheia de joias e objetos de valor, avaliados em R$ 1 milhão. Familiares contaram à polícia que ele tinha ido até Maceió, em Alagoas, acompanhado da namorada, para cobrar uma dívida de um conhecido, mas sem detalhar, de fato, qual era o teor dessa negociação.
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Segundo o site G1, em uma das bagagens, o empresário trazia 11 anéis prateados com pedras rosadas, outras esverdeadas, em formas de coração e de pingo; seis pulseiras esverdeadas e douradas; dois colares prateados em forma de pingo e com pingentes, além de pares de brincos com pedras verdes, azuis e prateadas.
Agora, a investigação apura se esses itens de valor, que tinham certificado de joalheiras de luxo como Bulgari e Cartier, têm alguma relação direta com o crime.
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Investigação ganha força-tarefa
A SSP-SP instaurou uma força-tarefa para investigar a morte de Gritzbach, que terá a participação de seis membros das forças de segurança paulistas. O grupo será coordenado pelo secretário-executivo da pasta, delegado Osvaldo Nico Gonçalves.
Os demais integrantes da força-tarefa são o delegado Caetano Paulo Filho, diretor do DIPOL; a delegada Ivalda Aleixo, diretora do DHPP; o coronel da PM Pedro Luís de Souza Lopes, que é chefe do Centro de Inteligência da Polícia Militar; o coronel Fábio Sérgio do Amaral, corregedor da PM; e Karin Kawakami de Vicente, perita criminal de Classe Especial.
A SSP-SP ressaltou que o objetivo é que o grupo faça uma troca direta de informações com o Ministério Público para colaborar “de forma complementar com autoridades federais, sem prejuízo da condução principal das investigações pelo estado”.
A força-tarefa foi criada pela pasta após um pedido do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que cobrou do secretário de Segurança, Guilherme Derrite, uma resposta rápida sobre a morte de Gritzbach.
O ataque
O atentado contra Gritzbach ocorreu na última sexta-feira (8). Conforme a polícia, ele foi atingido por quatro tiros de fuzil no braço direito, dois no rosto, um nas costas, um na perna esquerda, um no tórax e um no flanco direito (região localizada entre a cintura e a costela).
O motorista de aplicativo Celso Araujo Sampaio de Novais, de 41 anos, que também foi baleado no atentado, morreu no sábado (9). O homem chegou a gravar um vídeo enquanto era socorrido em uma ambulância, mas não resistiu. Ele, que não tinha nenhuma ligação com o empresário, foi sepultado nesta manhã no Cemitério Memorial Vertical Guarulhos, na Grande São Paulo.
Além de Celso, outras duas pessoas ficaram feridas após serem atingidas por tiros. Ambas receberam atendimento médico e já foram liberadas.
Gritzbach sabia que sua cabeça estava a prêmio e já tinha entregado ao Ministério Público de São Paulo um áudio onde dois interlocutores negociavam a morte dele por R$ 3 milhões.
A gravação foi feita pelo próprio empresário. Ele estava em seu escritório com um policial civil amigo quando o agente recebeu uma ligação de uma pessoa ligada a uma das empresas de ônibus de São Paulo suspeita de integrar a facção criminosa.
O policial deixou o telefone em viva voz para que o empresário escutasse e o autor da ligação pergunta ao policial se “3″ estava bom (referindo-se aos R$ 3 milhões) e se o passarinho (Gritzbach) já estava voando (saindo de casa). A ligação é encerrada momentos depois.
Sem que o policial soubesse, Vinicius gravou essa ligação em seu próprio telefone e a apresentou ao MP pedindo reforço de sua escolta, mas ele acabou sendo assassinado.