No último sábado (16), durante um jogo de handebol entre a Faculdade de Direito Largo de São Francisco (USP) e a PUC-SP, Manuela Ramos, estudante da USP, percebeu que a torcida da PUC começou a proferir ofensas racistas e classistas. Em entrevista à Marie Claire, a jovem contou como foi a abordagem.
“Comecei a notar que algumas pessoas da torcida da PUC estavam subindo na grade que cerca a quadra e apontando para pessoas específicas da torcida da São Francisco, fazendo gestos de dinheiro, chamando as pessoas de pobres e cotistas, mostrando o dedo do meio. Uma dessas pessoas olhou diretamente para mim e perguntou qual era o meu PIX para me mandar esmola”, contou Manuela, que é do coletivo Quilombo Oxê, da USP.
As ofensas se intensificaram, e a amiga de Manuela, Juliana, gravou um vídeo onde membros da torcida chamam a torcida adversária de “pobre” e “cotista”, usando termos como “cotista filho da puta”.
Juliana também relatou: “Comecei a fazer leitura labial e percebi que estavam gritando ‘cota’, ‘cotista filha da puta’. Quando confirmei, comecei a gravar.” Apesar de as ofensas não serem direcionadas a ela diretamente, Juliana se sentiu atingida como cotista.
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Identificação dos estudantes
A partir dos vídeos, os agressores foram identificados como alunos da PUC-SP: Tatiane Joseph Khoury, Arthur Martins Henry, Matheus Antiquera Leitzke e Marina Lessi de Moraes. Eles foram demitidos de seus estágios em grandes escritórios de advocacia.
A PUC-SP declarou estar investigando o caso, mas os coletivos de estudantes exigem ações mais profundas, como programas de enfrentamento ao racismo nas universidades.
“Não basta só a expulsão dessas pessoas, embora isso seja extremamente importante. O que estamos exigindo é que sejam tomadas medidas mais estruturais, como um programa de enfrentamento ao racismo dentro da PUC, dentro da São Francisco e dentro da organização dos Jogos Universitários”, disse Manuela.
Coletivos de alunos da PUC-SP afirmaram que ataques racistas contra negros e bolsistas são comuns na universidade. “Esses episódios acontecem diariamente nas salas e corredores da PUC-SP”, relataram integrantes do Coletivo Da Ponte Para Cá.
O ocorrido gerou apoio externo, com a Câmara dos Vereadores e a Defensoria Pública cobrando uma resposta das universidades e a responsabilização criminal dos agressores.