O padre José Eduardo de Oliveira e Silva, da Diocese de Osasco, na Grande São Paulo, é um dos 37 indiciados por uma tentativa de golpe de Estado que cogitou inclusive matar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Morais. Famoso nas redes sociais, onde é seguido por mais de 420 mil pessoas, o religioso já prestou atendimento espiritual ao ex-presidente Jair Bolsonaro, outro indiciado pelo esquema.
Nas redes, o padre se apresenta como “sacerdote, pároco e professor”, onde vende cursos virtuais sobre temas ligados ao catolicismo, como o “código do matrimônio” e “batalha espiritual” contra o mal. Ele também é conhecido por vídeos publicados no YouTube discutindo temas como aborto, guerra cultural e a influência das músicas e divas pop na vida de crianças e adolescentes.
Ele é o vigário oficial da “Paróquia São Domingos – o Pregador”, no bairro de Umuarama, em Osasco. Integrante da ala conservadora da Igreja Católica, o religioso comemora 18 anos de sacerdócio neste ano.
Conforme as investigações da Polícia Federal, o padre participou de reuniões com Bolsonaro para discutir propostas que pudessem impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no fim de 2022. O plano pretendia obter a decretação do estado de sítio e prisão de autoridades. Tudo isso para que Bolsonaro seguisse no poder.
O religioso é citado pela PF como integrante do núcleo jurídico do esquema, sendo que assessorava os membros do suposto plano na elaboração de minutas de decretos com fundamentação jurídica e doutrinária que atendessem aos interesses golpistas.
Ao ser ouvido no inquérito, o padre disse à PF que nunca participou de reunião no Palácio do Planalto com conotação política ou sobre golpe. No entanto, ele confirmou que se encontrou com Bolsonaro para prestar “apoio espiritual”, pois ele seguia abalado com a facada que levou durante a campanha eleitoral de 2018.
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O padre já tinha sido alvo da “Operação Tempus Veritatis”, da PF, deflagrada em fevereiro deste ano. Na época, foram cumpridos 33 mandados de busca e apreensão e quatro mandados de prisão preventiva contra pessoas acusadas de participação na elaboração da tentativa de golpe de estado no Brasil.
Após o nome do religioso aparecer na lista de indiciados, o advogado dele, Miguel Vidigal, disse ao site G1 que seu cliente não tem nenhuma ligação com tentativa de golpe.
“Menos de 7 dias depois de dar depoimento à Polícia Federal, meu cliente vê seu nome estampado pela Polícia Federal como um dos indiciados pelos investigadores. Os mesmos investigadores não se furtaram em romper a lei e tratado internacional ao vasculhar conversas e direções espirituais que possuem garantia de sigilo e foram realizadas pelo padre”, disse o defensor.
“A nota da Polícia Federal com a lista de indiciados é mais um abuso realizado pelos responsáveis da investigação e, tendo publicado no site oficial do órgão policial, contamina toda instituição e a torna responsável pela quebra da determinação do ministro”, ressaltou Vidigal.
Indiciados
Além do padre e de Bolsonaro, também foram indiciados pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa: o general Braga Netto, ex-ministro de Bolsonaro; Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro; Alexandre Ramagem, chefe da Agência Brasileira de Inteligência no governo Bolsonaro e mais 32 pessoas.
Após a repercussão do caso, Bolsonaro concedeu uma entrevista ao portal ‘Metrópoles’ e, em seguida, a publicou em seu perfil no X, antigo Twitter. “O ministro Alexandre de Moraes conduz todo o inquérito, ajusta depoimentos, prende sem denúncia, faz pesca probatória e tem uma assessoria bastante criativa. Faz tudo o que não diz a lei”, declarou.
“Tem que ver o que tem nesse indiciamento da PF. Vou esperar o advogado. Isso, obviamente, vai para a Procuradoria-Geral da República. É na PGR que começa a luta. Não posso esperar nada de uma equipe que usa a criatividade para me denunciar”, concluiu Bolsonaro.
Agora, Alexandre de Moraes analisará os indiciamentos e os enviarão à Procuradoria-Geral da República. Então, será decidido se apresentará denúncias contra os envolvidos. Se o STF as acatar, os investigados viram réus.