A modelo Ana Paula Minerato fez uma live em seu Instagram, na terça-feira (26), quando pediu desculpas pelo ataque racista contra a cantora Ananda, do grupo Melanina Carioca. Em conversa com o ex-namorado, o rapper KT Gomez, ela chamou a artista de “neguinha” que tem “cabelo duro”. A loira confirmou a autoria das falas, que vazaram nas redes sociais, mas alegou que viveu um relacionamento “tóxico e abusivo”, o que a levou a cometer o ato.
O Instagram da modelo saiu do ar após a live. Mas o vídeo foi publicado pelo site “UOL” (veja abaixo):
“Eu estou muito mal, porque eu sei que foi algo horrível. Até quero pedir desculpa para todo mundo que se sentiu ofendido, porque realmente foi uma ofensa a uma pessoa que eu nem conheço. Então eu quero muito pedir desculpa para todo mundo, quero pedir desculpa pra Ananda, pedir desculpa de verdade, deixar aqui registrado o meu pedido de perdão”, disse Ana Paula na live, enquanto chorava.
A modelo não citou nomes, mas deixou claro que viveu um relacionamento conturbado com o rapper, que a “colocou contra Ananda”.
“Vivi nesses últimos meses dentro de um relacionamento muito tóxico, abusivo, onde eu só fui judiada, só fui manipulada, com uma pessoa que só quis tirar de mim o pouquinho que eu tinha e conseguiu agora, uma pessoa que fez tudo por fama”, disse a modelo.
“Essa pessoa só ficava falando para mim que queria três coisas de mim. Que eu indicasse ele para um reality, que a música dele tocasse na Band, que eu postasse ele nas minhas redes sociais”, continuou.
Ana Paula disse, ainda, que tentou sair do relacionamento, mas não conseguiu. “Eu tinha medo também de me afastar e acontecer um pior. Então, por esse medo, eu ficava perto para poder vigiar se ele ia fazer alguma coisa contra mim. E ele fez”, lamentou ela. “Eu já tinha sido invadida de tudo que era jeito. Ele já pegou meu celular, pegou coisas minhas [...] até vídeo nosso íntimo, ele gravava. E eu ficava com muito medo também de algum vídeo desses vazar. Esse era um dos motivos [pelos quais] eu ficava próxima também.”
Por fim, a loira voltou a se desculpar pelas falas racistas. “Ele usou essa traição que ele fez com essa Ananda, comigo, para poder botar ela contra mim. Ele botou ela contra mim muitas vezes. Muitas, muitas, muitas vezes. Mostrou vídeos. Falava dela, e falava coisas terríveis. E se um dia eu puder ter a oportunidade de contar para ela, eu vou contar ainda o que ele falava dela [...] Ele fazia com que eu falasse, e eu falei coisas terríveis. Estou com muita vergonha”, ressaltou Ana Paula.
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Após a live, o rapper foi procurado, mas disse que não iria se pronunciar. Ele já tinha negado ter sido o responsável pelo vazamento dos áudios e disse que vai processar quem o fez.
“Em razão das recentes acusações feitas contra nosso cliente, senhor KT Gomez, esclarecemos que ele nega veementemente qualquer envolvimento na divulgação de um áudio com teor racista, supostamente relacionado à cantora Ananda.
As alegações feitas em redes sociais são infundadas e absolutamente desprovidas de provas. Até o momento, não foi apresentada qualquer evidência que vincule nosso cliente à divulgação do referido material. Ressaltamos que a responsabilidade por acusações tão graves deve sempre ser acompanhada de elementos concretos, e não de suposições que possam comprometer a honra de terceiros.
Nosso cliente repudia veementemente qualquer manifestação de cunho racista ou preconceituoso. O senhor KT Gomez sempre pautou sua vida pelo respeito, igualdade e convivência harmônica, valores não apenas que defende, mas pratica cotidianamente. Ele jamais compactuaria com qualquer conduta contrária a esses princípios”, destacou a nota divulgada pelos advogados do rapper.
Entenda o caso
Os áudios com ataques racistas contra a cantora Ananda passaram a circular nas redes sociais no domingo (24), sendo Ana Paula falava sobre a aparência física da artista.
“Empregada do cabelo duro. Você gosta de cabelo duro? Não sabia que você gostava de mina com cabelo duro. Você gosta de mina com cabelo duro? Cabelo duro você gosta? Você gosta de mina de cabelo duro, de neguinha? Você gosta de neguinha? Porque isso aí é neguinha, né. Alguém ali o pai ou a mãe veio da África”, disse a modelo. “Ela é feia, hein. Ela é feia. Essa faixa de nega aqui que ela usa”, ressaltou.
Em outro trecho da conversa, continuou a fazer ofensas contra a artista, a chamando de “empregada de cabelo duro” (veja abaixo).
Após a repercussão, Ananda se pronunciou em seu Instagram: “Estava de boa aqui na praia, curtindo a minha quando de repente me deparo com esse absurdo advindo de uma pessoa que, com todo respeito, você se acha tão bonita assim para desmerecer a beleza de outras pessoas que são diferentes de você?”, disse ela.
Demissões
Por conta do episódio, Ana Paula foi desligada da escola de samba Gaviões da Fiel e também da Band, onde apresentava um programa de rádio diário.
A Gaviões da Fiel anunciou na segunda-feira (25) o desligamento da modelo da escola de samba e destacou que a decisão ocorreu “após a divulgação de condutas incompatíveis com os valores e princípios que defendemos, incluindo manifestações de cunho racista”.
“Reforçamos que o combate ao racismo é uma luta permanente do Gaviões da Fiel, que se posiciona de forma intransigente contra qualquer atitude discriminatória. Não toleramos comportamentos que desrespeitem a igualdade e a dignidade humana, pilares fundamentais do nosso compromisso com a sociedade. Seguiremos firmes em nossa trajetória de respeito, inclusão e justiça, valores que sempre guiaram nossa história”, destacou a escola de samba.
Já a informou Band que “repudia veementemente qualquer forma de racismo, discriminação ou preconceito. As declarações de Ana Paula Minerato, mesmo sendo de cunho pessoal, não estão alinhadas com os valores e diretrizes da emissora. Por esse motivo, a colaboradora foi desligada da empresa.”
Processo
A Secretaria Estadual da Justiça e Cidadania de São Paulo instaurou, na segunda-feira (25), por meio da Ouvidoria da Coordenadoria de Políticas para a População Negra (CPPN), um processo administrativo contra Ana Paula. A pasta diz que “notificará as partes envolvidas, garantindo o direito de apresentação de defesa preliminar”.
A medida tem como base a Lei Estadual 14.187/2010, sancionada pelo então governador Alberto Goldman (1937/2019), que regulamenta os processos administrativos por discriminação racial no estado. A pena nesses casos vai de advertência a multa, cujo valor vai de R$ 17.680,00 a R$ 106.080,00.
A secretaria informou que a Coordenadoria de Políticas para a População Negra “está à disposição da vítima, oferecendo acolhimento e orientação necessárias”.