A cantora Ananda, do grupo Melanina Carioca, que foi alvo de ataques racistas feitos pela modelo Ana Paula Minerato, esteve na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), na Lapa, no Rio de Janeiro, quando registrou um boletim de ocorrência. Em postagens nas redes sociais, ela falou que “precisava de um tempo” para entender tudo o que aconteceu e afirmou que vai se pronunciar em breve. Já a loira, que foi desligada da Gaviões da Fiel e da Band, admitiu que fez os ataques e pediu desculpas.
“Acabei de fazer esse registro de ocorrência. Estou só passando para avisar a vocês que logo vou voltar para fazer meu pronunciamento, mas eu precisava desse tempo para poder digerir o que está acontecendo na minha vida nesse momento e tudo que vou precisar falar. Então, para que eu pudesse me pronunciar de forma adequada, não só falando por mim, mas por tudo que isso envolve, eu precisava de um pouco de tempo. Obrigada por vocês estarem tendo essa paciência”, disse Ananda, nos stories de seu Instagram, na noite de quarta-feira (27).
Ana Paula, que em conversa com o ex-namorado, o rapper KT Gomez, chamou Ananda de “neguinha” que tem “cabelo duro”, fez uma live na terça-feira (26), quando chorou e pediu desculpas. Ela confirmou a autoria das falas racistas, que vazaram nas redes sociais, mas alegou que viveu um relacionamento “tóxico e abusivo”, o que a levou a cometer o ato (assista abaixo).
“Eu estou muito mal, porque eu sei que foi algo horrível. Até quero pedir desculpa para todo mundo que se sentiu ofendido, porque realmente foi uma ofensa a uma pessoa que eu nem conheço. Então eu quero muito pedir desculpa para todo mundo, quero pedir desculpa pra Ananda, pedir desculpa de verdade, deixar aqui registrado o meu pedido de perdão”, disse Ana Paula na live, enquanto chorava.
A modelo não citou nomes, mas deixou claro que viveu um relacionamento conturbado com o rapper, que a “colocou contra Ananda”.
“Vivi nesses últimos meses dentro de um relacionamento muito tóxico, abusivo, onde eu só fui judiada, só fui manipulada, com uma pessoa que só quis tirar de mim o pouquinho que eu tinha e conseguiu agora, uma pessoa que fez tudo por fama”, disse a modelo.
Por fim, a loira voltou a se desculpar pelas falas racistas. “Ele usou essa traição que ele fez com essa Ananda, comigo, para poder botar ela contra mim. Ele botou ela contra mim muitas vezes. Muitas, muitas, muitas vezes. Mostrou vídeos. Falava dela, e falava coisas terríveis. E se um dia eu puder ter a oportunidade de contar para ela, eu vou contar ainda o que ele falava dela [...] Ele fazia com que eu falasse, e eu falei coisas terríveis. Estou com muita vergonha”, ressaltou Ana Paula.
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Após a live, o rapper foi procurado, mas disse que não iria se pronunciar. Ele já tinha negado ter sido o responsável pelo vazamento dos áudios e disse que vai processar quem o fez.
“Em razão das recentes acusações feitas contra nosso cliente, senhor KT Gomez, esclarecemos que ele nega veementemente qualquer envolvimento na divulgação de um áudio com teor racista, supostamente relacionado à cantora Ananda.
As alegações feitas em redes sociais são infundadas e absolutamente desprovidas de provas. Até o momento, não foi apresentada qualquer evidência que vincule nosso cliente à divulgação do referido material. Ressaltamos que a responsabilidade por acusações tão graves deve sempre ser acompanhada de elementos concretos, e não de suposições que possam comprometer a honra de terceiros.
Nosso cliente repudia veementemente qualquer manifestação de cunho racista ou preconceituoso. O senhor KT Gomez sempre pautou sua vida pelo respeito, igualdade e convivência harmônica, valores não apenas que defende, mas pratica cotidianamente. Ele jamais compactuaria com qualquer conduta contrária a esses princípios”, destacou a nota divulgada pelos advogados do rapper.
Entenda o caso
Os áudios com ataques racistas contra a cantora Ananda passaram a circular nas redes sociais no domingo (24), sendo Ana Paula falava sobre a aparência física da artista.
“Empregada do cabelo duro. Você gosta de cabelo duro? Não sabia que você gostava de mina com cabelo duro. Você gosta de mina com cabelo duro? Cabelo duro você gosta? Você gosta de mina de cabelo duro, de neguinha? Você gosta de neguinha? Porque isso aí é neguinha, né. Alguém ali o pai ou a mãe veio da África”, disse a modelo. “Ela é feia, hein. Ela é feia. Essa faixa de nega aqui que ela usa”, ressaltou.
Em outro trecho da conversa, continuou a fazer ofensas contra a artista, a chamando de “empregada de cabelo duro” (veja abaixo).
Demissões e processo
Por conta do episódio, Ana Paula foi desligada da escola de samba Gaviões da Fiel e também da Band, onde apresentava um programa de rádio diário.
A Gaviões da Fiel anunciou na segunda-feira (25) o desligamento da modelo da escola de samba e destacou que a decisão ocorreu “após a divulgação de condutas incompatíveis com os valores e princípios que defendemos, incluindo manifestações de cunho racista”.
“Reforçamos que o combate ao racismo é uma luta permanente do Gaviões da Fiel, que se posiciona de forma intransigente contra qualquer atitude discriminatória. Não toleramos comportamentos que desrespeitem a igualdade e a dignidade humana, pilares fundamentais do nosso compromisso com a sociedade. Seguiremos firmes em nossa trajetória de respeito, inclusão e justiça, valores que sempre guiaram nossa história”, destacou a escola de samba.
Já a informou Band que “repudia veementemente qualquer forma de racismo, discriminação ou preconceito. As declarações de Ana Paula Minerato, mesmo sendo de cunho pessoal, não estão alinhadas com os valores e diretrizes da emissora. Por esse motivo, a colaboradora foi desligada da empresa.”
Além disso, a Secretaria Estadual da Justiça e Cidadania de São Paulo instaurou, na segunda-feira (25), por meio da Ouvidoria da Coordenadoria de Políticas para a População Negra (CPPN), um processo administrativo contra Ana Paula. A pasta diz que “notificará as partes envolvidas, garantindo o direito de apresentação de defesa preliminar”.
A medida tem como base a Lei Estadual 14.187/2010, sancionada pelo então governador Alberto Goldman (1937/2019), que regulamenta os processos administrativos por discriminação racial no estado. A pena nesses casos vai de advertência a multa, cujo valor vai de R$ 17.680,00 a R$ 106.080,00.