O cirurgião plástico Josias Caetano dos Santos, que realizou a hidrolipo em Paloma Lopes Alves, de 31 anos, morta após o procedimento, já responde a pelo menos 22 processos por erros médicos na Justiça de São Paulo. Os casos ocorreram entre 2018 e 2021, quando pacientes denunciaram que ficaram com lesões ou foram mutiladas nas cirurgias. Uma delas é Sônia Maria Costa, de 63, que perdeu os mamilos quando tentava uma redução das mamas.
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“Meus mamilos necrosaram, ele fez duas cirurgias e não falou que isso iria acontecer, a gente sabe que há riscos, mas eu me cuidei com enfermeiras, e ele não deu suporte. Meus seios ficaram um maior do que o outro, é um trauma”, disse Sônia, em entrevista ao “UOL”.
A paciente pagou R$ 8 mil pela cirurgia e afirma que, após o erro médico, Josias Caetano a fazia pensar que a situação ocorreu por uma falha dela. “Ele falava que era culpa minha”, lamentou a paciente, que abriu um processo contra o médico em 2023, depois que descobriu que ele tinha feito outras vítimas. “Eu fui para as redes sociais e encontrei várias mulheres que já tinham sofrido algo parecido comigo. O processo está em andamento, a minha perícia está agendada para abril do ano que vem”, detalhou.
O advogado José Beraldo, que representa algumas das vítimas, diz que são 22 processos contra o médico que tramitam na Justiça paulista. “Essas mulheres foram procurar beleza, pagaram por um sonho, no fim restou um pesadelo. Eles se sentem monstras, muitas têm vergonha de usar biquínis em praias e estão abaladas emocionalmente”, destacou.
Ainda conforme o defensor, as ações estão na fase de perícia judicial, sendo que as audiências estão agendadas para o ano que vem no Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo.
Já o advogado Lairon Joe, que defende o médico, afirma que seu cliente nunca foi condenado em nenhum processo. “O doutor Josias não tem uma condenação penal em relação a erro médico. E todos os processos, os inquéritos policiais que foram abertos, todos foram arquivados. Então, nós iremos prestar os esclarecimentos devidos”, afirmou.
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Indenização a paciente
Apesar da defesa dizer que o médico nunca foi condenado, há sim uma decisão de 2021 que determinou que ele pague R$ 50 mil de indenização por danos morais a uma paciente que realizou abdominoplastia, procedimento que remove excesso de pele e gordura abdominal, além de lipoescultura.
A cirurgia ocorreu em dezembro de 2017, sendo que a mulher sofreu uma infecção e perdeu o umbigo. Ela disse que procurou o médico ao notar uma secreção, mas ele a mandou aguardar em casa. Em fevereiro de 2018, ela procurou um hospital, quando foi diagnosticada com infecção grave e precisou ser internada na UTI.
Em novembro de 2018, ela entrou com o processo contra Josias Caetano, quando anexou várias mensagens que tinha trocado com o cirurgião. Em 2021, a Justiça condenou o médico e determinou a indenização, mas a vítima diz que até hoje não recebeu os valores.
Morte após hidrolipo
Paloma Lopes Alves, de 31 anos, morreu após passar por uma hidrolipo com o médico Josias Caetano, na última terça-feira (26). A mulher contratou o profissional pelas redes sociais e naquela data o conheceu pela primeira vez. Ela pagou R$ 10 mil pelo procedimento, que foi pago por meio de transferências bancárias.
Em entrevista à TV Globo, o médico disse que a paciente começou a sentir falta de ar minutos após ser levada para a sala de recuperação pós-operatória e ficou inconsciente rapidamente. Ele acionou uma unidade do Serviço de Atendimento Móvel (Samu), que levou a mulher até o Hospital Municipal do Tatuapé, mas ela não resistiu.
Na unidade hospitalar, foi apontado como causa provável da morte uma embolia pulmonar, mas o laudo da necropsia ainda vai confirmar essa questão.
O marido de Paloma procurou a polícia e registrou um boletim de ocorrência, quando disse que soube que o médico em questão já tinha sido denunciado por vários pacientes por erros em cirurgias. Ele afirma que houve demora no socorro e negligência médica.
“A gente foi fazer o procedimento, e eu estava lá. Fizeram uma negligência enorme. Demoraram muito para chamar o Samu. A hora que eu vi que o Samu estava lá, eu saí correndo. Eles não me informaram o que estava acontecendo. Uma situação muito triste, delicada. Nossa, fora do comum. No hospital, tentaram reanimar, mas ela veio a óbito”, afirmou Everton ao G1.
O caso foi registrado como morte suspeita no 52º Distrito Policial no Parque São Jorge. Os investigadores aguardam os laudos periciais sobre o falecimento.
Já a Clínica Maná Day, localizada na Avenida Conselheiro Carrão, Zona Leste de São Paulo, foi autuada e interditada pela Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), na quarta-feira (27). Conforme o órgão da prefeitura, o estabelecimento exercia atividade irregular, pois não possuía a licença sanitária para procedimentos invasivos.
Os responsáveis pela clínica não foram encontrados para comentar o assunto até a publicação desta reportagem. As redes sociais do estabelecimento também foram desativadas.