Na última terça (3), o governador Tarcísio de Freitas foi obrigado a ir às redes sociais e cortar na própria carne de sua administração. “A Polícia Militar de São Paulo é uma instituição que preza, acima de tudo, pelo seu profissionalismo na hora de proteger as pessoas. Policial está na rua para enfrentar o crime e para fazer com que as pessoas se sintam seguras. Aquele que atira pelas costas, aquele que chega ao absurdo de jogar uma pessoa da ponte, evidentemente não está à altura de usar essa farda”, escreveu.
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Por trás desse “mea culpa”, segundo aliados, está uma profunda irritação com o aumento da letalidade policial no estado, principalmente na Grande São Paulo e litoral, em especial com casos isolados, como o do policial que jogou um homem de uma ponte, de outro que matou um suspeito de furto pelas costas e de um estudante de medicina morto desarmado em uma abordagem em um hotel. Sem falar dos policiais civis denunciados pelo envolvido com o PCC Antonio Vinícius Gritzbach, executado no Aeroporto de Guarulhos e que tinha PMs de folga em sua escolta particular, o que é proibido. O alvo dessa irritação na verdade tem um nome: Guilherme Derrite (PL), secretário de Segurança Pública.
A avaliação de políticos ligados ao grupo de Tarcísio é que o conjunto de casos monopolizando o noticiário do governo e ligados à pasta de Derrite tem potencial para provocar danos à imagem do governador, que está prestes a completar a metade de seu mandato.
Derrite tentou reagir rápido. Também condenou os casos e a Secretaria da Segurança Pública (SSP) determinou, na própria terça (3), o afastamento imediato de 13 policiais militares envolvidos no caso em que um agente da corporação jogou um homem em um córrego do alto de uma ponte em Cidade Ademar, na zona sul de São Paulo.
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Tarcísio demonstrou irritação com o caso a auxiliares, e políticos da base do governador falam sobre o risco para a imagem do governo. O desgaste recai mais diretamente sobre o secretário Guilherme Derrite, cuja gestão à frente da SSP é marcada por aumento da letalidade policial e discurso que é visto como leniente com abusos. Derrite é cotado para disputar vaga ao Senado, e a série de casos de violência policial, por mais que seja tolerada por uma parcela do eleitorado de direita, não o ajuda nesse objetivo.
Na esquerda, o episódio foi explorado pelo líder da oposição na Assembleia Legislativa (Alesp), Paulo Fiorilo (PT). “Novos casos de violência envolvendo policiais e o secretário Derrite quer reduzir o problema a casos isolados de má conduta na PM. A instituição precisa de orientação do governo e o secretário de segurança precisa explicar o aumento absurdo de casos de letalidade policial”, escreveu em suas redes.
A deputada federal Sâmia Bonfim (PSol/SP) também criticou o episódio nas redes e em pronunciamento na Câmara dos Deputados. “A letalidade policial subiu 78% em São Paulo, só em 2024. Isso é reflexo da política levada a cabo por Tarcísio e Derrite, onde primeiro se atira e depois se averigua. Policiais estão autorizados a tudo e em geral saem impunes.”