Parentes e vizinhos da casa onde morava o entregador Marcelo Barbosa Amaral, 25 anos, afirmam que o rapaz deixou a cidade de São Paulo ainda na terça-feira (3), por medo de represália. Ele foi jogado de uma ponte por um policial militar na noite do último domingo (1).
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Na zona sul da capital paulista, a rua em Americanópolis tem muitos parentes e amigos do entregador. Até a tarde de terça, Marcelo ainda circulava pelo bairro.
Por medo de represálias, o rapaz teria optado por deixar São Paulo. Marcelo não mora mais na rua onde tem sido procurado há seis anos. O endereço, porém, é aquele que está atrelado a uma moto apreendida, em seu nome.
Moradores das proximidades da Rua Padre Antônio Gouveia afirmam que Marcelo estava com a cabeça bastante machucada e saiu caminhando de dentro do Córrego do Cordeiro, após a queda de cerca de três metros.
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Uma das testemunhas afirma que a PM começou a passar pelo local, por volta das 21h, tentando abordar jovens que circulavam em motos pela rua, em meio ao pancadão. O rapaz que foi jogado da ponte pelo policial teria passado ao menos três vezes pelo lugar. Quando tentou passar novamente, teria dado de cara com os PMs, que fizeram a abordagem.
Essa mesma testemunha diz que, depois de ser arremessado, o jovem ainda conseguir sair do córrego caminhando, com a cabeça bastante machucada. Os PMs teriam ido embora e, cerca de dez minutos depois, voltaram com um grande efetivo, que cercou as redondezas da ponte e impediu a aproximação das pessoas. A vítima da violência policial não estava mais por lá.
Uma moradora que presenciou o policial militar arremessando o jovem diz que não acreditou no que viu. Contou que o barulho das festas incomoda bastante, mas que considerou como crueldade a maneira como o PM tratou o rapaz.
Uma pessoa em situação de rua diz que ouviu a vítima dizendo para o PM “o senhor não vai atrasar meu lado, né?”, porque ele seria entregador e não queria perder a moto. Na sequência, o rapaz foi arremessado pelo policial.
Segundo a mesma testemunha, outra pessoa teria xingado os policiais. Mas, essa pessoa não seria o rapaz jogado no córrego, que deixou o local com a cabeça bastante machucada.
A Corregedoria da Polícia Militar pediu a prisão do soldado Luan Felipe Alves Pereira, que aparece em vídeo jogando Marcelo Barbosa do Amaral da ponte.
O soldado do 24º Batalhão da PM, da mesma forma que outros 12 policiais, está afastado das ruas desde a repercussão do caso, registrado por uma testemunha em vídeo.
O pedido da Corregedoria foi encaminhado ao Tribunal de Justiça Militar, de onde a prisão do soldado pode ser decretada.
Pelo menos um dos policiais foi ouvido na terça (3): o soldado de primeira classe Luan Felipe Alves Pereira, de 29 anos, apontado como o PM flagrado jogando o homem rendido da ponte, de acordo com as primeiras informações da investigação.
O advogado dele confirmou o depoimento e que Pereira é acusado de ser o autor da agressão, mas disse que não se manifestaria sobre o caso.
O inquérito foi instaurado após a circulação nas redes sociais de imagens em que o PM, integrante da Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (Rocam) do 24º Batalhão Metropolitano, de Diadema, na Grande São Paulo, ergue um suspeito detido e arremessa o homem do alto de uma ponte na Rua Padre Antônio Gouveia.
No registro interno da PM sobre a ocorrência, os policiais omitiram a informação de que um homem havia sido jogado de uma ponte.
Segundo o documento, os policiais dizem apenas que perseguiram suspeitos em motos até chegarem a um baile funk, cujo fluxo teria se dispersado após o surgimento da equipe policial. No momento da confusão, um homem teria sido ferido com um tiro. A origem do disparo não foi especificada.
Eles afirmam que levaram o caso ao 26º Distrito Policial da capital, no Sacomã, mas o registro civil da ocorrência teria sido “dispensado”.
Somente após o comando do 3º Batalhão da Polícia Militar (PM) ficar ciente de um vídeo, feito com celular — no qual um soldado da Ronda com Motocicletas (Rocam) aparece jogando o homem da ponte —, é que o caso foi formalizado, e um inquérito acabou instaurado pela corporação.
Nos registros da PM, feitos após a divulgação do vídeo, é afirmado que membros da Rocam teriam perseguido suspeitos, entre Diadema e a zona sul paulistana, até chegarem às imediações do baile funk.
“Horas depois”, o Centro de Comunicação da PM (Copom) foi informado sobre a internação de um homem, ferido com um tiro, no Hospital Municipal de Diadema. O estado de saúde dele é estável — ele seria submetido a uma cirurgia. O tiro transfixou a vítima, entrando pela região dorsal e saindo pelo abdômen.
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, criticaram a ação do policial que arremessou o suspeito da ponte.
Segundo Tarcísio, o PM que aparece no vídeo “não está à altura de usar a farda” da corporação.
“A Polícia Militar de São Paulo é uma instituição que preza, acima de tudo, pelo seu profissionalismo na hora de proteger as pessoas. [O] policial está na rua para enfrentar o crime e para fazer com que as pessoas se sintam seguras. Aquele que atira pelas costas, aquele que chega ao absurdo de jogar uma pessoa da ponte, evidentemente não está à altura de usar essa farda”, disse Tarcísio em publicação nas redes sociais.
Em vídeo, Derrite disse que “nenhum tipo de desvio de conduta” por parte de policiais do estado será tolerado.
“Quero dizer para todos vocês que essa ação não encontra respaldo nenhum nos procedimentos operacionais da Polícia Militar, e eu determinei ao comando da Polícia Militar o afastamento imediato de todos os policiais envolvidos nessa ação”, afirmou.