A família do menino Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos, que morreu ao ser atingido por um tiro durante uma ação policial, em Santos, no litoral de São Paulo, em novembro passado, ainda aguarda por respostas sobre o que aconteceu. A mãe dele, merendeira Beatriz da Silva Rosa, afirma que ainda não foi procurada pelas autoridades de segurança e que luta para conseguir seguir em frente com outros dois filhos. Ela também perdeu o marido em uma operação da PM em fevereiro passado.
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“Só a prefeitura [de Santos] que ofereceu apoio psicológico. Deles [segurança pública], ninguém”, afirmou a merendeira, em entrevista ao “Metrópoles”.
Beatriz relatou que enfrenta muitas dificuldades para enfrentar o luto com os dois filhos, muito abalados com a perda de Ryan. “Nesses dias, estava sentada no sofá e vi meu filho mais velho soluçando para caramba. Falei ‘o que foi?’ E vi que ele estava vendo os vídeos do irmão [Ryan]. Ele não é de chorar, é fechadão, na dele. Mas se é difícil para a gente, imagina para eles”, lamentou a mãe.
Além da perda do garoto, a família ainda tenta seguir em frente sem o pai Leonel Andrade Santos, de 36 anos, que também foi fuzilado em uma ação da Polícia Militar, em fevereiro passado. O homem, que tinha uma deficiência na perna e andava de muletas, foi abordado por agentes do Comando de Operações Especiais (COE, durante a “Operação Verão”, que disseram que ele estava armado e teria atirado ao avistar os policiais. Um amigo da vítima, Jefferson Ramos Miranda, de 37 anos, também foi baleado na ocasião e faleceu.
Na época, os parentes de Leonel denunciaram que o homem foi fuzilado, sem chance de defesa, e não foi socorrido. Eles tentaram chegar até o local para vê-lo, mas foram impedidos. Tanto a vítima, quanto o amigo, foram levados para a Santa Casa de Santos, mas não resistiram.
Beatriz afirma que segue tentando manter a rotina dos filhos, os levando para a escola, mudando de casa, mas revela que as crianças ainda não entendem o motivo do pai e do irmão terem sido mortos pela polícia. “Eles estavam se recuperando da perda do pai. Agora, perderam o irmão”, ressaltou.
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Morte de Ryan
O confronto entre policiais e suspeitos que resultou na morte de Ryan ocorreu na noite do último dia 5 de novembro. Os PMs disseram que perceberam a movimentação em um ponto de venda de drogas e, ao procurar os envolvidos, foram recebidos a tiros e revidaram. Nesse momento, o menino, que brincava em uma calçada, foi atingido e, mesmo sendo socorrido, morreu.
Além dele, dois adolescentes, de 17 e 15 anos, também foram baleados. Ambos foram socorridos, mas o mais velho não resistiu aos ferimentos e faleceu. O outro seguia internado e mantido sob escolta policial. A PM afirma que eles eram suspeitos.
Logo após a morte de Ryan, o coronel Emerson Massera, porta-voz da Polícia Militar, o tiro que atingiu o menino provavelmente partiu da arma de um policial. Ele destacou que sete agentes que participaram da ação foram afastados das funções nas ruas enquanto o caso é apurado.
Na ocasião, o coronel destacou que seria realizado o confronto balístico para confirmar a origem do projétil que atingiu a criança. “Em um levantamento inicial, pela dinâmica, pelo cenário da ocorrência, nós entendemos que provavelmente esse disparo partiu de um policial militar. Teremos essa certeza depois do laudo da perícia”, afirmou Massera.
Agora, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) reafirmou que o caso é “rigorosamente investigado pela Deic de Santos e pela Polícia Militar”.
“Os agentes envolvidos na ocorrência estão afastados da atividade operacional. A autoridade policial solicitou perícia complementar no local dos fatos, a qual foi acompanhada por familiares da vítima. Diligências prosseguem visando o total esclarecimento dos fatos”, destacou a pasta.
A SSP-SP não informou se alguma autoridade de segurança pública procurou a mãe da criança para prestar esclarecimentos sobre as investigações.
