Os advogados do policial militar Vinicius de Lima Brito, de 24 anos, que matou Gabriel Renan da Silva Soares, de 26, no estacionamento de uma unidade do mercado Oxxo, em São Paulo, no dia 3 de novembro, afirmam que ele “nasceu para ser policial” e descartam que o PM tenha algum problema psicológico.
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Vinicius foi reprovado na primeira vez que prestou o concurso público para a Polícia Militar por não ter passado no exame psicológico da corporação, em 2021. Na época, o então candidato chegou a entrar com uma liminar contra a Fazenda Pública de São Paulo pedindo nova avaliação. O pedido foi negado pela Justiça.
À época, a banca examinadora o considerou inapto por não apresentar relação interpessoal adequada ou capacidade de liderança. Além disso, ele demonstrou ter descontrole emocional.
Os avaliadores indicaram que o candidato apresentou “instabilidade nos contratos sociais” e “tendência a atribuir pouca importância aos sentimentos, desconfiança desmedida e insegurança no trato com figuras de autoridade”.
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Ele foi aprovado no concurso seguinte, em 2022, quando entrou para a Academia de Polícia. Desde 2020, segundo a defesa, o jovem fazia tratamento psicológico particular.
Apesar da reprovação inicial, a defesa do PM descarta que ele tenha algum problema de saúde mental. O resultado negativo no exame teria sido resultado da euforia do candidato, afirmam os advogados.
“Ele está acompanhado por uma psicóloga particular e ela apurou que a euforia, a felicidade de estar realizando um sonho, foi o que eventualmente teria atrapalhado ele no exame”, disse a defesa.
Segundo os advogados, Vinicius “nasceu para ser policial militar”.
Morto pelas costas
O rapaz que morreu na ocorrência, Gabriel Renan da Silva Soares, é suspeito de furtar quatro embalagens de sabão em um Oxxo da Avenida Cupecê, na zona sul da capital paulista. Ao sair do mercado, ele escorregou em um papelão e foi executado por Vinicius, policial militar que estava se preparando para iniciar um dia de trabalho.
Vinicius teria atirado 11 vezes contra Gabriel, que estava desarmado. Câmeras de segurança registraram o momento da execução.
No dia 2 de dezembro, Vinicius foi afastado da corporação. Dois dias depois, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) pediu a prisão preventiva do policial militar.
O pedido foi acatado pela Justiça e Vinicius foi preso no dia 6. Ele está detido no Presídio Romão Gomes, na zona norte da capital.
Pedido de liberdade negado
A defesa do PM, formada pelos advogados Victor Varvello e Carolina Marques Mendes, solicitou a liberdade provisória do acusado, mas o pedido foi negado pela juíza Michelle Porto de Medeiros Cunha Carreiro, da 5ª Vara do Júri.
Segundo a magistrada, não houve nenhuma alteração no decorrer da investigação que pudesse “levar à interpretação de que a prisão mantida é medida inadequada no caso concreto”.
A juíza também considerou que Vinicius tem um histórico que indica “um modus operandi violento e descontrolado”. Para Carolina, a decisão foi “desproporcional” e “precipitada”.
Segundo a defesa, o PM preenche todos os requisitos necessários para a concessão da liberdade provisória, ou ainda para a prisão domiciliar.
“Qual o risco que o policial militar detido em regime de prisão domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica, desarmado, qual o risco que essa pessoa oferece à sociedade?”, indagou Victor.
Outro caso
Além da execução de Gabriel Renan, que resultou na prisão do PM, Vinicius é investigado pela morte de dois homens em São Vicente, no litoral de São Paulo, na madrugada de 18 de dezembro de 2023, quando estava de folga. Ele teria reagido a um assalto quando executou os suspeitos.
A defesa do policial destaca que, até o momento, apenas um inquérito foi aberto para investigar o caso. Contudo, Vinicius ainda não foi denunciado pelas mortes. Com o tempo de 12 meses decorrido, e a rapidez com que a Justiça atuou no caso recente, de execução de Gabriel Renan, os advogados acreditam que sequer ocorra uma denúncia contra o policial. “Ele foi investigado, evidentemente. E em dezembro de 2023 foi instaurado o inquérito. Nós estamos em dezembro de 2024. O Vinicius não foi denunciado. Se hoje ele for denunciado por esse ocorrido, será perseguição judicial por parte do Ministério Público”, disse Victor.
A advogada Carolina destacou que, após o ocorrido, Vinicius permaneceu até meados de fevereiro a março no serviço administrativo da corporação, o que seria uma medida protocolar da Polícia Militar após ações policiais que resultam em morte.
Durante esse período, ele teria feito tratamento psicológico. Ao final da terapia, o PM passou por uma avaliação psicológica que, de acordo com os advogados, o identificou como apto a exercer a função.
Para Carolina, a Polícia Militar é uma instituição “chata” e “metódica”, o que descartaria qualquer descuido em relação à saúde mental e integridade dos membros da corporação. “Eles sabem o quão é importante o policial estar bem”, disse.