A Justiça do Rio Grande do Sul decretou a prisão temporária, por 30 dias, de Deise Moura dos Anjos, apontada como a principal suspeita de envenenar um bolo na cidade de Torres. Três pessoas da mesma família morreram e três precisaram ficar internadas. Segundo a investigação, a mulher, que é nora de uma das vítimas, pesquisou na internet sobre arsênio e envenenou a farinha usada para fazer o doce.
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Deise foi detida no domingo (5) e passou por uma audiência de custódia na segunda-feira (6). Na ocasião, ela teve a prisão temporária mantida e segue no Presídio Estadual Feminino de Torres. Ela é investigada por triplo homicídio duplamente qualificado e tripla tentativa de homicídio duplamente qualificada.
A defesa da mulher não foi encontrada para comentar o assunto até a publicação desta reportagem.
Conforme o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS), uma análise feita no celular de Deise mostrou que, dias antes das pessoas consumirem o bolo, a mulher fez pesquisas pelo termo arsênio e similares. A polícia também confirmou essa informação e afirma que os indícios apontam que ela tenha envenenado a farinha usada para fazer o doce.
Deise é nora de Zeli dos Anjos, de 60 anos, que foi quem preparou o bolo e permanece internada em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), com quadro estável. Testemunhas relataram que a relação das duas não era boa, mas não está claro se a sogra era o alvo da mulher.
Além de Zeli, também foram hospitalizados uma criança de 10 anos e um homem, mas ambos já receberam alta. Já as vítimas fatais do caso são as irmãs Neuza Denize Silva dos Anjos, de 65 anos, e Maida Berenice Flores da Silva, de 58, e a filha de Neuza, Tatiana Denize Silva dos Anjos, de 43.
Conforme o delegado Marcus Vinícius Veloso, responsável pelo caso, uma desavença antiga pode ter sido a motivação do crime. “Uma desavença familiar de mais de 20 anos pode ter motivado o envenenamento”, disse o investigador, sem detalhar exatamente qual foi a briga e quem era o alvo de Deise.
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Apesar disso, Veloso ressaltou que não tem dúvidas sobre a autoria. “Ela [Deise] teve a intenção de cometer o crime. Foi um crime doloso”, ressaltou.
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Alta porcentagem de arsênio
Conforme o Instituto-Geral de Perícias do Rio Grande do Sul, a análise feita na farinha usada no bolo apontou uma alta concentração de arsênio.
“Foram encontradas concentrações altíssimas de arsênio em amostras de sangue, urina e conteúdo estomacal das três vitimas. [Os níveis] são tão elevados que são considerados tóxicos e letálicos, por isso foram mortas. Para se ter ideia, 35 microgramas já são suficientes para causar a morte de uma pessoa. Em uma das vítimas, havia concentração 350 vezes maior do que a literatura permite”, explicou a diretora-geral do órgão, Marguet Mittmann.
A diretora ressaltou que foram analisadas 89 amostras de farinha na casa em que foi preparado o bolo e uma amostra apresentou arsênio em quantidade 2,7 mil vezes superior ao limite aceitável. “É impossível tratar-se de uma concentração natural. É impossível tratar-se de uma receita do bolo”, afirmou.
Relembre o caso
A família se reuniu para um café da tarde, no último dia 23 de dezembro. Sete pessoas estavam na casa, mas uma delas não comeu do bolo. As outras seis começaram a passar mal e precisaram ser levadas ao Hospital Nossa Senhora dos Navegantes de Torres.
Na segunda-feira (23), Maida não resistiu e morreu. No dia seguinte foi a vez da irmã dela, Tatiana. No dia 24 de dezembro, faleceu Neuza.
O marido de Maida também comeu o bolo e foi ao hospital, mas já teve alta. Além dele, a criança de 10 anos precisou ser internada, mas também já se recupera em casa. A única que segue internada é Zeli, que foi quem fez o bolo e é sogra da principal suspeita pelo envenenamento.
De acordo com a Polícia Civil, foram analisados o sangue da mulher que fez o bolo, da criança e de Neuza, sendo que foi identificada a presença de arsênio.
“O próprio hospital levou o material para o Centro de Informação Toxicológico. Nesse centro, foi constatado arsênio no sangue de duas vítimas que sobreviveram e de uma mulher que morreu, a dona Neuza”, explicou o delegado em entrevista à RBS TV.
O arsênio é um elemento químico considerado impróprio para consumo humano, pois pode levar a problemas cardiovasculares, de rins e fígados e, dependendo da quantidade, gera intoxicação crônica e até morte. A venda é restrita a laboratórios que produzem pesticidas.