As equipes da Delegacia Especializada de Investigações Criminais de Taubaté identificaram neste domingo (12) o segundo suspeito de envolvimento no ataque a um assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que resultou na morte de duas pessoas em Tremembé (SP), no Vale do Paraíba. Outros seis ficaram feridos, um em estado grave. A prisão do suspeito já foi solicitada ao Poder Judiciário e a polícia tenta localizar o envolvido.
Segundo a polícia, há indícios que apontam um homem que se chama Ítalo como um dos autores do crime em investigação. Foram realizadas diligências em campo, mas ele não foi localizado em nenhum dos endereços registrados nos sistemas policiais.
No sábado (11), a Polícia Civil prendeu um homem suspeito de ter comandado o ataque. Trata-se de Antônio Martins dos Santos Filho, conhecido como “Nero do Piseiro”. Segundo relato do delegado Marcos Ricardo Parra, chefe da Seccional de Taubaté, o preso teria admitido envolvimento no caso.
Leia mais:
Dois morrem e seis ficam feridos em ataque a assentamento do MST no interior de SP
Suspeito de chefiar ataque a assentamento do MST no interior de SP é preso; dois morreram
“Aguardamos a audiência de custódia do Nero. Vamos acompanhar e aguardar o resultado. Se ele vai ser solto ou se a prisão em flagrante será convertida em preventiva”, afirma Marcos Rogério Pereira Machado, delegado de polícia responsável pela comunicação social da Delegacia Seccional de Taubaté.
De acordo com o delegado Machado, Nero estava escondido no bairro Santa Tereza, em Taubaté, e foi detido em flagrante no local. Com ele, os policiais apreenderam uma moto provavelmente usada para cometer o crime.
Motivação
O delegado alega que o motivo do ataque ainda é investigado, mas que tem relação com uma disputa por um lote do assentamento Olga Benário. “Com o assentamento fechado que é, eles têm ali um entendimento de existir concordância para a admissão de pessoas novas no local. Até onde a gente apurou, essa concordância não teria acontecido nessa comercialização do terreno”, contou o delegado.
“Nero e seu grupo estariam lá para, num primeiro momento, intimidar, mas, como não intimidou e aconteceu, na verdade, uma repulsa da presença deles lá, a gente tem o nascimento de um confronto envolvendo arma branca e arma de fogo e levou a gente para esse resultado trágico de várias mortes e várias pessoas lesionadas”, completou.
Por fim, o delegado explicou que ainda não foi descoberto se o homem que foi preso queria adquirir o terreno ou se estava fazendo a negociação para um terceiro, mas que o problema teve início por causa da disputa por um lote. “A motivação foi o problema interno de pessoas do próprio assentamento, entre elas, ou seja, sem nenhuma conotação com invasão ou proteção de terra. Foi uma cobrança de posição em relação à permissão de negociar o terreno ou não. A gente não conseguiu, até agora, entender se ele era o adquirente ou se ele era o intermediário. Seja como for, ele estava lá para modificar o pensamento dos demais”, disse Parra.
Com Nero, foram apreendidas armas brancas (como foices e facas) e armas de fogo, além de um carro. Tudo passará por perícia, na tentativa de identificar digitais dos criminosos. A Polícia Militar informou que reforçou o policiamento na área do assentamento.
O Olga Benário é regularizado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) há cerca de 20 anos para o MST, e cerca de 45 famílias vivem no local.
O crime
O crime aconteceu na noite da última sexta-feira (10). Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo, testemunhas relataram que os criminosos chegaram em carros e motocicletas no assentamento e começaram a disparar contra os ocupantes. Valdir do Nascimento de Jesus, de 52 anos, líder do movimento local, e Gleison Barbosa de Carvalho, de 28 anos, morreram.
O ataque também deixou seis pessoas feridas. Uma das vítimas está em estado grave, após ser atingida por um disparo na cabeça. O ataque ao assentamento ganhou repercussão nacional, sendo classificado pelas autoridades, inclusive o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como um crime bárbaro.