A Polícia Civil de São Paulo prendeu, na tarde deste sábado (11), o homem suspeito de ser o mentor intelectual do ataque que deixou dois mortos e seis feridos no assentamento Olga Benário, do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), em Tremembé, no Vale do Paraíba, interior do Estado.
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O crime aconteceu na noite da última sexta-feira (10). Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo, testemunhas relataram que os criminosos chegaram em carros e motocicletas no assentamento e começaram a disparar contra os ocupantes. Valdir do Nascimento de Jesus, de 52 anos, líder do movimento local, e Gleison Barbosa de Carvalho, de 28 anos, morreram.
O ataque também deixou seis pessoas feridas. Uma das vítimas está em estado grave, após ser atingida por um disparo na cabeça. O ataque ao assentamento ganhou repercussão nacional, sendo classificado pelas autoridades como um crime bárbaro. A Polícia Civil e a Polícia Federal estão investigando o ocorrido.
Em entrevista coletiva, Marcos Ricardo Parra, o delegado seccional de Taubaté, informou que o homem preso tem 41 anos e é apontado como a pessoa que chefiou o ataque. No boletim de ocorrência, o suspeito foi identificado como Antônio Martins dos Santos Filho, conhecido na região pelo apelido “Nero do Piseiro”.
Segundo o delegado, os policiais conseguiram chegar até o homem porque, no momento da invasão, os criminosos não cobriram o rosto. Com isso, o suspeito, que já era conhecido na comunidade, foi identificado por vítimas que estão hospitalizadas e também por testemunhas que presenciaram o crime.
Ainda segundo Parra, “Nero do Piseiro” foi detido e na delegacia confessou para os policiais que ele participou do ataque no assentamento. Agora, comparsas são procurados por participação no crime. Não há uma estimativa de quantas pessoas são.
“Ele confessou o crime. Não só confessou, como ele está indicando onde podem ser encontradas as demais pessoas (que participaram do ataque). Além de confessar o crime, ele foi reconhecido por algumas das vítimas e testemunhas. A gente trabalha na condição de certeza da participação dele”, afirmou o delegado seccional Marcos Ricardo Parra.
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O delegado alega que o motivo do ataque ainda é investigado, mas que tem relação com uma disputa por um lote do assentamento. “Com o assentamento fechado que é, eles têm ali um entendimento de existir concordância para a admissão de pessoas novas no local. Até onde a gente apurou, essa concordância não teria acontecido nessa comercialização do terreno”, contou o delegado.
“Nero e seu grupo estariam lá para, num primeiro momento, intimidar, mas, como não intimidou e aconteceu, na verdade, uma repulsa da presença deles lá, a gente tem o nascimento de um confronto envolvendo arma branca e arma de fogo e levou a gente para esse resultado trágico de várias mortes e várias pessoas lesionadas”, completou.
Por fim, o delegado explicou que ainda não foi descoberto se o homem que foi preso queria adquirir o terreno ou se estava fazendo a negociação para um terceiro, mas que o problema teve início por causa da disputa por um lote. “A motivação foi o problema interno de pessoas do próprio assentamento, entre elas, ou seja, sem nenhuma conotação com invasão ou proteção de terra. Foi uma cobrança de posição em relação à permissão de negociar o terreno ou não. A gente não conseguiu, até agora, entender se ele era o adquirente ou se ele era o intermediário. Seja como for, ele estava lá para modificar o pensamento dos demais”, disse Parra.
Foram apreendidas armas brancas (como foices e facas) e armas de fogo, além de um carro. Tudo passará por perícia, na tentativa de identificar digitais dos criminosos. A Polícia Militar informou que reforçou o policiamento na área do assentamento.
O Olga Benário é regularizado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) há cerca de 20 anos para o MST, e cerca de 45 famílias vivem no local.
Polícia Federal
O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) determinou, na tarde deste sábado (11), que a Polícia Federal (PF) instaure um inquérito para investigar o ataque.
No ofício enviado para a Polícia Federal, o ministro em exercício, Manoel Carlos de Almeida Neto, citou que houve violação aos direitos humanos das famílias que fazem parte do assentamento.
Ainda segundo o Ministério, uma equipe da Polícia Federal - com agentes, perito e papiloscopista - foi até o assentamento neste sábado (11) para dar início às investigações sobre o crime.