Foco

Justiça manda soltar mulher após laudo descartar veneno em cajus consumidos por crianças no Piauí

Lucélia Maria estava presa desde agosto sob suspeita de ter envenenado dois irmãos da mesma família do caso do arroz envenenado; sua casa foi queimada

A justiça determinou a soltura de Lucélia Maria da Conceição, de 52 anos, que foi presa no ano passado sob suspeita de envenenar os irmãos Ulisses Gabriel da Silva, de 8 anos, e João Miguel da Silva, de 7 anos, na cidade de Parnaíba, litoral do Piauí. A decisão foi proferida nesta segunda-feira (13) após a divulgação de um laudo que descartou veneno nos cajus que foram consumidos pelas crianças. Não havia chumbinho nas frutas que ela deu às crianças, como se acreditava anteriormente. O caso ganhou reviravolta e a mulher, que estava presa desde agosto de 2024, pode ser inocentada. Sua casa foi incendiada por moradores locais.

Mais cedo, o advogado de Lucélia Maria já havia afirmado que a mulher poderia ser solta a qualquer momento após o novo laudo. O documento da justiça afirma que não foram detectadas substâncias de interesse toxicológico nas amostras analisadas pela equipe. A decisão, segundo a defesa, foi proferida pela juíza Maria do Perpétuo Socorro Ivani Vasconcelos, da 1ª Vara Criminal de Parnaíba. Com isso, Lucélia deixará o presídio a qualquer momento.

Os cajus passaram por mais uma perícia depois que um novo caso de envenenamento acometeu a família. Dessa vez, Francisco de Assis Pereira da Costa, companheiro da matriarca da família, foi preso suspeito de colocar veneno no arroz do baião de dois consumido na noite do réveillon e no dia 1º. Quatro pessoas morreram, entre elas, duas crianças.

Publicidad

Leia mais:

Padrasto é preso como principal suspeito de matar quatro familiares com arroz envenenado, no Piauí

Padrasto envenenou arroz porque odiava enteados, diz polícia

O advogado Sammai Cavalcante reforçou que o laudo comprova a inocência da mulher. Segundo ele, os casos em 1º de janeiro mostram que a chance da Lucélia ter cometido esse crime baixou a 1%, e agora com laudo pericial, não há mais muito o que abordar no caso.

Ele chamou ainda de “hipocrisia” deduzir que apenas a mulher teria em sua casa a substância apontada como tendo sido usada para o suposto envenenamento do fruto.

Em audiência de custódia, Lucélia Maria negou que tenha cometido o crime e acusou a mãe das crianças de “inventar a história” por ter desavenças com ela. No depoimento de Lucélia, ela também relatou que o veneno encontrado em sua residência era do irmão que pensou em tentar suicídio, mas acabou não usando e o material ficou na casa. De acordo com Lucélia Maria, o veneno era usado apenas para matar rato e barata.

Na época, a suspeita também acusou a mãe das crianças, Francisca Maria, que faleceu neste ano após ter sido envenenada pelo arroz, de criar a história.

O padrasto

Personalidade complexa, colecionador de livros sobre o nazismo, o padrasto da família tinha uma residência exclusiva, e sentimento de ódio pelos enteados. Essas são algumas das características, segundo a Polícia Civil do Piauí, sobre Francisco de Assis Pereira da Costa, 53 anos, preso como principal suspeito do envenenamento da própria família.

Francisco teria sido o último a dormir quando finalizada a festa de réveillon realizada pela família na madrugada do dia 1º de janeiro de 2025. No dia seguinte, conforme a polícia e relatos de outra enteada do suspeito, ele teria insistido para que fosse reutilizado o arroz, que havia sobrado da confraternização familiar. Ninguém relatou a presença de pessoas estranhas nesse período até a refeição do almoço.

Publicidad

“O alimento permaneceu em uma panela. A filha da dona Maria dos Aflitos, relatou que, a pedido do Francisco de Assis, ele insistiu para que fosse usado o mesmo arroz. Ele insistiu que ela fizesse o aquecimento para o almoço. Ela tirou da primeira panela, colocou em outra, mexeu, acrescentou água, e requentou. A segunda panela não foi encontrada. Mas na primeira panela foi encontrado o veneno (terbufós)”, relatou o delegado Abimael Silva durante coletiva de imprensa na manhã de quarta-feira (8).

O veneno também foi encontrado, de acordo com laudos do Instituto de Criminalista, no corpo de uma das vítimas e em um dos pratos da residência.

Logo após o consumo do alimento, os familiares passaram mal, até que foi registrado o primeiro óbito, de Manoel Leandro da Silva, de 18 anos, enteado de Francisco.

Segundo a polícia, com as investigações, foi descoberto que Francisco tinha um baú fechado com chave, que ele carregava em um colar, e uma residência que era de uso exclusivo dele, apenas ele tinha acesso aos locais.

Publicidad

“Ele tinha um baú do lado do fogão fechado no cadeado. Ninguém tinha acesso. O único lugar da casa possível para esconder uma coisa que ninguém saberia. Ele usava um colar com chave para ninguém ter acesso a esse baú, ele mesmo relata isso”, afirmou o delegado na coletiva.

Nos dois locais, as equipes encontraram revistas sobre o nazismo, racismo e outros temas. “Foram três livros, material tanto físico quanto digital sobre a questão do nazismo. A perícia já fez a coleta, tem material escrito para ser analisado e a gente chegar à motivação e personalidade da pessoa. Estamos diante de uma psicopatia criminal, e ele diz que não é nazista”, destacou o delegado na entrevista.

No próprio depoimento de Francisco ele declarou que tinha uma relação conturbada com os enteados, principalmente com Francisca, que morreu vítima de envenenamento. Segundo a polícia, ele prestou três depoimentos e revelou que ele tinha um relacionamento conturbado com os enteados, com quem não falava. Francisco admitiu ter ódio com relação à Francisca, mãe das crianças.

Publicidad

A polícia destacou o total desprezo dele diante dos familiares e como se referia a eles. Os enteados revelaram que ele negava até comida. Ele os chamava de “primatas”, que “viviam como tribo de índios, eram pessoas não higiênicas”.

Com relação à Francisca, esse sentimento era maior, conforme a polícia. Ele afirmou em interrogatório que não aguentava morar com ela por ser uma pessoa de mente vazia, e que chegava a sentir nojo e raiva dela. Francisco chegou a declarar que estava cansado de sustentar a família porque só ele trabalhava.

A polícia informou ainda que foi feita a coleta do sangue de Francisco para saber se ele consumiu o arroz envenenado. Algumas das testemunhas disseram que ele não teria ingerido o alimento, sendo que outras apontaram que sim. Ele mesmo apresentou contradições quando questionado sobre isso.

Publicidad

Francisco está preso temporariamente por 30 dias durante as investigações, sendo que esse período poderá ser prorrogado conforme o andamento das apurações. As investigações apontaram que ele agiu sozinho.

O primeiro óbito foi de Manoel Leandro da Silva, de 18 anos, que morreu ainda na ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A segunda, Igno Davi da Silva, 1 ano e 8 meses. A filha de Francisca, Lauane da Silva, foi a terceira vítima que não resistiu. A quarta foi Francisca Maria da Silva, de 32 anos, cujo falecimento foi confirmado na madrugada desta terça-feira (7) no Hospital Estadual Dirceu Arcoverde (Heda), em Parnaíba.

Receberam alta: Francisco de Assis Pereira da Costa, 53 anos (padrasto de Manoel e Francisca); uma criança de de 11 anos (filho de Francisco de Assis); uma adolescente de 17 anos (irmã de Manoel) e Maria Jocilene da Silva, 32 anos. Apenas uma criança, de 4 anos, segue internada no HUT. Não há atualizações do quadro de saúde dela.

Publicidad

A Polícia Civil tem um prazo de 30 dias para concluir o inquérito, enquanto aguarda os resultados das demais perícias. A confirmação do uso do terbufós, encontrada no arroz com feijão consumido pela família, foi um dos pontos-chave para a prisão do suspeito.

Siga-nos no:Google News

Conteúdo patrocinado

Últimas Notícias