O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acordou com uma má notícia nesta segunda-feira. Pesquisa Quaest aponta que o trabalho do presidente é reprovado por 49% dos eleitores brasileiros e aprovado por 47%. É a primeira vez que a desaprovação supera, numericamente, a aprovação desde o início da série histórica da pesquisa, iniciada em fevereiro de 2023. Em relação à pesquisa divulgada em dezembro de 2024, a aprovação do trabalho do presidente caiu 5 pontos, de 52% para 47%, enquanto a reprovação, que era de 47%, agora é de 49%. Pior ainda: a maior queda aconteceu no Nordeste, região que é seu reduto eleitoral histórico.
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Lá é registrada a maior aprovação do trabalho de Lula, com 60% dos eleitores o aprovando e 37% reprovando. Por outro lado, considerando a pesquisa divulgada em dezembro, onde 67% aprovavam o presidente e 32% reprovavam, o maior crescimento de rejeição do trabalho do presidente também aconteceu justamente na região Nordeste.
Para Antonio Celso Baeta Minhoto, professor da Fundação Santo André e da USCS, além de proprietário do escritório Antonio Minhoto Advogado Associados, a chave no Nordeste é o preço dos alimentos. “Está relacionada à inflação, tudo está mais caro no mercado. A reação dele foi tardia. Só agora ele fala em ações para reduzir o preço dos alimentos. E na hora em que subirem os combustíveis? Os preços estão represados e estão sendo mantidos por decisão política, mas não vai dar para segurar muito”, afirma o cientista político.
“Mas esse reduto do Lula é muito volúvel também, porque é muito circunstancial. Só que a pessoa não quer saber se o Lula está fazendo um esforço. Na ponta, nem se faz mais a piada da picanha. Picanha hoje está R$ 100 o quilo. Hoje o sujeito está preocupado se tem dinheiro para comprar acém, uma carne de segunda, que está R$ 40, R$ 45 o quilo”, sustenta Minhoto.
Para ele, uma sequência de questões estruturais explica essa baixa do presidente. “O episódio do Pix foi uma questão de má comunicação. Uma gestão absolutamente mal conduzida pelo governo. Mexer no Pix foi uma péssima ideia. É muito usado por empreendedores, profissionais liberais”, diz.
O cientista político aborda que a inflação, especialmente dos alimentos, também afetou outras regiões do país, talvez em menor escala do que no Nordeste. “Mas voltou. E está no teto da meta. Sem falar na questão dos combustíveis”, analisa.
Minhoto cita a comemoração do governo como um todo em relação à queda do dólar, mas diz que isso não aconteceu por uma ação do Lula, mas sim por medidas do presidente americano Donald Trump, que assustaram um pouco o mercado. “E no mundo inteiro”, ressalta.
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Outra questão abordada pelo especialista é de que chegou à população algo que normalmente fica no mercado: a falta de confiança no ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “As pessoas podem até vê-lo como bem-intencionado, mas ele tem um chefe extremamente perdulário, que não quer cortar gastos”, critica.
Para completar, Minhoto cita que o Brasil conseguiu uma extensão do PIB através da tributação. “Esse dinheiro todo acabou voltando à sociedade através de programas sociais. Mas isso não é sustentável. O que é sustentável é investir no setor produtivo. Porque a maior parte dos que estão no Bolsa-Família não procuram emprego formal. E para as pesquisas, quem está no programa está empregado”, diz.
“Para se criar um emprego o investimento é estimado em US$ 50 mil. O governo então achou uma lâmpada do gênio. Faz a roda do mercado girar com programas sociais, mas isso não é sustentável”, diz.
Para ele, uma notícia boa pode mudar completamente o cenário, porque pesquisa é retrato de momento e a população brasileira muda de ideia muito rápido. “Mas as tendência em médio prazo não são boas”, aposta.
“A economia pode ser o tendão de Aquiles do Lula em 2026. Se a economia estiver bem, ele está com a reeleição praticamente garantida. Agora, se ele não reverter esse quadro que estamos vivendo, é o começo de um processo complicado, que pode não só afetar a reeleição dele, mas de governadores e parlamentares aliados”, diz Minhoto.
O levantamento da Quaest foi encomendado pela Genial Investimentos e realizado entre os dias 23 e 26 de janeiro. Foram entrevistados 4,5 mil eleitores em todo o Brasil. A margem de erro é de 1 ponto percentual, para mais ou para menos. A margem de erro para o recorte por regiões é de quatro pontos percentuais para mais ou para menos.