Ana Minuto chama a atenção em qualquer ambiente. Com sorriso largo, voz firme e imponente e uma simpatia acolhedora, ela falou sobre liderança e comunicação assertiva a mais de 60 ex-detentas em evento em São Paulo.
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Este é o segundo Women Will da carreira de Ana, que também já esteve do outro lado, como espectadora, em uma das primeiras edições do projeto. Provocativa, ela iniciou a palestra afirmando que estava lá para deixar todos desconfortáveis — afinal, ninguém nunca foi mais longe permanecendo em sua zona de conforto.
A partir de dinâmicas em grupos, foi questão de minutos para que toda a plateia se enturmasse. «Quero que as mulheres saiam com a sensação de que a vida tem seus desafios, mas pode melhorar sempre, e elas são as únicas responsáveis por esta transformação. Precisamos gerar em nós a mudança que esperamos do mundo. Quando nos transformamos internamente, tudo ao nosso redor se transforma.»
Dona de seu destino
A energia contagiante de Ana inspira determinação. E ela sabe disso. Nascida em Guaianases, extremo da zona leste de São Paulo, ela descobriu desde cedo que é preciso saber se impor diante das situações da vida. «Meu pai era muito violento e, em um determinado momento, tentou abusar de mim. Esse foi o estopim para minha mãe dar um basta às agressões e colocá-lo na cadeia», conta. «Foi aí que começou o ativismo dela, ajudando mulheres vítimas de violência doméstica e a combater o racismo.»
Com o exemplo da mãe, Ana seguiu em frente. Ainda criança, já participava de ONGs, fazia trabalho voluntário, dava cursos e treinamentos. Foi professora do EJA (Educação de Jovens e Adultos), funcionária pública, costureira, telemarketing, analista de suporte. Aos 24 anos, se formou em Sistema da Informação e trabalhou na área de tecnologia por 15 anos.
Mas, com a morte da mãe, há cerca de 10 anos, decidiu que queria mudar de área. «Quando ajudava minha mãe nos projetos, perguntava se não havia nada que a gente pudesse fazer para mudar a mente das pessoas para elas serem protagonistas das suas vidas.»
Em busca dessa e de outras respostas, Ana começou a fazer um curso de coaching. «Há 10 anos, isso ainda não era moda, mas percebi que o interesse das pessoas foi crescendo e comecei a pensar em um projeto com foco na população negra e nas mulheres.» Seu objetivo era auxiliar esses grupos a se tornarem protagonistas de suas vidas, além de criar estratégias para entrar no mercado de trabalho, ou como ser um empreendedor com mais sucesso.
‘Quem veio antes da gente é exemplo’
Ana reconhece a importância que a família teve em sua vida. «Se minha mãe não tivesse virado a chave naquele momento de violência doméstica e entendido que só ela era capaz de mudar a história dela, provavelmente eu não estaria contando essa história», afirma. «É importante lembrar que quem veio atrás da gente é exemplo de resiliência e protagonismo, assim como nós devemos ser. Mas é preciso uma rede de apoio. Minha mãe só conseguiu sair desse ambiente violento porque tinha uma família, amigas, uma casa para voltar. Nós, mulheres, precisamos criar essa rede umas com as outas.»