Conforme noticiado pelo Metro UK, Ali* teve seu pedido de asilo político negado em 2019 sob a alegação de que “não há mais Talibã no Afeganistão”. No entanto, o grupo extremista voltou ao poder no domingo passado, tomando a capital do país, Cabul.
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Ali e sua família estão escondidos e temem por suas vidas. O rapaz diz que corre o risco de perseguição por conta do tempo que passou trabalhando e estudando em Londres e pelos laços de sua família com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
A casa de sua família foi alugada para a CICV por 15 anos, para que a instituição pudesse fornecer ajuda humanitária no período após a invasão norte-americana em 2001.
O rapaz informa que um vizinho, que é integrante do Talibã, acusou a ele e sua família de serem espiões estrangeiros e os advertiu de que são alvos do novo governo. “Eu só quero chorar agora. Eu estou tremendo. Já se passaram quatro dias e não dormi nem comi nada”, relata Ali.
“Minha família está escondida, não sabemos o que fazer. Meu vizinho é um combatente do Talibã. Ele costumava me dizer ‘você morou no Reino Unido por oito anos, agora você veio para cá. Você é um espião e quando o Talibã chegar, você será o primeiro alvo”, diz Ali.
O rapaz foi um dos milhares de afegãos que tentaram fugir pelo aeroporto de Cabul, no entendo ele foi recusado por não possuir um visto.
Antes de ser deportado, o rapaz tentou por quatro anos pedir asilo no Reino Unido
Ali relembrou sua batalha de quatro anos para buscar asilo no Reino Unido. Depois de se mudar para Londres em 2011 e se formar em engenharia civil, ele buscou refúgio em 2015, após uma visita a Cabul, na qual foi seguido por pessoas que acredita terem ligação com o Talibã.
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Seu pedido foi rejeitado e ele passou anos lutando contra a decisão. Em 2019 ele foi detido após comparecer a sua nomeação e deportado em seguida. Ali afirma que um funcionário do Ministério do Interior disse que ele não se qualificava para o asilo porque “o Talibã não existe mais no Afeganistão”.
Ali diz estar revoltado com o governo do Reino Unido. “Eles sabiam que uma guerra estava acontecendo e que o Talibã voltaria, mas eles me mandaram de volta à força, me deportaram. Juro que se eu morrer, a culpa é do governo do Reino Unido”.
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O governo do Reino Unido prometeu oferecer refúgio a 20.000 afegãos ao longo de cinco anos, mas neste ano aceitou somente 5.000 pedidos. Ali não acha que atende aos requisitos atuais para ser evacuado, mas se inscreveu mesmo assim. Ele também não acredita nas garantias do Talibã de que “eles não guardarão rancor” e teme um retorno aos dias em que os extremistas governaram o país com uma interpretação brutal da lei Sharia.
O jovem finaliza dizendo que ‘Ninguém se preocupa conosco. Eu culpo os Estados Unidos por abandonar o país, mas culpo o Reino Unido por abandonar a mim e a todas as pessoas deportadas”.
“Eles fugiram e agora estamos nos escondendo, vivendo uma vida que nenhum ser humano merece”, finalizou o jovem.
*O nome do rapaz foi alterado para proteger sua identidade.